Segundo o médico e alquimista suíço do século XVI, Paracelso, a diferença entre uma substância tóxica e uma não tóxica é a dose. Qualquer contaminante pode causar efeitos deletérios ao ambiente e à biota que o habita, dependendo da concentração em que ele apareça no sistema e dos organismos que serão afetados. Para que uma substância química cause um efeito, ela precisa entrar em contato com o organismo. Já foi dito no início do texto, que certas características dos peixes favorecem a ocorrência de mortandades, como a incapacidade de regular a temperatura do corpo; suportarem uma faixa estreita de temperatura; terem capacidade de fuga limitada; e dependerem da água para a alimentação, reprodução, crescimento e respiração. O favorecimento a mortandades é conseqüência da rapidez com que qualquer contaminante entra em contato direto com o peixe e das condições de saúde em que se encontra esse peixe.

As substâncias químicas podem ingressar no organismo por três vias principais: digestiva, respiratória e cutânea. Depois do ingresso, por qualquer destas vias, elas podem ser absorvidas e passar para o sangue, podem ser distribuídas pelo organismo todo, chegar a determinados órgãos onde são biotransformadas, produzir efeitos tóxicos e posteriormente serem eliminadas do organismo.

Uma forma muito utilizada para classificar as substâncias químicas segundo a toxicidade está baseada na duração da exposição. Geralmente, os toxicologistas procuram os efeitos da exposição aguda, subcrônica e crônica, e também tentam entender o tipo de efeito adverso para cada uma destas três exposições. Vários fatores influenciam a toxicidade das substâncias químicas aos peixes. Entre elas destacam-se:

  • Fatores biológicos: espécie, idade, estágio reprodutivo e saúde dos peixes, tolerância das espécies ao poluente, distribuição espacial e temporal dos peixes no corpo d’água, capacidade de fuga dos peixes.
  • Fatores físicos e químicos: quantidade/concentração do poluente, capacidade de diluição, neutralização e degradação do corpo d’água, velocidade de dispersão e persistência do poluente, oxigênio dissolvido, pH, temperatura, material em suspensão.

Há quatro caminhos possíveis para a exposição do peixe a uma substância: brânquias, alimento, água ingerida e pele O peixe tem diversas rotas possíveis para excreção de poluentes, tanto orgânicos quanto inorgânicos. Essas rotas incluem as brânquias, pele, muco, bile, fezes e urina (Figura 12).

Figura 12 – Metabolismo dos poluentes no peixe. Baseado em Heath(16)
Figura 12 – Metabolismo dos poluentes no peixe. Baseado em Heath(16)

Os processos de absorção e metabolismo de contaminantes têm efeito sobre os peixes, afetando seu comportamento, fisiologia e anatomia. Várias dessas alterações podem ser utilizadas como indicadoras do tipo de poluente presente no ambiente. Em casos de mortandade, são ferramentas de investigação muito úteis.