Na terceira campanha sucessiva para coleta de amostras na Antártica, dois engenheiros da Cetesb enfrentaram temperaturas de dois a três graus negativos, rajadas de vento de mais de 100 km/h e visibilidade quase zero.

Entretanto, as condições foram consideradas amenas. “Até que fez tempo bom”, afirmou a engenheira química Cíntia Hanna Santos Bondioli, do Setor de Avaliação e Auditoria de Áreas Contaminadas, ao relatar a viagem ao continente antártico.

“Claro que estava usando roupas adequadas, mas em casos extremos a temperatura pode chegar a até menos 50º C, e o vento se torna tão forte a ponto de carregar a gente”, disse ela, que está há nove anos na empresa. “Quando isso acontece não podemos sair da base, pois o risco é grande”.

Cíntia, que dividiu a tarefa com Fernando Ricardo Pereira, engenheiro agrônomo do mesmo setor, esteve na Estação Antártica Comandante Ferraz, de 9 de janeiro a 6 de fevereiro deste ano, para coletar amostras e monitorar a contaminação do solo, decorrente do incêndio na base brasileira em 2012.

O engenheiro agrônomo, que atua na Cetesb há três anos, também já tinha ido para a Antártica no ano passado, mas disse sempre se surpreender com os mistérios daquele mundo gelado.

A começar da viagem num avião Hércules, da Força Aérea Brasileira. “Do Rio até a base, passando por Punta Arenas e Estação Antártica Presidente Frei, no Chile, foram cinco dias, incluindo as paradas e três horas de navio no trecho final”.

Análises

Com uso de retroescavadeira, foram coletadas cerca de 40 amostras de sedimento a até quatro metros de profundidade. Essas amostras estão sendo analisadas nos laboratórios da Cetesb para determinar os teores de hidrocarbonetos, dioxinas, furanos e metais.

“Hoje, as condições do solo já estão melhores”, afirmou Fernando Pereira. A área afetada passa por processo de recuperação, sob orientação da Cetesb.

Depois de delimitar a extensão da contaminação, a empresa determinou a remoção dos escombros e das cinzas do incêndio, que foram trazidos para o Brasil.

As amostras das duas primeiras campanhas revelaram a redução nas concentrações de dioxinas e furanos, contaminantes liberados no incêndio.

A concentração média nos sedimentos das áreas avaliadas durante a primeira delas girou em torno de 72,7 ng/kg (nanogramas/kg).

Já a segunda campanha apontou 32,9 ng/kg, abaixo dos 45,6 ng/kg, padrão estabelecido pela EPA, agência ambiental dos Estados Unidos, mostrando que os trabalhos de recuperação ambiental estão dando resultados.

Houve ainda a contaminação por vazamento de combustível, que acontece nas operações de abastecimento de máquinas e veículos. “A nova estação brasileira, que deve entrar em funcionamento no final do ano, prevê a modernização do sistema de abastecimento dos equipamentos, para evitar essa forma de contaminação do solo”, disse Fernando Pereira.

A recuperação desse solo é feita por meio de uma biopilha, desenvolvida pela Universidade Federal de São João Del Rei, em Minas Gerais, que estimula a atividade bacteriana no solo e promove a degradação dos contaminantes em compostos não tóxicos.

Esse problema, que afeta também as estações de outros países, como Argentina e Austrália, foi tema de reunião no Itamaraty, em Brasília.