Nos últimos dois anos, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB viveu profundas transformações em sua estrutura organizacional, incorporando atribuições de outros órgãos e assumindo novas responsabilidades, transformando-se na única porta de entrada para os pedidos de licenciamento ambiental.

Foi, sem dúvida, a mudança mais radical experimentada pela instituição ao longo de sua história de mais de quatro décadas, atendendo a uma orientação do Governo do Estado, que incluiu a unificação do licenciamento na CETESB entre as suas prioridades na área ambiental. Isso demandou um rearranjo interno igualmente profundo, para a adequação das áreas para atender às novas demandas.

A Divisão de Qualidade do Ar, da Diretoria de Tecnologia, Qualidade e Avaliação Ambiental, é uma dessas áreas. Com atribuições de monitoramento, amostragem e análise da qualidade do ar de todo o Estado, além de previsão meteorológica e interpretação de dados, a divisão, refletindo a própria CETESB, também experimentou uma grande expansão.

Depois de anos operando com 31 estações automáticas, a maioria localizada na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, a rede se estendeu para o Interior do Estado beneficiando especialmente a região Centro – Oeste e Noroeste onde o fortalecimento do agronegócio passou a exigir mais atenção da agência ambiental.

“Em 2008 e 2009, ampliamos o monitoramento da qualidade do ar, aumentando o número de estações automáticas de 31 para 42”, informa a química Maria Helena Martins, gerente da Divisão de Qualidade do Ar. A rede existe desde 1973, quando foram instaladas as estações manuais para medir a concentração de dióxido de enxofre e fumaça na RMSP.

Muitos aperfeiçoamentos foram feitos ao longo do tempo, destacando-se a instalação de 22 estações automáticas na RMSP e em Cubatão, em 1981, que possibilitaram avaliar em tempo real parâmetros como dióxido de enxofre, partículas inaláveis, ozônio, óxido de nitrogênio, monóxido de carbono e hidrocarbonetos totais, além de dados como direção e velocidade do vento, temperatura, umidade relativa do ar e pressão atmosférica.

Em 1996, a rede passou por uma grande reformulação, com a aquisição de equipamentos novos e a atualização do sistema de gerenciamento de dados. Quatro anos depois, foi ampliada com a instalação de estações em Paulínia, São José dos Campos, Sorocaba e Campinas. Mas o grande salto ocorreu a partir de meados de 2008, com a inauguração de doze novas estações.

Foram escolhidos municípios como Bauru, Jaú, Araçatuba, Presidente Prudente, Marília e outros, na região Oeste e instaladas estações onde a CETESB dispunha de dados sobre a qualidade do ar, levantados por meios de estações móveis ou manuais, que apontaram a necessidade de um monitoramento mais sistemático, como Ribeirão Preto, Jundiaí e Piracicaba.

Fernando Rei, presidente da CETESB, salienta que à expansão da rede telemétrica é um suporte tecnológico estratégico de descentralização da companhia e da gestão ambiental de novos polos urbanos e industriais, particularmente relacionados à expansão das atividades do agronegócio.

Lúcia Guardani, também química, gerente do Setor de Telemetria, revela que “temos dados relativos a um ano de coleta, mas ainda é pouco para fazermos um diagnóstico ambiental preciso da situação das novas regiões monitoradas”.

A técnica, no entanto, acredita que a possibilidade de acesso a tais informações faz com que a comunidade passe a se interessar pelos problemas ambientais locais. “Em longo prazo as estações nos fornecem informações mais abrangentes sobre as concentrações de poluentes que podem ser correlacionadas com dados como temperatura, direção dos ventos, chuvas, época do ano e outros”, explica.

Maria Helena lembra que esses dados oferecem suporte para as áreas de saúde, embasando estudos epidemiológicos, contribuem para o desenvolvimento de programas para o controle das emissões veiculares e subsidiam as ações de controle das emissões atmosféricas industriais e os processos de licenciamento visando reduzir os impactos sobre a qualidade do ar.

Foi por esse motivo que a divisão se empenhou em criar mecanismos para que a sociedade tenha acesso facilitado a essas informações. O resultado foi a criação do Sistema de Informações de Qualidade do Ar, batizado como Qualar, que integra as informações das redes manuais e automáticas, e as disponibiliza no site www.cetesb.sp.gov.br.

O sistema possibilita gerar relatórios com informações de valores médios diários, mensais e anuais de dados de qualidade do ar e de parâmetros meteorológicos, além de outras informações, tais como configuração das redes e caracterizações das estações. Esta ferramenta é inovadora, pois permite visualizar gráficos comparativos dos poluentes e parâmetros meteorológicos, além de possibilitar a exportação de dados da série histórica, desde 1998.

Fernando Rei frisa que foram muitas as mudanças na área de qualidade ambiental, no capítulo relativo ao ar, e destaca o Qualar, “que além de democratizar ainda mais o acesso a informação, é um sistema com um grande potencial de impulsionar pesquisas e melhorar estudos de qualidade”.

A modernização do sistema de monitoramento telemétrico não ocorreu somente nas estações. O sistema central de processamento dos dados além do prédio onde se localiza o Setor de Telemetria também passou por reformas. O que ressalta a vista do visitante é o Painel de Gerenciamento da Rede de Monitoramento, um grande telão que permite visualizar instantaneamente a situação da qualidade do ar no Estado, contando, inclusive com sistema de alarme de ocorrências, que avisa quando alguma estação apresenta problemas, como dados suspeitos ou o mau funcionamento dos coletores de amostras.

O painel oferece dados da qualidade do ar a cada dez minutos nos dois mapas que mostram as estações localizadas na Região Metropolitana de São Paulo e no Interior.

A divisão conta também com o Setor de Amostragem e Análise do Ar que opera a rede manual e realiza medições de poluentes específicos. Em 2009, a rede contou com 47 pontos fixos de monitoramento de parâmetros como material particulado, resultante, entre outras fontes, da queima de palha de cana-de-açúcar, em Municípios como São Carlos e Ribeirão Preto, ou gerado pelas indústrias do pólo cerâmico, como Santa Gertrudes.

Um importante estudo está sendo conduzido pela rede manual, de forma sistematizada desde 2000, na Região Metropolitana de São Paulo, para avaliação da concentração de material particulado com diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 micra, ou 2,5 milésimo de milímetro. Partículas nesta fração de tamanho são potencialmente agressivas à saúde e alguns países já dispõem de padrão de qualidade do ar estabelecido para este parâmetro.

Ana Cristina Pasini da Costa, diretora da área, ressalta que a boa base de dados que a CETESB possui permite uma alta racionalização das ações de fiscalização, controle e avaliação de impactos, atuando com maior rigor em áreas já saturadas como preconiza a própria legislação.

Outro Setor, que integra a divisão, é o de Meteorologia e Interpretação de Dados responsável pela elaboração diária do boletim de previsão das condições meteorológicas para a dispersão dos poluentes para as próximas 72 horas, além de uma previsão qualitativa sobre a qualidade do ar para as próximas 24 horas.

Os dados de concentração dos poluentes associados à previsão das condições meteorológicas de dispersão para as próximas 24 horas constituem a base técnica para eventual declaração dos estados de Atenção, Alerta e Emergência.
“Para aprimorar o desempenho das atividades do Setor está em fase de implementação um sistema de aquisição e visualização de dados e produtos meteorológicos em tempo real e, em parceria com instituição de pesquisa, está sendo desenvolvido um modelo de previsão de qualidade do ar”, relata a meteorologista Clarice Muramoto, gerente do Setor.

Todos os dados gerados pelas redes automática e manual são consolidados pelo Setor de Meteorologia e Interpretação de Dados, que analisa e interpreta as informações coletadas ao longo do ano, compulsando-as com as das séries históricas, construindo um documento fundamental para a compreensão do comportamento da qualidade do ar no Estado. Esse documento é publicado todos os anos na forma de relatório e se encontra, também, disponível no site da CETESB.

Texto
Newton Miura

Fotografia
José Jorge