A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos produzidos pelas substâncias químicas sobre seres humanos, animais e plantas. No dia a dia, estamos todos expostos a diversas substâncias presentes, em pequenas concentrações, nos produtos de limpeza, nos inseticidas domésticos, nos medicamentos, nos alimentos, na água, no ar e na poeira, por exemplo.
As pessoas que tiveram contato ou que ficaram expostas às substâncias químicas liberadas ao meio em função de acidentes envolvendo a produção, o armazenamento, o manuseio, o transporte e o descarte em vias públicas, podem se intoxicar.

Isto é, poderão sentir mal estar, tontura, ter problemas respiratórios, apresentar irritações na pele entre outros sintomas de intoxicação. As plantas e os animais também poderão ser afetados. Os efeitos nocivos dependem das características do produto envolvido na ocorrência, da quantidade vazada, do tempo de exposição e da forma de exposição (direta ou indireta), entre outras variáveis.
As pessoas expostas podem ser, por exemplo, o motorista do caminhão que transportava o produto químico, os funcionários da indústria, os responsáveis pela segurança das rodovias, técnicos de segurança, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, curiosos, interessados em saquear a carga ou o meio de transporte avariado, e jornalistas que se aproximaram do local do acidente para saber o que estava acontecendo. Por estes motivos, é de fundamental importância:

Aspectos de toxicologia humana para assistência a emergências químicas

A quantidade de pessoas afetadas por um incidente químico pode ser mínima (um indivíduo) ou maior (milhares de indivíduos), pois os efeitos de determinadas substâncias no organismo podem se manifestar tanto de imediato como tempos depois do acidente, o que depende de vários fatores tais como intensidade da exposição, tipo do produto liberado e faixa etária.
Por exemplo, no caso do acidente na indústria química que fabricava o inseticida Carbaril, em 1984, em Bhopal, na Índia, a liberação de grande quantidade de isocianato de metila gerou uma nuvem tóxica que contaminou cerca de 40 km² de área.

Estima-se que 3.800 pessoas morreram nas primeiras horas após o vazamento, além de muitos animais (vacas, búfalos, cães e pássaros), 200.000 pessoas ficaram intoxicadas e nos vinte anos seguintes, mencionam entre 20.000 e 30.000 óbitos associados aos efeitos do produto e dos resíduos perigosos gerados (Broughton, 20051 e Portal EcoDebate, 20122).

Os hospitais locais ficaram lotados de vítimas em busca de socorro e as equipes médicas nada conheciam sobre a toxicidade deste gás e sobre seus efeitos à saúde. Como consequência o tratamento foi incerto e possivelmente inadequado.

Portanto, o conhecimento das propriedades físicas, químicas e toxicológicas das substâncias químicas utilizadas na produção (indústria), no armazenamento, no manuseio, no transporte, no uso, no descarte, e inclusive nas ações de combate é essencial para a segurança das equipes de resposta e para aplicação do tratamento efetivo e rápido às vítimas durante as emergências químicas.
Sob este ponto de vista, considera-se importante que os integrantes do sistema de combate tenham conhecimentos básicos de toxicologia para a assistência de uma emergência química. Estes conhecimentos facilitarão as atividades dos profissionais que participam na assistência da emergência bem como a proteção adequada para evitar os efeitos tóxicos. Conhecer os perigos e riscos ajuda a prevenir exposições às substâncias químicas.

Depois destas e outras ocorrências, nas décadas de 1980 e 1990 surgiram documentos internacionais como a Diretiva de Seveso na Europa3 e diretrizes da Organização Panamericana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) aconselhando que as autoridades locais devessem estar preparadas para tomar parte no processo de conscientização e preparação para acidentes químicos, incluindo o intercâmbio de toda a informação importante com a comunidade e a indústria local.

Assim, os hospitais e outras instalações destinadas ao tratamento, os profissionais de saúde, os centros de informação toxicológica e os centros para emergências químicas deveriam participar neste processo.

Frente à enorme quantidade de substâncias químicas atualmente disponíveis, a pergunta que surge é: “todas as substâncias químicas são tóxicas?”. Provavelmente a melhor resposta seria: “Não há substâncias químicas seguras, mas sim maneiras seguras de utilizá-las” (TIMBRELL, 1989)4.

  1. Broughton, E. The Bhopal disaster and its aftermath: a review. Environmental Health Journal, 2005 – acessado em março/2018;
  2. Portal EcoDebate, 2012 – Acessado em março de 2018.
  3. Diretiva de Seveso – acessado em março/2018;
  4. TIMBRELL, J.A. Introduction to toxicology. Taylor & Francis, London, UK, 1989. 155pp