Em alguns casos, a causa de uma mortandade é imediatamente identificada, como no caso de um lançamento tóxico. A ação requerida nesse caso é exterminar a causa, juntar evidências e punir o causador. Como a maioria das mortandades é observada após a ocorrência do fator determinante, geralmente é necessário conduzir uma investigação.
A investigação deve, no final, responder a 3 questões:

  • Qual foi a maneira da morte: natural ou não?
  • Qual foi o mecanismo, a causa da morte?
  • Que fato desencadeou a seqüência de eventos letais?

Sempre informar o reclamante e a população local que os peixes ou outros organismos da região da ocorrência de uma mortandade não devem ser consumidos.

Interpretando a Cena

Como Investigar uma Mortandade
As primeiras horas depois da chegada de um investigador ao local da mortandade podem ser críticas. É extremamente importante que o máximo de informação seja coletado no mínimo tempo possível, pois a identificação das causas de uma mortandade depende de informações colhidas na área da ocorrência.

Sinais físicos e comportamento dos animais, unidos a uma avaliação das condições do local conduzem a diagnósticos prováveis a serem investigados a fundo.

Imediatamente após dar início ao atendimento, o investigador deve registrar as seguintes informações:

  • data e hora;
  • localização: rio, lago, referências geográficas;
  • nome, endereço e telefone da pessoa que comunicou a mortandade;
  • nomes de pessoas que possam contribuir com informações sobre o ocorrido;
  • hora em que a mortandade foi comunicada;
  • hora estimada de quando a mortandade começou;
  • uso do solo nos arredores e a montante;
  • parâmetros: OD, pH, temperatura da água, condutividade, transparência (com disco de Secchi), profundidade (se possível), cor e odor da água, salinidade (se a mortandade for em um estuário);
  • condição de cada espécie de peixe avistada: vivos, moribundos, mortos ou em decomposição;
  • se uma só espécie de peixe morreu; quais tamanhos de peixes foram atingidos;
  • condição de outros organismos do ecossistema: vivos, moribundos, mortos ou em decomposição;
  • condições climáticas no dia e dia e noite anteriores, como temperatura, cobertura de nuvens, chuvas recentes, direção e intensidade dos ventos;
  • aparência física dos peixes mortos ou moribundos, como brânquias com disposição diferente, boca aberta, curvatura da espinha, excesso de muco, lesões, áreas necrosadas nas brânquias;
  • qualquer característica ou comportamento incomuns, ou outras observações de peixes ou outros organismos, como cores excessivamente escuras, posição estranha das nadadeiras, nadar na superfície, perda de equilíbrio, peixes ou crustáceos tentando sair da água, muco excessivo, caramujos na vegetação fora da água, vegetação descolorida;
  • tirar fotos do local;
  • desenhar “croquis”;
  • fazer um mapa de acesso ao local.

Estabelecer quando uma mortandade começou e por quanto tempo continuou é muito útil. Da mesma forma, saber se a mortandade começou à noite, durante quanto tempo ocorreu e se foi interrompida por algum tempo e depois recomeçou são informações importantes na determinação das causas da ocorrência.

Ferramentas de Investigação
Processos biológicos, como a fotossíntese, a respiração e a decomposição também são determinantes para a concentração de OD no meio aquático.

Os períodos críticos de queda de oxigênio nos corpos d’água estendem-se do final da noite à madrugada, quando o processo fotossintético, responsável pela produção de oxigênio é interrompido.

Os organismos, que continuam a respirar, consomem o oxigênio dissolvido na água, causando a queda drástica dos níveis de O2 e tornando os peixes debilitados ou suscetíveis a doenças.

A queda brusca do oxigênio dissolvido no meio aquático é denominada depleção de oxigênio. Nesta condição, observam-se os peixes na superfície da água tentando abocanhar o ar (Figura 16).

Figura 16 - Tilápias abocanhando a ar durante mortandade de peixes em lago do Parque Horto Florestal em 21/01/2007. (Foto: CETESB)
Figura 16 – Tilápias abocanhando a ar durante mortandade de peixes em lago do Parque Horto Florestal em 21/01/2007. Foto: CETESB

A análise necroscópica de um peixe morto em decorrência da falta de oxigênio, pode revelar a existência de hemorragias nas brânquias e no abdômen, dependendo do tempo de estresse sofrido pelo animal e da resistência que a espécie apresentar. Um exemplo de hemorragia na parte ventral dianteira de um peixe está na Figura 17.

Figura 17 - Hemorragia em peixe vítima de ocorrência de mortandade. Foto: CETESB
Figura 17 – Hemorragia em peixe vítima de ocorrência de mortandade. Foto: CETESB

 

A análise da DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) indica qual a quantidade de oxigênio necessária para degradar a matéria orgânica presente na água. Quanto mais alta a DBO devido a uma maior carga orgânica, menores os valores de oxigênio dissolvido na água. Altas taxas de DBO ocorrendo em um corpo d´água são provocadas por despejos de origem predominantemente orgânica. A presença de um alto teor de matéria orgânica pode induzir à completa extinção do oxigênio na água, condição denominada ANOXIA, que causa a morte de peixes e de outras formas de vida aquática.

Além da característica de abocanhar o ar na superfície, os peixes apresentam diversos outros mecanismos de resposta a baixos valores de oxigênio, como redução do ritmo cardíaco pela diminuição da atividade; hiperventilação das brânquias pelo aumento do batimento opercular, respiração aérea (algumas espécies) pela faringe, bexiga natatória ou intestino; respiração na camada superficial da água ou fuga das áreas com hipoxia.

Se a falta de Oxigênio pode causar mortandade, o excesso do gás curiosamente também pode ter o mesmo efeito. A super-saturação de oxigênio dissolvido pode, eventualmente, levar à Doença da Bolha Gasosa, onde podem ser observadas bolhas de gás na pele, no céu-da-boca, nas nadadeiras, na cavidade abdominal e no globo ocular. Outra possível conseqüência da super-saturação de oxigênio é a embolia gasosa, que também pode levar à morte dos peixes. Esse fenômeno pode ocorrer a jusante de quedas d’água ou em florações de algas.