A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, inaugurou em 29.05, o primeiro laboratório público do país com capacidade para analisar dioxinas e furanos e um dos únicos equipados com espectrômetro de massa de alta resolução, utilizado para a análise mais refinada desses poluentes.

Para o secretário estadual de Meio Ambiente, Xico Graziano, a unidade representa um avanço na área de tecnologia ambiental, oferecendo autonomia na detecção desses dois grupos de poluentes que integram a lista das substâncias orgânicas persistentes, conhecidas como POPs, produtos altamente tóxicos e cancerígenos. “Com este laboratório demos um salto de qualidade, retomando a liderança na área de tecnologia ambiental e causando um impacto significativo na gestão do conhecimento”, afirmou o presidente da agência, Fernando Rei.

Segundo Maria Inês Sato, gerente do Departamento de Análises Ambientais, este laboratório aumenta a capacidade analítica da empresa e poderá prestar serviços a todo o país e à América Latina.

As dioxinas e furanos são geradas pela combustão incompleta – incineração de resíduos perigosos e hospitalares, queimadas, queima de madeira e carvão -, e durante a manufatura de certos pesticidas – compostos clorados – e de processos resultantes da produção de papel. Essas substâncias também são encontradas em emissões veiculares – principalmente as de veículos a diesel – e fumaça de cigarro.

O laboratório foi montado com recursos do Ministério do Meio Ambiente e do governo estadual, totalizando 1,4 milhões de reais. O espectrômetro de massa de alta resolução, com valor aproximado de 800 mil dólares, foi doado pelo governo japonês, através de um programa de cooperação internacional.

Os doze sujos

As dioxinas e furanos integram a lista dos chamados “doze sujos”, a qual segundo a deliberação da última Conferência das Partes – COP4 -, da Convenção de Estocolmo, ocorrida no início desse mês, passou a contar com mais nove novas substâncias poluentes. A Convenção, assinada em maio de 2001 por 100 países, entre os quais o Brasil, visa controlar o uso, produção e liberação dos compostos orgânicos persistentes os quais são encontrados nos cinco continentes e na Antártida e podem ser transportados pelo ar, água e espécies migratórias.

Além das dioxinas e furanos, a Convenção trata de outras dezenove substâncias químicas perigosas que requerem ações internacionais, dez elegidas em 2001 juntamente com as dioxinas e furanos – bifenilas policloradas (PCBs), DDT, clordano, heptacloro, hexaclorobenzeno (HCB), toxafeno, aldrin, dieldrin, endrin e mirex; e nove elegidas em 2009 na COP4: alfa hexaclorociclohexano (HCH); beta hexaclorociclohexano (HCH), hexabromobifenil (HBB), clordecone, pentaclorobenzeno (PeCB), perfluorooctanossulfonatos (PFOS), Pentabromodifenil eter (pentaBDE), C-octaBDE; lindano.

O conhecimento sobre dioxinas e furanos ainda é escasso no Brasil, havendo necessidade de aporte de informações. Um estudo com resultados parciais, feito em 2002 pelo Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública – USP, através de amostras coletadas em três áreas distintas na cidade de São Paulo, mostrou que os níveis na capital paulista merecem atenção.

Em 1995, a CETESB já havia realizado um estudo em conjunto com a Universidade de Tübingen, Alemanha, visando identificar possíveis fontes de dioxinas e furanos, realizando coletas de ar, solo, folhas, cinzas e deposição de solo. As amostras foram coletadas na região de Araraquara, área sujeita à poluição decorrente das queimadas de palha de cana-de-açúcar. Também foram coletadas amostras na cidade de São Paulo, afetada, sobretudo, pelas emissões de fontes veiculares, e em Cubatão, região intensamente industrializada.

As análises, realizadas na Alemanha, mostraram resultados aumentados de dioxinas, furanos, PCBs e sobretudo de HPAs nas amostras coletadas na pluma de fumaça das queimadas, em comparação com os valores encontrados na atmosfera urbana de Araraquara. As concentrações de dioxinas, furanos e PCBs na atmosfera urbana de Araraquara, São Paulo e Cubatão situaram-se, naquela ocasião, na mesma faixa de valores encontrados em cidades européias.

Para identificar os principais emissores é comum elaborar um inventário de fontes. Muitos dos inventários existentes não foram feitos a partir de medição das emissões, mas estimados com base em fatores de emissão estabelecidos em documento da UNEP denominado Toolkit. Com essa ferramenta, os países identificam as atividades que constituem fontes de dioxinas e furanos e aplicam um valor médio de emissão determinado pelo Toolkit, chegando aos valores estimados.

Fontes de emissão

De acordo com dados publicados no site da International POPs Elimination Network – IPEN, obtidos pela aplicação do Toolkit, a principal fonte de emissão de dioxinas no mundo seria proveniente da combustão não controlada (29%), seguida da incineração (17%), aterros e incêndios (12%) e siderurgia/metalurgia (11%). As principais críticas a esses inventários, estão associadas com a estimativa de emissão de algumas fontes cujas avaliações são extremamente complexas e variáveis e que por esta razão podem estar sendo super ou subestimados. As fontes estão compiladas no relatório “Estimando as liberações e priorizando as fontes de dioxinas na Convenção de Estocolmo”, disponível no site IPEN (www.ipen.org). Ainda segundo Relatório Regional da UNEP, publicado em 2002, sobre a avaliação de POPs na região da América Latina e Caribe, uma estimativa da emissão total regional de dioxinas e furanos no ar mostrou que o Brasil e a Argentina seriam os responsáveis por 45% e 25% dessas emissões na região, respectivamente.

As atividades desse laboratório serão também parte integrante do trabalho da CETESB como Centro Regional da Convenção de Estocolmo. A nomeação da CETESB foi ratificada na última Conferência das Partes (COP4), como Centro Regional da Convenção para os próximos quatro anos juntamente com os Centros Regionais da China, Kuwait, Republica Tcheca, México, Panamá, Uruguai e Espanha.

O laboratório recebeu o nome de “Otacílio Alves Caldeira”, em homenagem ao primeiro presidente da CETESB. Sua esposa, Célia Caldeira, que esteve acompanhada de seus filhos José Geraldo, Antônio Carlos e Luiz Fernando Caldeira, prestigiou a inauguração. O evento contou, ainda, com as presenças de Suzana Kahn, secretária de Mudanças Climáticas do Ministério de Meio Ambiente, e Mauro Inove, coordenador de projetos da Divisão de Meio Ambiente Urbano e Infraestrutura do Japão – JICA.

Texto
Renato Alonso