O solo atua frequentemente como um “filtro”, tendo a capacidade de depuração e imobilizando grande parte das impurezas nele depositadas. No entanto, essa capacidade é limitada, podendo ocorrer alteração da qualidade do solo, devido ao efeito cumulativo da deposição de poluentes atmosféricos, aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes e disposição de resíduos sólidos industriais, urbanos, materiais tóxicos e radioativos.
O tema poluição do solo vem, cada vez mais, se tornando motivo de preocupação para a sociedade e para as autoridades, devido não só aos aspectos de proteção saúde publica e ao meio ambiente, mas também publicidade dada aos relatos de episódios críticos de poluição por todo o mundo.
Apesar desta realidade, a poluição do solo ainda não foi plenamente discutida e ainda não existe um consenso entre os pesquisadores de quais seriam as melhores formas de abordagem da questão. Além das dificuldades técnicas, a questão política se reveste de grande importância pois, se não for adequadamente conduzida, o controle da poluição ficará muito prejudicado e terá conseqüências irreversíveis para a ciclagem de nutrientes (ciclo do carbono, nitrogênio, fósforo) na natureza e ciclo da água, prejudicando a produção de alimentos de origem vegetal e animal.
Historicamente, o solo tem sido utilizado por gerações como receptor de substâncias resultantes da atividade humana. Com o aparecimento dos processos de transformação em grande escala a partir da Revolução Industrial, a liberação descontrolada de poluentes para o ambiente e sua conseqüente acumulação no solo e nos sedimentos sofreu uma mudança drástica de forma e de intensidade, explicada pelo uso intensivo dos recursos naturais e dos resíduos gerados pelo aumento das atividades urbanas, industriais e agrícolas.
Essa utilização do solo como receptor de poluentes pode se dar localmente por um depósito de resíduos; por uma área de estocagem ou processamento de produtos químicos; por disposição de resíduos e efluentes, por algum vazamento ou derramamento; ou ainda regionalmente através de deposição pela atmosfera, por inundação ou mesmo por práticas agrícolas indiscriminadas. Desta forma, uma constante migração descendente de poluentes do solo para a água subterrâne ocorrerá, o que pode se tornar um grande problema para aquelas populações que fazem uso deste recurso hídrico. A Figura 1 apresenta sucintamente as fontes de poluição do solo e sua migração.
A preocupação com as conseqüências ambientais decorrentes desses fenômenos, especialmente no solo, só recentemente têm sido discutida. Cada vez mais o solo é considerado um recurso limitado, e fundamental no ecossistema mundial. Assim, o conceito de protege-lo tem sido objeto de intensas discussões e faz parte da agenda política dos países desenvolvidos.
A poluição do solo é um assunto complexo, não só pelas muitas funções que desempenha, mas também pelo seu reconhecimento como uma “commodity” econômica, isto é, possui um valor econômico intrínseco.
No momento em que um contaminante ou poluente atinge a superfície do solo, ele pode ser adsorvido, arrastado pelo vento ou pelas águas do escoamento superficial, ou lixiviado pelas águas de infiltração, passando para as camadas inferiores e atingindo as águas subterrâneas. Uma vez atingindo as águas subterrâneas, esse poluente será então carreado para outras regiões, através do fluxo dessas águas. A Figura 2 ilustra as formas de ocorrência de poluentes no solo e a Figura 3 os principais mecanismos de atenuação e transporte. O Quadro 1 apresenta uma lista de atividades de uso e ocupação potencialmente poluentes para o solo.
Quadro 1 – Atividades de usos e ocupação do solo, potencialmente poluentes | |
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Aplicação no solo de lodos de esgoto, lodos orgânicos industriais, ou outros resíduos | Aterros e outras instalações de tratamento e disposição de resíduos |
Silvicultura | Estocagem de resíduos perigosos |
Atividades Extrativistas | Produção e teste de munições |
Agricultura/horticultura | Refinarias de petróleo |
Aeroportos | Fabricação de tintas |
Atividades de processamento de animais | Manutenção de rodovias |
Atividades de processamento de asbestos | Estocagem de produtos químicos, petróleo e derivados |
Atividades de lavra e processamento de argila | Produção de energia |
Enterro de animais doentes | Estocagem ou disposição de material radioativo |
Cemitérios | Ferrovias e pátios ferroviários |
Atividades de processamento de produtos químicos | Atividades de processamento de papel e impressão |
Mineração | Processamento de Borracha |
Atividades de docagem e reparação de embarcações | Tratamento de efluentes e áreas de tratamento de lodos |
Atividades de reparação de veículos | Ferro-velhos e depósitos de sucata |
Atividades de lavagem a seco | Construção civil |
Manufatura de equipamentos elétricos | Curtumes e associados |
Indústria de alimentos para consumo animal | Produção de pneus |
Atividades de processamento do carvão | Produção, estocagem e utilização de preservativos de madeira |
Manufatura de cerâmica e vidro | Atividades de processamento de ferro e aço |
Hospitais | Laboratórios |
Um grande número de substâncias potencialmente perigosas pode estar presente em um local, embora geralmente suas concentrações sejam baixas. Essas substâncias freqüentemente estarão acumuladas perto do ponto em que foram processadas, estocadas ou utilizadas e isso é um dado importante na condução dos estudos efetivos do histórico do local. As concentrações determinadas nesses locais são comparadas aos valores orientadores para definição da condição de qualidade do solo.