Por ocasião da inspeção das instalações dos postos e sistemas retalhistas de combustíveis automotivos, deve ser avaliada a infra-estrutura do estabelecimento e alguns dos seus aspectos construtivos, dentre os quais destacam-se:

Piso

As trincas ou afundamentos existentes no piso das pistas de abastecimento do estabelecimento, quase sempre, são reflexos do esforço mecânico imposto pela circulação de veículos no local, principalmente, caminhões e carretas. Nestas condições, as tubulações e tanques subterrâneos estão sujeitos aos efeitos da vibração e da movimentação do solo, podendo gerar rupturas, principalmente nas conexões, sendo que esse fato ocorre, com maior freqüência, em postos localizados em rodovias. Sinais de reformas existentes no piso, quase sempre, indicam que tenham sido realizados reparos em linhas ou tanques, em razão da ocorrência de vazamentos passados.

O material constituinte do piso, também é um fator importante, pois, embora não seja tão freqüente, ainda são encontrados postos e sistemas retalhistas de combustíveis não pavimentados ou mesmo construídos com blocos de concreto, asfalto ou paralelepípedos, os quais permitem que, durante as operações de descarregamento ou de abastecimento dos produtos, qualquer vazamento superficial de combustível, se infiltre no solo.

Para que esse problema não ocorra e, também, para evitar a transmissão de esforço às tubulações enterradas, o material utilizado na construção do piso do estabelecimento, bem como a sua espessura devem seguir as recomendações técnicas da ABNT.

Contaminação por derrame superficial em pista de abastecimento não impermeabilizada
Contaminação por derrame superficial em pista de abastecimento não impermeabilizada

As canaletas ao redor da pista de abastecimento e/ou do estabelecimento, têm a finalidade de conter os eventuais derramamentos ocorridos durante as operações de abastecimento ou de descarga dos combustíveis, bem como receber os eventuais efluentes da lavagem de veículos, e direcioná-los para um separador de água e óleo individual e segregado dos demais separadores existentes.

Os postos de revenda, em sua grande maioria, não atendem a esse critério técnico e direcionam as canaletas para a via pública. Desta forma, os produtos extravasados acumulam-se nas calçadas e ao longo das sarjetas e atingem, rapidamente, as galerias de águas pluviais ou de esgotos, gerando atmosferas inflamáveis em seu interior.

Unidades de abastecimento

São freqüentes os vazamentos de combustíveis nessas unidades, também denominadas bombas de abastecimento, a partir das conexões que integram o sistema de bombeamento e abastecimento dos produtos. Em muitos casos, é possível observar o jorro ou o gotejamento de produto, mesmo estando o equipamento inoperante. Em alguns casos, o simples acionamento do bico de abastecimento é suficiente para a visualização do vazamento do combustível pelas conexões.

A presença de produto impregnado no solo ou na areia existente na base das unidades de abastecimento, é um forte indício de vazamentos anteriores ou em curso, seja pela falta de estanqueidade nas conexões ou pelo derramamento de produto durante as operações de reparos nas tubulações, ou nas partes mecânicas dos equipamentos. Um bom indicativo da existência de vazamentos nas unidades de abastecimento, é a presença de sinais de desgastes na pintura externa dos seus painéis, provocados pela ação do contato direto do produto.

Quase sempre os vazamentos por perda de estanqueidade nas unidades de abastecimento não são detectados a partir do controle de estoque manual, ou da grande maioria dos sistemas eletrônicos de detecção instalados.

Inspeção em unidade de abastecimento com destaque para vazamento de produto
Inspeção em unidade de
abastecimento com destaque
para vazamento de produto

Esses vazamentos, ainda que em pequenas proporções, normalmente geram grandes contaminações do subsolo, por longos períodos de tempo, motivo pelo qual recomenda-se a utilização das câmaras de contenção, confeccionadas em material impermeável, sob as unidades de abastecimento, as quais impedem o contato direto do produto vazado com o solo e indicam qualquer vazamento, através de sensores instalados em seu interior.

Tubulações

As tubulações metálicas galvanizadas convencionais são mais sujeitas à fragilização por esforço mecânico, em razão de suas características e à rigidez dos metais de que são construídas, principalmente se o piso do estabelecimento, não estiver, no mínimo, em conformidade com as recomendações técnicas.

Atualmente, são fabricadas tubulações de PEAD – Polietileno de Alta Densidade que apresentam permeabilidade similar à dos metais e possuem grande resistência mecânica, contudo são flexíveis para absorver os impactos e adaptar-se à movimentação do piso e do solo. Também são utilizadas tubulações secundárias, as quais envolvem a tubulação principal, para aumentar a eficiência da contenção de vazamentos, inclusive com a instalação de sensores de vazamentos, no espaço entre as duas tubulações.

Câmara de calçada de acesso à boca de descarga

Em sua grande maioria, as câmaras de calçada, de acesso às bocas de descarga de combustíveis dos tanques subterrâneos, não são impermeabilizadas, razão pela qual os costumeiros extravasamentos ocorridos durante o descarregamento dos produtos acabam por contaminar o subsolo, sendo comum observar-se a presença de combustível acumulado nas bocas de descarga ou a presença de solo impregnado com o produto ao redor das mesmas.

As câmaras de calçada com contenção de descarga de combustíveis, são dispositivos confeccionados em material impermeável, que permitem a total retenção de eventuais vazamentos, evitando que o produto atinja o solo. O sistema de contenção pode ser complementado pela instalação de um dispositivo de descarga selada no bocal de enchimento do tanque que para evitar o retorno do combustível em caso de ser excedida a capacidade do tanque, bem como, pela instalação de uma válvula contra transbordamentos, na linha de descarga interna ao tanque.

Câmara de calçada de boca de descarregamento contaminada por óleo diesel
Câmara de calçada de boca
de descarregamento contaminada
por óleo diesel

Alguns estabelecimentos utilizam o sistema de descarga à distância, evitando-se a constante movimentação dos caminhões-tanque de abastecimento sobre o piso existente sobre as linhas e os tanques. Estas bocas de descarga também possuem câmaras de contenção ou, no mínimo, são envolvidas por uma ilha de concreto de descarga, totalmente estanque, que impede extravasamentos para o piso bem como a infiltração no subsolo.

Detalhe de válvula extratora
Detalhe de válvula extratora

Válvulas extratoras

Também denominadas válvulas de pé, são válvulas situadas no interior dos tanques, no final da tubulação de extração do combustível para as unidades de abastecimento e com a parte superior, externa ao tanque, normalmente protegida por uma câmara de calçada.

As manutenções das válvulas extratoras podem ocorrer com freqüência, devido ao seu entupimento, sendo necessária sua remoção. Caso as válvulas extratoras não sejam adequadamente reinstaladas em seus locais de origem, podem ocorrer vazamentos, os quais podem ser visualmente detectados pela presença de produto impregnado na parte superior da válvula abastecimento ou impregnado no solo, ao redor e no interior da câmara de calçada.

Atualmente, as válvulas extratoras estão sendo eliminadas e substituídas por válvulas de retenção, localizadas junto à base das unidades de abastecimento, as quais mantém as linhas constantemente com produto em seu interior e, em caso de perda da estanqueidade da linha, permitem o retorno do produto até o tanque de armazenamento.

Respiros

Os respiros são linhas, em parte subterrâneas e em parte aéreas, individuais de cada tanque de armazenamento e, quase sempre, estão localizadas acima da cobertura do estabelecimento ou junto às paredes ou aos muros de divisa, e são pontos também sujeitos a extravasamentos de combustíveis durante as operações de descarga do produto, quando do excessivo enchimento dos tanques. Como a manutenção das linhas dos respiros, nem sempre é tão rigorosa quanto nas demais linhas do sistema de armazenamento do estabelecimento, podem ocorrer perdas do produto por furos ou pelas suas conexões, sendo que os eventuais vazamentos podem ser visualmente detectados, pela impregnação das tubulações ou da coluna da cobertura do estabelecimento com o produto.

As linhas dos respiros devem ser dotadas de dispositivos especiais que impeçam o seu preenchimento por combustível, tais como, válvulas de retenção com esfera flutuante, a qual, uma vez atingido o volume máximo do tanque, veda a saída do respiro correspondente e bloqueia a saída dos vapores, impedindo a continuidade do descarregamento do combustível.

Filtro de óleo diesel

Os filtros especialmente destinados à depuração do óleo diesel, são equipamentos intermediários entre os tanques de armazenamento e as unidades de abastecimento, os quais, quase sempre, apresentam vazamentos do produto.

As conexões dos filtros estão sujeitas à perda de produto, devido aos constantes reparos, uma vez que as conexões podem não ser bem adaptadas e apertadas adequadamente. Os vazamentos podem ser visualmente detectados, pela impregnação externa do equipamento, das suas tubulações expostas e do piso em seu redor. Atualmente existem disponíveis no mercado câmaras de contenção para unidades filtrantes, cujas características são similares às demais câmaras utilizadas nos SASC’s.

São comuns os vazamentos nas linhas que interligam o reservatório de armazenamento de óleo diesel do filtro às unidades de abastecimento, os quais, geralmente, acarretam a perda de produto, pois as mesmas trabalham com pressão. Um forte indicativo da ocorrência de vazamentos nas linhas é o acionamento automático da bomba de sucção do filtro, que extrai o óleo diesel do tanque subterrâneo, sem que esteja ocorrendo o abastecimento de veículos com o produto, no estabelecimento. Isto ocorre porque, com a diminuição do volume de produto armazenado no reservatório do filtro, a bomba de sucção é acionada, para repor o produto no reservatório.

Filtro de diesel - ponto normalmente sujeito a vazamentos Investigação em postos (continuação)
Filtro de diesel
– ponto normalmente sujeito a vazamentos
Investigação em postos (continuação)

 

Separadores de água e óleo

Os separadores de água e óleo, também denominados caixas-separadoras, são caixas subterrâneas com dois compartimentos, sendo um de decantação da água e outro de flutuação dos óleos, divididos por uma parede intermediária aberta na sua parte inferior, normalmente construídas em alvenaria, as quais localizam-se em frente ou nas proximidades dos locais onde é realizada a lavagem completa de veículos. Tais caixas são sujeitas à ocorrência de trincas em sua estrutura ou mesmo ao extravazamento por excessivo acúmulo de resíduos.

Atualmente, já existem separadores de água e óleo confeccionados em fibra de Poliéster, Polietileno ou outros produtos similares, os quais impedem as infiltrações de óleo ou água contaminada no solo.

Uma boa maneira para aumentar a eficiência dos separadores de água e óleo, é a instalação de mais de um compartimento de decantação e separação das fases líquidas da água e dos óleos, depurando, ao máximo, a mistura. Os separadores devem ser esvaziados e limpos com freqüência, evitando-se o excessivo acúmulo de sólidos em suspensão e borras na caixa de sedimentação ou que o mesmo seja utilizado como reservatório de estocagem desses resíduos.

Poços de monitoramento

Os poços de monitoramento são métodos eficientes para a detecção e aferição de contaminações, em fase livre no aqüífero freático ou em fase adsorvida no solo, e são normatizados pela ABNT.

Quando é observada a existência de poços de monitoramento na área do estabelecimento sob investigação, nas calçadas fronteiriças ou nos seus arredores, é realizada uma minuciosa inspeção dos mesmos e efetuada a monitoração da presença de vapores inflamáveis e a aferição da presença de fase livre de produto combustível, utilizando-se equipamentos eletrônicos portáteis, com sensores seletivos para água e hidrocarbonetos de petróleo, ou coletando amostras da água presente nos mesmo, com tubos coletores translúcidos, os quais permitem visualizar e qualificar o produto combustível eventualmente presente e estimar seu envelhecimento, não sendo indicados para quantificar a espessura da lâmina do produto, por tratar-se de equipamento menos preciso, sendo recomendada a utilização dos equipamentos eletrônicos.

Em razão de serem poucas as formas de se constatar os vazamentos de produto nos equipamentos enterrados, convém solicitar informações detalhadas ao proprietário do empreendimento ou seu representante, durante as inspeções, a respeito da quantidade e das condições dos seguintes equipamentos:

Tanques subterrâneos desativados

A existência de tanques desativados no estabelecimento investigado, pode ser um forte indício da existência de passivo ambiental, uma vez que, normalmente, são retirados de atividade, por apresentarem falta de estanqueidade. Ainda que não tenham sido desativados por problemas de vazamentos, esses tanques estarão mais sujeitos aos efeitos da corrosão, devido à grande área de contato com o oxigênio em seu interior.

Assim, por uma questão de segurança, recomenda-se que esses tanques sejam removidos, evitando-se a formação de atmosferas confinadas contendo vapores inflamáveis, e também, para possibilitar a investigação de prováveis contaminações do solo, ou ainda, evitar a sua reutilização. Entretanto, em razão de muitos estabelecimentos não removerem os tanques desativados por questões técnicas, recomenda-se que os tanques desativados sejam preenchidos com material inerte, por exemplo, areia, devendo ser dada atenção especial ao preenchimento dos tanques com esses materiais, já que é bem provável que a distribuição do produto em todos os espaços não seja homogênea. A utilização de água para esta finalidade também não é a ideal, uma vez que o residual do combustível existente no tanque irá contaminá-la e, no caso de existirem furos, ocorrerá a contaminação do solo.

Tanques subterrâneos de óleos lubrificantes usados

Esses tanques subterrâneos são utilizados para o armazenamento temporário de óleos lubrificantes provenientes das trocas efetuadas nos veículos, até a sua destinação final adequada.

Geralmente, por se tratar de resíduos com pouco valor comercial, não são dispensados os mesmos cuidados dados aos tanques de armazenamento de combustíveis automotivos e o controle de estoque não costuma ser rigoroso e, raramente, são efetuados testes nesses tanques, com o intuito de confirmar a sua estanqueidade.

Ainda são encontrados vários postos de revenda de combustíveis que, para essa finalidade, ainda utilizam caixas subterrâneas construídas em alvenaria, as quais são absolutamente inadequadas, uma vez que os óleos lubrificantes podem permear as paredes internas e atingir, facilmente, o subsolo.

Tanques subterrâneos de combustíveis

Esses tanques subterrâneos são utilizados para o armazenamento de combustíveis automotivos, sendo que os tanques convencionais, fabricados com aço-carbono, possuem parede única simples e são sujeitos aos efeitos da corrosão, principalmente nos pontos de solda das chapas e conexões.

Detalhe de corrosão em tanque metálico de parede simples.
Detalhe de corrosão em tanque
metálico de parede simples.

Os principais fatores que influenciam o processo de corrosão estão relacionados com o pH, a umidade e a salinidade do solo onde os tanques estão enterrados. Estatísticas norte-americanas recentes indicam que 91% dos tanques subterrâneos sofrem corrosão a partir do seu exterior, enquanto que, apenas 9% deles sofrem corrosão a partir da parte interna.

As corrosões a partir da parte interna dos tanques subterrâneos estão normalmente relacionadas aos componentes do produto comercializado, como é o caso do óleo diesel com altos teores de enxofre, que facilita a degradação das chapas metálicas, sendo que a oxidação tenderá a ser mais intensa na parte vazia dos tanques, pela presença de oxigênio.

Atualmente existem tanques de parede dupla, também denominados tanques jaquetados, os quais representam um grande avanço no controle de vazamentos. Esses tanques são construídos com duas paredes e com um sensor especial, instalado no espaço intersticial com pressão negativa, o qual será acionado pela alteração da pressão interna, provocada pele entrada de ar ou da água do lençol freático por falta de estanqueidade da parede externa ou pela entrada do produto por falta de estanqueidade da parede interna.

A maioria desses tanques é construída com dois materiais distintos, sendo que a parede interna, a exemplo do modelo convencional, é construída com aço-carbono, enquanto a parede externa é construída com uma resina termofixa, não sujeita à corrosão, a qual fica em contato direto com o solo. Alguns outros modelos de tanques possuem as duas paredes fabricadas com resina.

Esses tanques novos possuem grandes câmaras de calçada, as quais possibilitam o acesso à boca de visita e a visualização das suas tubulações, as quais, preferencialmente, devem ser de material impermeável para evitar rupturas por torções. Qualquer vazamento, ocorrido nessas tubulações, será contido no interior da câmara, sem qualquer prejuízo para o meio ambiente.

Convém esclarecer, que devem ser realizados testes para averiguar a estanqueidade dos mesmos, imediatamente após a sua instalação e antes de serem colocados em uso, e também, que tanto os tanques subterrâneos de parede simples como os de parede dupla têm a sua integridade diretamente relacionada com as seguintes situações:

  • transporte adequado que não provoque danos ao costado;
  • métodos adequados de instalação que evitem atritos ou pancadas;
  • qualidade da compactação do solo, nas cavas de instalação;
  • profundidade de instalação e altura da área recoberta;
  • fixação adequada, em terrenos sujeitos a inundações ou com o lençol freático alcançando a geratriz inferior do tanque.
Presença de gasolina em câmara de acesso à boca de descarga
Presença de gasolina
em câmara de acesso
à boca de descarga