As ações emergenciais que são adotadas nos acidentes ambientais causados por vazamentos em postos e sistemas retalhistas de combustíveis, bem como as ações pós-emergenciais, são medidas técnicas eficientes para eliminar ou diminuir os impactos gerados pela contaminação e os riscos associados à inflamabilidade dos combustíveis automotivos vazados, as quais devem estar previamente determinadas em planos de intervenção, elaborados para tais episódios.

Essas ações são desencadeadas e implementadas pelos órgãos públicos envolvidos, nos primeiros momentos do atendimento. A responsabilidade pela realização das medidas necessárias à eliminação dos riscos é imputada ao agente causador da contaminação sob a orientação e coordenação do órgão ambiental e do corpo de bombeiros sempre considerado-se os seguintes aspectos:

  • porte do vazamento;
  • produto vazado;
  • características do cenário;
  • uso e ocupação das áreas afetadas.

As características físicas do produto ou produtos envolvidos, tais como a pressão de vapor, densidades do líquido e do vapor, solubilidade na água, limites de inflamabilidade e ponto de fulgor, permitem prever o comportamento do produto no meio, definir as técnicas mais adequadas que devem ser adotadas e, também, determinar quais equipamentos devem ser utilizados nas monitorações.

As características químicas do produto também são consideradas, uma vez que os compostos de certas misturas presentes nos derivados de petróleo servem de base para avaliar o risco à saúde pública e como critério para a seleção dos equipamentos de proteção individual adequados a serem usados pelas equipes de intervenção.

As peculiaridades dos ambientes contaminados pelo produto combustível também devem ser consideradas por ocasião da definição das técnicas a serem utilizadas para a eliminação dos riscos e, também, influenciam a escolha dos recursos materiais adequados para a descontaminação do local e o tipo de proteção das equipes envolvidas no atendimento. Como exemplos, temos os ambientes confinados, que limitam a movimentação dos equipamentos, e a topografia da área contaminada e do entorno, em função das quais, é determinado o posicionamento de barreiras físicas de interceptação da pluma de contaminação.

Isolamento de áreas sob risco
Isolamento de áreas sob risco

Uma vez que as monitorações tenham sido efetuadas e as áreas sob risco tenham sido delimitadas, procede-se ao imediato isolamento e a sinalização das mesmas, para evitar o acesso de pessoas alheias às operações de emergência e alertar para os riscos envolvidos no episódio, sendo que as áreas evacuadas podem ser ampliadas ou reduzidas em função das monitorações realizadas durante o transcorrer da operação.

Nos ambientes interiores em geral e, sobretudo naqueles com maior grau de confinamento, convém desativar todos os sistemas elétricos, inclusive os equipamentos mecânicos com princípio de funcionamento à base de queima de combustível, a fim de evitar centelhas que possam gerar a ignição dos vapores inflamáveis presentes.

O tráfego de veículos em garagens subterrâneas de edifícios também deve ser evitado, bem como qualquer outra atividade que possa gerar centelhamento por atrito, como é o caso do rompimento de pisos e paredes com ferramentas de sapa.

A abertura de caixas de inspeção e caixas de rebaixamento do lençol freático, bem como, a remoção de tampas de poços-de-visita de acesso às galerias subterrâneas, são operações críticas, para as quais uma boa forma de prevenir riscos de explosão é a utilização de neblina d’água, durante a atividade de abertura da caixa ou da galeria, para abater os vapores e evitar a geração de centelhas.

Quando do afloramento de combustíveis automotivos em qualquer ambiente, uma das primeiras medidas, é a realização do imediato recolhimento da fase líquida do produto, a fim de reduzir a exposição do produto e, por conseguinte, a taxa de evaporação, diminuindo o risco de inflamabilidade. As características físicas do produto envolvido são fatores relevantes na seleção das técnicas a serem adotadas, pois a seletividade do recolhimento está associada à miscibilidade do produto em água. Assim, produtos totalmente miscíveis, como é o caso do álcool etílico, são recolhidos juntamente com a água, pois não é possível a visualização de fases distintas. Caso contrário é o da gasolina e do óleo diesel que, não sendo miscíveis em água e por possuírem densidades inferiores à da água, formam fase líquida, distinta e sobrenadante, o que facilita a remoção seletiva do produto.

Aplicação de mantas oleofílicas em caixa de inspeção de águas pluviais
Aplicação de mantas oleofílicas em caixa de inspeção de águas pluviais

 

Nos casos em que ocorre o aparecimento de pequena quantidade de produto combustível em pequenos ambientes, tais como: caixas de captação do lençol freático existentes nos subsolos de edifícios, poços d’água tipo cacimba, caixas de inspeção de esgoto doméstico e caixas de inspeção de águas pluviais, entre outros locais, muitas vezes na forma de película iridescente ou de pouca espessura, o produto pode ser recolhido e colocado em tambores, utilizando-se baldes e mantas absorventes oleofílicas, as quais são produzidas com um material hidrófobo que possui grande capacidade de absorção de combustíveis, sendo que, após seu uso são colocadas em sacos plásticos apropriados, para posterior destinação final adequada.

 

 

 

 

 

Recolhimento de água/gasolina com caminhão-vácuo em galeria subterrânea
Recolhimento de água/gasolina com caminhão-vácuo em galeria subterrânea

 

Ocorrendo o aporte contínuo de volumes consideráveis de produto combustível nos ambientes citados, pode-se optar pela sucção do produto, através de caminhões-vácuo ou bombas de transferência, sendo que os equipamentos e veículos devem possuir características que evitem a geração de calor ou centelhas. O aterramento de todo o conjunto, veículo e bomba, para evitar fontes de ignição geradas pela diferença de potencial elétrico é fundamental. Outra medida de segurança importante, normalmente adotadas nas operações, é o apoio e acompanhamento do Corpo de Bombeiros, com o posicionamento estratégico de extintores e linhas fixas de combate a incêndio.

 

 

 

Os trabalhos de recolhimento de combustível podem ser otimizados, com a utilização de equipamentos flutuantes, específicos para o recolhimento de produtos líquidos sobrenadantes em água e conhecidos como skimmers, cuja capacidade de operação é superior aos outros métodos, existindo modelos de pequenas dimensões no mercado, com boa utilização em ambientes com restrição de espaço. Entretanto, sua principal limitação operacional refere-se às lâminas de produto sobrenadantes de espessuras muito delgadas ou iridescentes, para as quais as mantas absorventes oleofílicas são mais eficientes.

Também podem ser utilizados produtos sólidos granulados absorventes, fabricados a partir de algumas substâncias minerais, como a sílica, terras diatomáceas ou a partir de substâncias orgânicas manufaturadas, tais como turfa e celulose, ou a partir de substâncias orgânicas sintéticas, tais como espuma de poliuretano, fibras de polietileno e fibras de propileno, entre outros. Esses produtos sólidos têm a capacidade de formar uma selagem sobre a superfície do produto, reduzindo o contato com o ar atmosférico e a temperatura do ambiente, retardando o processo de volatilização. Possuem grande capacidade de adsorção e flutuabilidade na água e são hidrófobos, ou seja, não possuem afinidade com a água, somente absorvendo os hidrocarbonetos dos combustíveis. Sua utilização promove a aglutinação do produto, facilitando os trabalhos de recolhimento, até mesmo pelos caminhões-vácuo, a qual é realizada sempre que o material absorvente atinge o seu ponto de saturação.

Aplicação de absorvente granulado para hidrocarbonetos de petróleo em rede subterrânea de cabos telefônicos
Aplicação de absorvente granulado
para hidrocarbonetos de petróleo em
rede subterrânea de cabos telefônicos

 

Apesar dos hidrocarbonetos dos combustíveis serem considerados praticamente imiscíveis em água, certas frações do produto acabam ficando dissolvidas na água, razão pela qual, durante os trabalhos de recuperação da área convém realizar análises químicas orgânicas.

Nos corpos d’água superficiais são utilizadas várias técnicas, dentre as quais destacam-se: instalação de barreiras de contenção absorventes, direcionamento do produto e recolhimento com caminhões-vácuo e a aplicação de produtos sólidos absorventes.

 

 

 

 

Uma vez que os vapores inflamáveis dos derivados de petróleo possuem densidade maior que a do ar atmosférico e, portanto, acumulam-se nas partes mais baixas dos ambientes, formando atmosferas com potencial de inflamabilidade, dependendo do grau de confinamento, dificilmente ocorrerá a expulsão desses vapores, de forma natural. Assim sendo, deve-se promover o arraste dos vapores do produto, por vias mecânicas, sendo a exaustão e a ventilação por meio de equipamentos fixos ou móveis, as técnicas mais utilizadas. Os equipamentos fixos são os mais recomendados para os ambientes com grandes concentrações de vapores inflamáveis e com expectativa de descontaminação demorada em razão das grandes contaminações do aqüífero.

Exaustão de vapores inflamáveis em galeria subterrânea de esgotos
Exaustão de vapores inflamáveis
em galeria subterrânea de esgotos

Os equipamentos móveis de exaustão, por serem mais versáteis, são facilmente utilizados em diversos ambientes confinados, principalmente nos casos em que a contaminação possa ser eliminada em um menor espaço de tempo, como por exemplo, as galerias subterrâneas de águas pluviais, esgotos e de telefonia, devendo-se adotar cuidados especiais com relação à saída da tubulação do exaustor, como por exemplo: posicionar a saída da tubulação em pontos mais elevados e ventilados para promover a dispersão dos vapores para a atmosfera; realizar o abatimento dos vapores na saída da tubulação com neblina d’água; forçar a dispersão com ventiladores potentes; dentre outros critérios. O sistema elétrico ou mecânico de acionamento dos equipamentos deve ser à prova de explosão.

A presença de fase líquida de combustível no ambiente é uma limitante, pois, a exaustão ou ventilação sobre a superfície do líquido provocará o aumento da sua taxa de evaporação devido à constante renovação de ar no local, permitindo a continuidade da volatilização do produto. Por outro lado, a ventilação forçada somente deve ser utilizada em locais onde a concentração dos vapores inflamáveis estejam abaixo do Limite Inferior de Inflamabilidade (LII), já que pode ocorrer a geração de eletricidade estática pelo atrito das partículas presentes no ar ambiente, e sempre criando pontos de alívio satisfatório para a dispersão dos vapores, como por exemplo, abrindo-se as janelas e portas dos imóveis. Entretanto, não se deve realizar a ventilação forçada em redes de esgoto, uma vez que este procedimento promoverá o espalhamento dos vapores inflamáveis, com a conseqüente migração dos mesmos para o interior das edificações, através das suas redes hidráulicas.

Os ambientes confinados afetados devem ser drenados e, em seguida, lavados com água sob alta pressão, para reduzir a impregnação do produto nas paredes, inclusive com a utilização de detergentes biodegradáveis, para facilitar a remoção do produto. Se o ambiente for estanque, como por exemplo as caixas subterrâneas de passagem de cabos de telefonia, recomenda-se a sucção da água e do contaminante. Todo os resíduos gerados devem ter destinação final adequada, evitando-se assim o seu despejo nas galerias de águas pluviais ou de esgoto, o que, evidentemente, ampliaria a contaminação.

Aplicação de líquido gerador de espuma em galeria subterrânea de esgotos
Aplicação de líquido gerador
de espuma em galeria
subterrânea de esgotos

 

Outra técnica largamente empregada para evitar o acúmulo de vapores inflamáveis em ambientes confinados, sobretudo nas galerias subterrâneas, é a aplicação de líquido gerador de espuma. Uma vez preenchido todo o ambiente, evita-se a continuidade da evaporação pela criação de uma barreira física, bem como eliminam-se os espaços passíveis de serem ocupados pelos vapores. O inconveniente dessa ação é a durabilidade da espuma, em torno de 8 horas, que torna necessária sua constante renovação até a solução final do problema.

 

 

 

Conjuntamente com as outras medidas emergenciais, a CETESB tem exigido outras ações do suposto ou supostos responsáveis pela contaminação evitar a continuidade do aporte do combustível para o ambiente

Dentre essa ações, destacam-se:

 

Remoção de tanque avariado
Remoção de tanque avariado

– eliminação da fonte do vazamento;
– interceptação da pluma de contaminação;
– instalação de barreiras físicas de contenção.

A eliminação da fonte do vazamento de combustível compreende os reparos ou as substituições necessárias, sendo que se tratando de tanques, recomenda-se o esvaziamento e, em seguida, desativação e remoção. Havendo impossibilidades técnicas para a remoção, podem ser desativados definitivamente, mantidos enterrados no local e preenchidos com material inerte.

A escavação de trincheiras ao longo do possível caminho preferencial do produto combustível no subsolo, apresenta resultados positivos na interceptação do produto, pois impede a continuidade da migração para os ambientes que se almeja proteger.

Para a realização de tais escavações deve ser consultado um especialista na área de remediação de solos contaminados, bem como devem ser adotados procedimentos de segurança para os envolvidos nos trabalhos e para as áreas circunvizinhas.

 

Escavação de trincheiras para interceptação de pluma de contaminação e remoção do solo afetado
Escavação de trincheiras para interceptação de pluma de contaminação e remoção do solo afetado

Os equipamentos e materiais utilizados, inclusive os pesados, devem ser, preferencialmente, à prova de explosão, ou que as suas partes, sujeitas a fontes de ignição, sejam mantidas distantes das atmosferas inflamáveis.

A implantação de um sistema de ponteiras, com bombeamento à vácuo, normalmente provoca o rebaixamento do aqüífero freático e, em conseqüência, a reversão do fluxo preferencial do lençol, com a atração da pluma de contaminação, bem como a implantação de uma linha de poços de bombeamento, entre a origem da contaminação e os demais pontos afetados, cujos efeitos, dependendo do porte e das características hidrológicas e geológicas da área, são bem eficientes. Tais ações também devem ser acompanhadas por especialistas em remediação de áreas contaminadas.

A instalação de barreiras físicas que impeçam a continuidade da migração do produto infiltrado no subsolo, como por exemplo, o envolvimento externo das redes subterrâneas ou das caixas ou poços de visita de acesso às mesmas com mantas impermeáveis, resistentes aos combustíveis automotivos, também surtem efeitos satisfatórios. Outro método é o bloqueio dos condutos das redes subterrâneas, evitando a ampliação das áreas afetadas e restringindo o risco.

 

 

Bloqueio de dutos telefônicos em caixa de passagem contaminada por gasolina
Bloqueio de dutos
telefônicos em caixa de passagem contaminada por gasolina

Esses procedimentos, em sua maioria, são paliativos e visam a eliminação ou a redução imediata de riscos acentuados, não sendo encarados como solução da contaminação ocorrida, para a qual, são necessárias medidas de médio e longo prazo, que possibilitem a remediação do local e das áreas adjacentes impactadas e seu restabelecimento às condições normais. Caso ocorra o aumento das concentrações de vapores e dos indices de inflamabilidade, os procedimentos são imediatamente revistos, em função do cenário e dos resultados das monitorações realizadas e, se necessário, diferentes procedimentos emergenciais podem ser aplicados, simultaneamente.