Perfil do setor
A indústria processadora de couro configura-se como segmento empresarial com importante função no desenvolvimento econômico do país. Anualmente, o ramo de produção de couros e peles movimenta cerca de US$ 4 bilhões. E números tão grandiosos não são um acaso. O Brasil é dono do maior rebanho comercial bovino do mundo e figura entre os cinco grandes produtores globais de couro. São aproximadamente 310 curtumes e fábricas que geram mais de 40 mil empregos diretos. Na região sudeste do país, que tem São Paulo como o segundo maior fabricante nacional, o ramo é representado por 105 empresas. São mais de 12 mil trabalhadores dedicados ao setor, que movimenta em torno de US$ 1,5 bilhão por ano – considerando os mercados externo e interno.

Com um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, o Brasil é um grande produtor mundial de couros: cerca de 41 milhões de couros bovinos, aproximadamente 12,7% da produção mundial, estimados para 2012.

O valor da produção da indústria de curtumes do Brasil em 2012 foi de R$ 6,1 bilhões, que equivale a 0,29% do valor total da produção da indústria brasileira de transformação, excluídas as atividades de extração mineral e a construção civil, que complementam o setor secundário da economia (IEMI, 2013).

Considerando o balanço do mercado brasileiro de couros bovinos (vide tabela abaixo) pode-se observar o esforço que tem ocorrido nos últimos anos para agregação de valor à exportação de couros – aumento das exportações dos produtos mais elaborados (semiacabados e acabados) frente às peles salgadas e aos wet-blue (estes são produtos intermediários, pós-curtimento).

Dados mais recentes apontam exportação brasileira de couros bovinos de 29.032.950 de peças para 2012, 35.324.210 para 2013 e 34.267.362 para 2014. Dentro destes valores, a evolução da exportação de couros acabados (de maior valor agregado) foi de 12.744.121 peças para 2012 (43,9%), 14.159.434 para 2013 (40,1%) e 15.044.008 para 2014 (43,9%). (CICB, [2015]).

A tabela e o gráfico apresentados a seguir, mostram as exportações de couros e peles dos Estados brasileiros, onde se pode verificar as contribuições relevantes dos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Paraná.


Em 2013, Rio Grande do Sul (RS) e São Paulo (SP) inverteram suas posições (apontadas na tabela e gráfico anteriores) – RS – US$ 506.756.843,00 e SP – US$ 500.809.365,00. Isto se manteve em 2014 – RS – US$ 603.407.221,00 e SP – US$ 546.739.427,00. (CICB, [2015]).

A indústria e o processamento de couros (e respectivos empregos gerados) localizam-se principalmente no sudeste, no sul e mais recentemente, no centro-oeste do país, como mostram as tabelas seguintes.

Em 2012, os empregos diretos e indiretos gerados pelo setor produtor de couros somaram 42,1 mil postos de trabalho, ou o equivalente a 0,38% do total de trabalhadores alocados na produção industrial neste ano (IEMI, 2013).

Novamente pode-se observar o destaque que assumem Rio Grande do Sul e São Paulo, com cerca de 51% dos estabelecimentos e dos empregos do setor (2010). Verifica-se, também, a tendência de diminuição da atividade, particularmente em São Paulo, com deslocamento principalmente para o centro-oeste e nordeste, atrás dos rebanhos e dos frigoríficos, bem como em função da existência de incentivos e de outras condições favoráveis nesta região.

Impactos ambientais

Na produção de couros, os principais aspectos ambientais a serem considerados são:

  • Água: o volume utilizado pode variar, mas, em média, o consumo do setor brasileiro está estimado entre 12 a 37 m³ de água / t pele salgada;
  • Energia: os consumos mais significativos ocorrem na secagem dos couros, no aquecimento de água / banhos e equipamentos da estação de tratamento de efluentes, notadamente onde há processos aeróbios, com agitação vigorosa e nos fulões;
  • Produtos químicos: são utilizados solventes, agentes branqueadores, cromo, substâncias conservantes (biocidas) e outras, insumos da ribeira e do acabamento dos couros, mais agressivas e nocivas, tanto ao meio ambiente como à saúde humana e animal, que foram usadas pelos curtumes e já há algum tempo estão banidas, proibidas (produção, comercialização e uso) por leis federais, estaduais, municipais e por convenções internacionais, como a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, da qual o Brasil é signatário – exemplos: DDT, hexaclorobenzeno (BHC), dieldrin, produtos à base de arsênico e de mercúrio, pentaclorofenol, tetraclorofenol;
  • Efluentes líquidos: Cerca de 70% do volume dos despejos líquidos são provenientes das operações de ribeira até a etapa de purga, cabendo ao restante do processo completar a geração destes efluentes. As águas das operações de ribeira são fortemente alcalinas e esbranquiçadas (cal em excesso) e contêm sebo, pêlos, tecido muscular, gordura e sangue em suspensão. Em solução, sais (principais ânions – sulfeto, sulfato, cloreto; principais cátions – sódio, cálcio, amônio), proteínas e aminoácidos diversos; em menor quantidade, tensoativos (detergentes), aminas e eventualmente alguns conservantes ou biocidas e inseticidas (produtos orgânicos).
    O beneficiamento da carnaça gerada nos descarnes para obtenção de sebo, graxa ou gordura, gera um volume de efluentes relativamente pequeno. No entanto, tais efluentes apresentam concentrações elevadas de sólidos em suspensão, proteínas dissolvidas e pH na faixa ácida.
    Os efluentes líquidos provenientes das operações de píquel e curtimento contêm, principalmente, sal (cloreto de sódio), ácidos minerais (sulfúrico, clorídrico), orgânicos (láctico e fórmico), cromo e/ou taninos (orgânicos polifenólicos), proteínas e eventualmente, alguns fungicidas (orgânicos aromáticos), em pequenas quantidades. São águas turvas, de cor verde escura (curtimento ao cromo) ou castanhas (curtimento por taninos), que apresentam pH ácido, podendo ter altas concentrações de DQO e DBO, conforme o curtente utilizado.
    As principais águas residuais das operações de acabamento molhado ou pós-curtimento e de acabamento, normalmente apresentam certo teor de cromo (do enxugamento e por vezes, do recurtimento), sais diversos (da neutralização), cores diversas devido aos corantes utilizados (do tingimento) e temperatura mais elevada.
  • Emissões Atmosféricas: Existem diversas fontes potenciais de emissões atmosféricas na indústria do couro. Em geral, as emissões dos curtumes são principalmente compostos voláteis gerados em várias operações, que causam odores, por vezes perceptíveis fora dos limites destas indústrias, e podem causar problemas de saúde ocupacional, dependendo das instalações e de seus procedimentos operacionais;
  • Resíduos Sólidos: No Estado de São Paulo, os maiores problemas ambientais apresentados pelos curtumes no que diz respeito aos resíduos sólidos são os resíduos curtidos e lodos de estações de tratamento, que podem conter teores significativos do cromo e outros poluentes, podendo contaminar o solo, as águas superficiais e subterrâneas.

Fonte: Guia Técnico Ambiental de Curtumes – CETESB – Produção Mais Limpa – 2ª Edição

Criação e funcionamento

A Câmara Ambiental da Indústria de Couros, Peles, Assemelhados e Calçados foi instalada em 18 de junho de 1998.
Composição atual:

Presidência: Carlos Gilberto S. Obregon – Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil – CICB
Secretário Executivo: Davi Faleiros – CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
Secretário Executivo Suplente: Luiz Takashi Tanaka – CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
Membros efetivos titulares e suplentes / Entidades representativas do setor

  • Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil – CICB: Carlos Gilberto S. Obregon e Eduardo Mattioli Rizzi;
  • Centro das Indústrias do Estado de São Paulo – CIESP: Pedro Paulo Grizzo Sirignolli e João Bosco G. Cabral;
  • Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP: Wayner Machado da Silva e Alberto Skliutas;
  • Sindicato da Indústria de Calçados de Franca – SINDIFRANCA: José C. Brigagão de Couto e Hélio Augusto Ferreira Jorge;
  • Sindicato da Indústria de Calçados de Jaú – SINDICALÇADOS: Osvaldo Contador Junior e José Geraldo H. Galazzini;
  • Sindicato da Indústria do Curtimento de Couros e Peles no Estado de São Paulo – SINDICOURO: Cesar Figueiredo M. Barros e Fabrício Fuga; e
  • Sindicato das Indústrias do Vestuário – SINDIV: Fernando R. Caballal.

Membros efetivos titulares e suplentes/ Representantes do Sistema Estadual de Meio Ambiente
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo: Célia Maria de Araújo Corazza, José Benites de Oliveira, Carlos Henrique Braus, Hellen Cecilia de Juli Ravacci, Maria Aparecida Baldochi, Hilton Iwao Ubakata, Rosangela Pacini Modesto, Mara Magalhães Gaeta Lemos, Patrícia de Souza Medeiros Barbosa, André Perandin de Melo, José Wagner Faria Pacheco e Hélio Todashi Yamanaka.

Metodologia de trabalho

Os trabalhos são desenvolvidos por intermédio de visitas técnicas, seminários e Grupos de Trabalho (GT’s) constituídos por representantes das entidades membro e convidados de outras entidades e de institutos de pesquisa.

Desde a sua criação este modelo de atuação tem proporcionado troca de experiências, geração de conhecimentos e propostas de regulamentação de vários temas importantes para o setor e para a ação da SMA/CETESB.

Com o objetivo de enriquecer e dar transparência aos produtos desenvolvidos nas Câmaras Ambientais, a CETESB adotou a consulta pública como etapa do processo de análise e aprovação dos referidos produtos, ampliando a possibilidade de participação da sociedade na tomada de decisão de importantes ações e políticas públicas.

Atividades e produtos da Câmara Ambiental

Produtos apresentados

Proposta para elaboração do Guia Técnico Ambiental de Curtumes – Série Produção Mais Limpa – 2ª Edição (2014)

Quadro contendo as contribuições recebidas na Consulta Pública do Guia Técnico Ambiental de Curtumes – Série Produção Mais Limpa – 2ª edição

Temas em discussão

  • elaboração de lista-base de medidas de Produção Mais Limpa (P+L) para a indústria de calçados para elaboração de Guia Técnico Ambiental da Indústria de Calçados;
  • definição dos principais aspectos ambientais do setor coureiro – calçadista;
  • definição de indicadores do setor coureiro – calçadista e das metas iniciais satisfatórias a serem atingidas;
  • elaboração do plano de ação para a implantação das ações das listas-base de medidas de Produção Mais Limpa (P+L) e aferição de resultados;
  • implantação das ações de Produção Mais Limpa (P+L) no setor, de acordo com o plano de ação; e
  • levantamento de alternativas para os resíduos de couro e outros do setor, para os lodos do tratamento de efluentes e armazenamento, aterramento e utilização (direta) em solo agrícola.

Eventos

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