A vigilância ambiental é o processo de monitoramento e análise contínuo de fatores ambientais que podem afetar a saúde humana e o ecossistema. Essa prática envolve a coleta sistemática de dados sobre a qualidade da água, do ar, do solo pela análise de substâncias químicas, agentes biológicos e físicos que possam representar riscos à saúde pública das populações e do meio ambiente. A vigilância ambiental desempenha um papel fundamental na abordagem de “Uma Só Saúde” (One Health), que reconhece a interconexão entre saúde humana, animal e ambiente, e enfatiza a necessidade de uma colaboração multidisciplinar para alcançar resultados sustentáveis em saúde pública, considerando que as doenças e os riscos para a saúde podem surgir da interação entre esses três elementos. Essa visão integrada e abrangente é crucial para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias mais eficazes para proteção da saúde coletiva.

Vigilância baseada em águas residuais

A vigilância baseada em águas residuais é uma ferramenta capaz de analisar padrões e alterações na saúde pública em nível comunitário. Por meio da análise de marcadores químicos e biológicos presentes nos esgotos, é possível monitorar fatores comportamentais e físicos que influenciam o bem-estar e a saúde das populações. Essa abordagem tem sido utilizada, por exemplo, para estimar o consumo de drogas ilícitas, de álcool e de produtos farmacêuticos, além de monitorar a circulação de microrganismos causadores de doenças e a resistência a antibióticos.

A análise dessas amostras permite identificar surtos de doenças, funcionando como um sistema de alerta precoce, monitorar a eficácia de intervenções de saúde pública e avaliar variações temporais e regionais. Por meio dessa ferramenta, é possível realizar uma avaliação mais precisa das tendências de saúde em longo prazo, contribuindo assim para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e direcionadas.

Vigilância ambiental de doenças infecciosas

O monitoramento de microrganismos patogênicos por meio da vigilância ambiental permite obter dados indicadores da circulação de doenças praticamente em tempo real, sendo uma ferramenta complementar aos estudos epidemiológicos baseados em testes clínicos. Ao contrário das técnicas convencionais de vigilância epidemiológica, o monitoramento ambiental não depende do acesso a testes clínicos, além permitir a detecção não somente de indivíduos sintomáticos, mas também daqueles que não apresentam sintomas. Pode ser implantado em muitas comunidades com ou sem acesso a sistema de coleta de esgoto, além de ser uma abordagem anônima e não invasiva para monitorar a circulação de doenças.

A vigilância ambiental visa analisar águas residuais ou outras amostras ambientais para detectar a presença ou a ausência de microrganismos ou de frações de suas estruturas. Por outro lado, a vigilância clínica inclui análise de dados de testes diagnósticos e observação de sintomas, que podem ser influenciados por inúmeros fatores sociais e econômicos, como falha no acesso ou na sensibilidade dos testes diagnósticos e do sistema de saúde. Por isso a combinações de ambos os métodos de vigilância provaram ser úteis para o planejamento, implantação e avaliação de práticas de saúde pública.

Amostragem em rios da Região Metropolitana de São Paulo impactados por esgoto doméstico