“Iniciativas sustentáveis na indústria da cerveja” foi tema de painel no Congresso “Cerveja é Gastronomia”, realizado em 30/6, na Universidade Anhembi Morumbi. O evento é resultado de parceria entre a ABRACERVA – Associação Brasileira da Cerveja Artesanal e o SINDICERV – Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja.

Segundo o mediador da mesa, Fábio Ferreira, do SINDICERV, o objetivo do painel sobre iniciativas sustentáveis na indústria cervejeira demonstrou que essa indústria está sabendo aproveitar e maximizar a eficiência dos processos. “Hoje tivemos apresentações de ‘cases’ de bastante sucesso, além de falarmos da economia de água. Cada vez mais vemos iniciativas de preservação que levam em conta outros aspectos da indústria produtiva.”

Estado de São Paulo é indutor de políticas ambientais para o país

A diretora-presidente da CETESB, Patrícia Iglecias foi uma das palestrantes e aproveitou a oportunidade para explicar que o papel da CETESB vai além de ser um órgão fiscalizador e licenciador. “A companhia tem um papel muito mais amplo do ponto de vista da qualidade ambiental, da qualidade do ar, da água e de questões de prevenção de poluição.”

Segundo ela, a CETESB é considerada a melhor agência ambiental da América Latina, motivo de grande orgulho, mas também de maior responsabilidade. “O Estado de São Paulo é indutor de políticas ambientais para o nosso país. Trabalhamos inclusive com capacitação. Já formamos mais de dois mil técnicos da América Latina e países de língua portuguesa. Também somos centro regional da ONU para importantes convenções. É um orgulho passar esse período que estou passando à frente dessa companhia, que hoje tem cerca de 1.700 colaboradores.”

A executiva afirmou que, no fundo, a empresa trabalha para proporcionar melhor qualidade de vida à população do Estado. “Em termos práticos, no escopo principal que é o licenciamento, procuramos a eficiência, com a redução dos prazos de licenciamento. Hoje a produtividade é 21% acima da gestão anterior. Há 15 dias, devolvemos R$ 63 milhões em dividendos ao Governo do Estado, pela primeira vez nos 54 anos de existência da CETESB. Mas também essa é a primeira vez que uma mulher preside a companhia,” salientou.

A presidente afirmou que a melhoria na eficiência da atuação da companhia pode ser demonstrada por meio de indicadores. “Temos realizado mais 60 mil análises por ano, vivemos os melhores anos da história da companhia, mesmo em período de pandemia. Um dos pontos fundamentais é o trabalho de logística reversa para o qual a cadeia produtiva cervejeira teve papel significativo, por ser um setor que atua com logística reversa e que tem uma série de regramentos”, avaliou.

Patrícia Iglecias recordou que o início dessa história ocorreu em 2015, quando era secretária de Estado do Meio Ambiente e houve a publicação da Resolução nº 1.245, vinculando o licenciamento e a renovação das licenças à logística reversa. “Foram vários questionamentos, mas a resolução foi mantida e fez a logística reversa avançar. Hoje é replicada em outros estados como Piauí, Paraná e Mato Grosso do Sul.”

A executiva observa que a Lei fala em viabilidade técnica e econômica, dando segurança ao setor, que implementa o que é viável. “Nesse sentido a CETESB trabalhou junto com o setor produtivo para construir o termo que foi assinado recentemente, apontando quais metas seriam viáveis. A partir daí tivemos um crescimento muito grande das empresas inseridas em logística reversa. Em 2018 tínhamos duas mil empresas e hoje são mais de seis mil no Estado de São Paulo. É um grande exemplo de sucesso construído em conjunto.”

Segundo ela, a Decisão de Diretoria nº 127 trouxe elementos que se referem às embalagens, outra forma de avanço, que excluiu microempresas por conta de uma demanda apresentada pelo próprio setor. “Então, a CETESB tem de estar pronta para fazer correção rápida, para fazer mudanças e atender as demandas da sociedade.”

A presidente informou que, desde 2019, dez termos de compromisso de logística reversa foram assinados pela CETESB, sendo que muitas empresas do segmento estão inseridas em mais de um termo de compromisso.

Ela lembra que metas são fundamentais para trazer avanços, só que metas dentro da viabilidade. “Foi isso que conseguimos construir com esse setor especificamente. O que é possível fazer nos próximos anos, e quando renovamos, renovamos com metas.”

Novos avanços estão previstos em relação às empresas que estão em outros estados, uma demanda do setor privado para evitar a concorrência desleal.

Segundo ela, o principal programa da companhia hoje é o CETESB de Portas Abertas. “Fica aqui o convite para trabalharmos em conjunto, para avançarmos em conjunto. Isso já se dá via Câmaras Ambientais. Também deixo o convite para vocês aderirem ao Acordo Ambiental São Paulo, que é voluntário e valoriza o que as empresas fazem em redução de emissões e gestão de resíduos.”

O representante da Abividro, Lucien Belmonte, destacou a responsabilidade de cada um dos agentes da cadeia. “Ou temos responsabilidade com meio ambiente ou não temos. Só existe uma forma de resolver isso, que é trabalhando junto.“

Segundo ele, entre as vantagens ambientais das embalagens de vidro, está o fato de ser retornável, com vários ciclos de reutilização; ser 100% reciclável e permitir ciclo infinito de reciclagem, sem perda de qualidade ou pureza; por ser impermeável a líquidos e gases, oferece garantia de não contaminação.

Belmonte considera importante oferecer treinamento para todos que compõem a cadeia com o objetivo de ampliar a coleta, além de aumentar a abrangência do projeto de educação ambiental Ecoa Circular, promovido pela entidade.

A Abrlatas foi representada por Cátilo Cândido, que afirmou estar trabalhando em prol da sustentabilidade. “Vou falar um pouco das transformações que estamos implementando desde 2019, quando tínhamos mais de 30 ações civis públicas por todo o país e a latinha estava no banco dos réus. Estávamos com imagem péssima e tínhamos que nos defender.”

A saída, segundo ele, foi estruturar o setor, criar comitês, identificar os fabricantes de latinhas, definir o papel da entidade, implantar ‘compliance” e buscar parcerias. “Hoje estamos aqui para mostrar os resultados para vocês.”
Segundo ele, os fabricantes de latinha faturam cerca de 19 bilhões e empregam 17 mil pessoas. “Fechamos 2021 com 33,4 bilhões de latas vendidas no país, somos o terceiro maior mercado do mundo, atrás dos Estados Unidos e China. Isso dá, em média, cerca de 156 latas consumidas por ano por cada brasileiro. Nos Estados Unidos, cada americano consome 310 latas por ano.

Cândido afirma que as latas de alumínio são consideradas um exemplo de economia circular no Brasil, com 400 mil toneladas recicladas anualmente. “São mais de 300 bilhões de latas recicladas desde 2003, o que rendeu mais de R$ 20 bilhões de renda para os 800 mil catadores nesse período. Com isso, o setor deixou de emitir 16 milhões de gases de efeito estufa em dez anos.”

Pela Ambev, Caio Miranda afirmou que a empresa atua desde os anos 1970 com sustentabilidade, porque a cultura de guaraná começou nessa época na Amazônia, por meio de agricultura sustentável. “A partir de 2003 começamos a nossa jornada sustentável. Em 2018, mudamos um pouco de caminho e começamos uma jornada de inovação, trabalhando com parceiros externos e ‘startups’, buscando outras alternativas.”

Segundo ele, a Ambev tem metas globais. “Queremos ser Net Zero até 2040, ou seja, operar com energia 100% renovável, assim como 100% de nossas embalagens em material retornável ou em material reciclável. Vemos a sustentabilidade como estratégia da companhia. Todo produto que vai ser lançado é avaliado e se não atende parte considerável de sustentabilidade não é lançado. Essa é uma forma de melhorar nosso processo.”

Pelo grupo Heineken, Patrícia Nestor disse que a estratégia da companhia tem o lema “Construir um Mundo Melhor”, que é embasado em três pilares: ambiental, social e de consumo responsável, cada um deles com metas de curto e longo prazo.

Em termos de logística reversa, a empresa tem 60% das embalagens retornáveis. “A questão da circularidade tem duas frentes de trabalho, uma focada no consumidor que é peça fundamental nesse processo de retornabilidade e reciclagem. A outra em projetos estruturantes, focado em definir como essa cadeia se equilibra.”

Fávio Ferreira do Sindicerv mediador do painel
Patrícia Iglecias durante sua explanação

Texto: Cris Olivette
Fotos: Pedro Calado