CETESB faz webinário com especialistas para expor os principais pontos de estudo sobre aquecimento global.
Dois fatores motivaram a CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo a promover, em 30/9, o evento virtual “O novo relatório do IPCC sobre a ciência do clima: desafios e oportunidades para combater a mudança do clima.” O primeiro foi o lançamento, em 9/8, do sexto relatório do Grupo de Trabalho I do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, que trata especificamente das causas do aquecimento global.
O outro fato é a aproximação da COP 26 – 26ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima, a ser realizada em Glasgow, na Escócia, em novembro próximo, na qual a diretora-presidente da agência ambiental paulista, Patrícia Iglecias deve comparecer.
Responsável pela implementação do Acordo Ambiental São Paulo – iniciativa que convida empresas, associações comerciais e gestores municipais a aderirem, voluntariamente, a compromissos de redução de emissão de gases de efeito estufa para conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C –, cabe à CETESB difundir permanentemente a temática, com o objetivo de ampliar a conscientização de todos no combate ao aquecimento global.
“O Acordo começou com 55 empresas aderentes em 2019, hoje são mais de 750, mostra de que o setor privado reconhece a necessidade de ações para combater as mudanças climáticas”, destacou a dirigente.
Como mediadora do encontro, Patrícia ressaltou que os participantes são referência nesse tema. “Assim como esses especialistas, a CETESB também é referência no controle ambiental em nosso país e na América Latina e cumpre seu papel de liderança ao realizar esse evento, para que possamos ouvir, entender e tomar as devidas ações.”
A assessora da presidência da CETESB e especialista na temática, Josilene Ferrer, lembrou que o IPCC é uma organização que aglutina cientistas do mundo todo. “Eles dão sustentação para a ciência do clima e base teórica para iniciativas tão importantes para a humanidade como a Convenção do Clima, Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris.”
Pesquisadora titular aposentada do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, vice-presidente do IPCC, Thelma Krug parabenizou a CETESB pela realização do encontro, que possibilita dar maior transparência ao tema. “O relatório deixa evidente a necessidade de uma governança inclusiva, envolvendo todos os níveis de governos, setor privado, sociedade civil e povos indígenas. Não podemos fechar os olhos, é importante que todos saibam que está na mão de cada um de nós o combate ao aquecimento global, a responsabilidade é compartilhada”, enfatizou.
O professor do Instituto de Física da USP, membro do Programa FAPESP de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais e autor-líder do capítulo 6 do IPCC, Paulo Artaxo deixou claro que as mudanças climáticas já estão acontecendo e que é muito claro que os humanos são os maiores responsáveis por elas.
“Eventos extremos como chuvas e secas intensas, ciclones, furacões, incêndios florestais, ondas de calor e de frio extremos, derretimento de geleiras, entre outros, vão aumentar em frequência e intensidade caso as ações para mitigar os efeitos do aquecimento global não sejam adotadas imediatamente”, diz Artaxo.
Como exemplo, citou os 48 graus de temperatura em junho no Canadá, 52 graus na Califórnia em agosto, o volume de chuva de um dia em cidade da Alemanha equivalente ao que chove em seis meses. “Ao mesmo tempo, o Brasil Central passa pela maior crise hídrica dos últimos 100 anos, enquanto o Rio Negro registra a maior cheia em 119 anos. Estamos experimentando fortes eventos climáticos extremos, que estão distribuídos por praticamente todas as regiões do nosso planeta.”
Segundo ele, limitar o aquecimento a 1,5°C e evitar os impactos climáticos mais severos depende de ações que devem ser executadas nesta década. Em um cenário de altas emissões, o IPCC avalia que o mundo pode aquecer até 5,7°C até 2100. “Só com ações imediatas e eficientes, os efeitos poderão ser amenizados. Necessitamos de cortes ambiciosos nas emissões para manter o aumento da temperatura global nesse nível. É um alerta que a ciência está dando aos governantes.”
Artaxo afirma que o aumento do nível do mar na área costeira brasileira pode chegar a 1,7 metros, proporcionando grandes prejuízos para a economia. “Assim como a redução do regime de chuvas pode afetar a produção agrícola.”
Atlas de mudanças climáticas
Pesquisador do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, autor-líder do novo Atlas de Mudanças Climáticas que compõe o relatório, Lincoln Alves salientou três pontos desse relatório em relação aos anteriores. “O desenvolvimento da ciência nos últimos sete anos nos permitiu dar mais ênfase à linguagem, o que resultou numa evidência indiscutível do avanço do aquecimento.”
Outro ponto relevante, segundo ele, é o fato de que embora a mudança do clima seja discutida em escala global, o novo relatório apresenta quatro capítulos com dados regionais, o que ajuda na tomada de decisões. “O IPCC também trabalhou bastante na comunicação, nas figuras, gráficos e ilustrações, o que tornou o relatório mais didático, facilitando a interface com as pessoas. Assim, o tomador de decisão consegue ter um olhar mais apurado, observar evidenciais atuais e cenários futuros.”
Segundo ele, o estudo não aborda apenas aspectos ambientais, mas também socioeconômicos. “Precisamos de políticas efetivas para mudar esse cenário.”
No encerramento do encontro, Patrícia Iglecias ressaltou que o quadro não é animador, mas serve como um choque de realidade. “É um incentivo para buscarmos alternativas. Não podemos fechar os olhos aos dados que estão sendo colocados.”
O IPCC
A coletânea científica que o IPCC realiza é resultado do trabalho de milhares de cientistas atuantes em áreas de pesquisa. De diversos países contribuem, voluntariamente, com dados, análises e modelagens.
O IPCC consiste em três Grupos de Trabalhos. O Grupo de Trabalho I é responsável pelas análises das bases físicas e científicas das mudanças do clima e trata especificamente das causas do aquecimento global. O relatório atual tem 3.500 páginas, reúne 14.000 artigos científicos, é assinado por 243 autores de 66 países e foi aprovado por consenso por 195 nações.
O Grupo de Trabalho II é responsável pelo impacto da mudança do clima na sociedade e ecossistemas, adaptação e vulnerabilidade/consequências e deverá ser lançado em janeiro de 2022.
O Grupo de Trabalho III é específico sobre mitigação das mudanças climáticas e aponta possíveis soluções. Ele será lançado em março de 2022.
Texto: Cris Olivette
Revisão: Cristina Leite
Fotos: Pedro Calado