Técnicos relataram suas experiências, pela CETESB, no continente branco e frio.

O “Alô, CETESB!”, de 21/10, falou sobre “a CETESB na Antártica”. Pois é, para quem não sabe, a CETESB atua também naquele que é considerado o mais inóspito dos continentes do planeta, possuindo mais de 90% do seu território – maior que a Oceania e a Europa, ou um Brasil e meio – coberto de gelo.

O que a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo faz lá? Antes de mais nada, conforme observou a diretora-presidente da CETESB, Patrícia Iglecias, a Antártica não tem países, nem população nativa. “Ou seja, pertence a cada um de nós, às presentes e futuras gerações, como um direito transindividual. As atividades realizadas na área do continente são planejadas e executadas de forma a limitar impactos negativos sobre o meio ambiente local, bem como danos aos ecossistemas dependentes e associados”. Segundo ela, essas orientações estão contidas no Protocolo de Madri, assinado em 1991, pelos países signatários do Tratado da Antártica.

Assim, o Brasil tem adaptado suas atividades às regulamentações desse protocolo e trabalha comum manejo exemplar ambiental na base brasileira no continente – estação Comandante Ferraz –, que inclui o tratamento de resíduos e a retirada de todo o lixo produzido. Aí é que entra a CETESB…

Em 2012, a estação, localizada na chamada Baía do Almirantado, foi destruída por um incêndio, que provocou, entre outros prejuízos, a contaminação do solo. A CETESB, que é referência no tema de áreas contaminadas, foi então convidada pelo Ministério do Meio Ambiente, para contribuir na elaboração do plano de gerenciamento ambiental e mais tarde com o plano de intervenção para a descontaminação do terreno.

Até a entrega da nova estação, que se deu no início de 2020, foram oito campanhas anuais, feitas por técnicos do Departamento de Áreas Contaminadas da CETESB, incluindo coletas de amostras e orientação de trabalhos de investigação. Para falar da verdadeira aventura, desbravando o continente gelado, que incluiu participar de operações enfrentando temperaturas em média abaixo dos 2°C, a presidente entrevistou o técnico Jessé Soares Alves e a engenheira química Danielle da Silva Martins, do Setor de Avaliação e Auditoria de Áreas Contaminadas da Companhia.

Ambos contaram dos percalços, emoções e desafios se iniciando a partir da viagem até a Antártica, passando pela integração com equipes da Marinha, Ministério do Meio Ambiente, Força Aérea Brasileira e Pró-Antar. O roteiro de ida inclui o Rio de Janeiro, Pelotas (RS), Punta Arenas (Chile) e o “Triângulo das Bermudas”, antes de atingir o continente gélido. Só essa parte inicial da viagem, dependendo das condições climáticas, pode chegar a oito dias.

Num primeiro momento, como contaram, por conta do desmonte da estação destruída, com todos os seus resíduos, a saga cetesbiana começou com a ida de técnicos da área de Emergência Química e de Análise de Riscos, para orientar e acompanhar as primeiras providências necessárias, a que se seguiram amostragens de solo e de água, entre outros trabalhos. Posteriormente, outros tipos de amostragens e monitoramentos foram efetivados, inclusive do ar.

Comentaram sobre como se desenvolve o gerenciamento de áreas contaminadas e suas etapas sucessivas, como a avaliação preliminar, a investigação confirmatória, a investigação detalhada e, na sequência, o plano de intervenção, propriamente dito, que no momento se encontra em fase de detalhamento. E, futuramente, o monitoramento para encerramento, que conclui o trabalho.

Enfim, falaram, das trocas de experiências, parcerias e dos apoios mútuos, com equipes de outros países, em especial, Polônia e Peru, com estações vizinhas à brasileira. E puderam compartilhar, ainda, do valor e da importância dos convívios e das oportunidades, pessoais e profissionais, que tiveram, ao participar dessas campanhas técnicas na Antártica, e de como isso tem proporcionado experiências posteriores, incluindo intercâmbio e convites para discorrer sobre o tema.

Texto: Mário Senaga

Revisão: Cristina Leite