Com duração de três dias, o 32º encontro técnico AESabesp contou com participação da diretora-presidente da CETESB.

“Economia circular e o futuro mais sustentável” foi o tema da mesa redonda da qual a diretora-presidente da CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, Patrícia Iglecias, participou no terceiro e último dia do 32º Encontro Técnico AESabesp – Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente, em 16/09, que em 2021 teve como tópico “O Saneamento Ambiental no Mundo em Transformação”.

A dirigente da Companhia Ambiental considera a economia circular internalizada em nossa rotina, “mas precisamos avançar nas políticas públicas, por isso, a CETESB trabalha com diversos focos que envolvem um futuro mais sustentável. Inclusive, temos de repensar o uso da água, um tema a ser incluído nesse conceito”, pondera.

Dentro desse universo, a dirigente selecionou quatro temas para apresentar aos participantes: Logística Reversa, Compostagem, Aplicação da Vinhaça e Aproveitamento Energético de Resíduos.

Segundo ela, a logística reversa orienta o retorno de produtos e embalagens ao setor empresarial, proporcionando uma série de benefícios ao oferecer canais de retorno dos resíduos pós-consumo para a indústria, reduzindo o volume destinado a aterros e ampliando o uso de material reciclado, consequentemente, diminuindo o uso de matéria-prima virgem.

“O Estado de São Paulo é pioneiro na implementação da logística reversa no país e na inclusão como condicionante de licenciamento, conforme a Resolução SMA 45/2015. A partir de 2021, todos os empreendimentos devem estabelecer metas que avançam no decorrer dos anos, seja no licenciamento ou na renovação de licença. Esse modelo vem sendo seguido por outros Estados”, afirma.

Como resultado dessa política, aproximadamente cinco mil empresas do Estado operam com esses objetivos. Os próximos passos incluem atualização da Decisão de Diretoria nº 114/2019 para vigência no período 2022 – 2025 e o desenvolvimento do SIGOR Logística Reversa, que vai aprimorar e agilizar a troca de informações e análises de planos e relatórios anuais.

Ao abordar a questão da compostagem de resíduos sólidos urbanos, Patrícia Iglecias citou o caso da Usina de Compostagem de São José do Rio Preto, que tem 70% do volume recebido considerado rejeito, sendo 8% recicláveis e 22% de resíduo orgânico cru. “A ausência de separação de resíduos orgânicos na fonte reduz a qualidade do composto gerado. Esse é um dos desafios para que o composto possa ser utilizado na agricultura.”
Segundo ela, a Resolução SIMA 69/2020 dispõe sobre a dispensa de licenciamento ambiental das atividades de compostagem de resíduos orgânicos compostáveis de baixo impacto ambiental, sob condições determinadas. Dessa forma é possível promover a valorização dos resíduos orgânicos compostáveis e atender objetivos das políticas de resíduos.

Quanto a destinação da vinhaça, a presidente afirma ser uma grande demanda do setor sucroenergético. “Aquilo que era um problema para os corpos d’água, se tornou um valor agronômico e pode ser aplicado no solo, desde que sejam seguidos padrões técnicos. Nesse sentido, temos de ficar atentos aos avanços tecnológicos para aprimorar e revisar as normas.’

O aproveitamento energético de resíduos, segundo ela, é uma alternativa importante porque contribui para agenda do clima. “O uso de combustíveis derivados de resíduos reduz a emissão de GEE – gases de efeito estufa. Caso não sejam aproveitados, teremos prejuízo no compromisso que o Brasil assumiu no Acordo de Paris.”

Para alcançar esses objetivos a presidente cita duas resoluções SIMA: a 47/2020 e a 84/2021, que definem as características mínimas dos resíduos sólidos passíveis de serem utilizados e estabelece as condições para o recebimento dos resíduos, desde que tenham ganho de energia comprovado e tenham separação prévia para encaminhamento à reciclagem.

“Nosso regramento obedece a lógica da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O objetivo não é incinerar e nem eliminar catadores. O aproveitamento energético amplia a vida útil dos aterros e reduz a extração de recursos virgens, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa nos processos industriais.”

Negócios

Segundo José Portugal, membro da diretoria corporativa e da comissão de sustentabilidade da Sabesp, a ideia central da economia circular é criar um ciclo produtivo sustentável. “Como referência devemos imitar a própria natureza, onde tudo pode ser reaproveitado. Esse processo ocorre em três níveis: macro, meso e micro.”

Ele afirma que no modelo de negócio circular a criação de valor tem como foco a integração nos impactos financeiros, ambientais e sociais. “Na cadeia de suprimentos as empresas e instituições operam em rede, numa relação de colaboração e co-criação. As transações envolvem, além do dinheiro, bens e serviços, a troca por energia, resíduo, tempo etc.”

Nesse mercado, ele afirma, os indicadores de sucesso como custo-benefício, incorporam valores financeiros e não-financeiros. “Ao falarmos de custos, temos a transformação de resíduos em insumos e matérias-primas, o que propícia menos gastos.”

Portugal diz que quem fica fora desse mercado incorre em risco de perda de reputação, perda de mercado, baixa atratividade de investidores e risco de crédito. “Entre 2018 e 2019, 60% dos investimentos realizados na União Europeia e 40% realizados nos Estados Unidos estavam relacionados a temas ambientais.”

A economia circular é o caminho necessário para o ESG – Environmental, Social and Corporate Governance/Governança Ambiental, Social e Corporativa. “A economia circular está no coração do índice de sustentabilidade da bolsa de valores brasileira. Por meio dessa avaliação é que se poderá frequentar o rol de empresas de boa reputação.”

Água

Outro participante da mesa foi o diretor de assuntos governamentais e parcerias estratégicas da WEF – Water Environment Federation, Claudio H. Ternieden, que contou sobre o trabalho da sua organização.

“Nós oferecemos educação técnica e treinamento para milhares de profissionais que atuam para manter a qualidade da água. Nosso objetivo é conectar esses trabalhadores e aumentar sua consciência sobre o valor desse líquido.”

Claudio diz que o conceito de economia circular ganha força no setor de água. “Temos o ReNEW Water Project que cria um chamado público à ação, para acelerar a recuperação de recursos a fim de alimentar e desenvolver uma economia circular em nossas comunidades.”

Segundo ele, o projeto incentiva as concessionárias a buscarem a recuperação de recursos como forma de melhorar as operações, gerenciar riscos e aumentar a sustentabilidade. “Para atingir as metas temos de trabalhar junto com governo, área privada, sociedade civil e demais cidadãos.”

Encontro técnico

O evento realizado entre 14 e 16/9, foi promovido pela AESabesp – Associação dos Engenheiros da Sabesp. Considerado o maior acontecimento na área de saneamento da América Latina, o encontro ocorreu concomitantemente com a FENASAN – Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente.

A cada edição, conta com mais de 20 mil participantes, entre visitantes da feira e congressistas. O público engloba executivos, técnicos, empresários, estudantes, gestores, pesquisadores, acadêmicos e interessados no avanço tecnológico empregado no setor de saneamento.

Os participantes têm a oportunidade de trocar informações e acompanhar a demonstração de produtos e tecnologias empregadas no tratamento e abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais, análises laboratoriais, adução, abastecimento, sistemas de coleta, disposição final e manejo de resíduos sólidos, apresentados por fabricantes e fornecedores de materiais e serviços do setor de saneamento e segmentos conexos.

Texto: Cris Olivette
Fotos: José Jorge Neto