Os seres vivos sempre fazem parte de comunidades heterogêneas, mantendo, com o meio físico e entre si, relações de interdependência, ainda que remotas. Cada espécie necessita de substâncias ou componentes básicos do meio para sua alimentação, reprodução e proteção. Além disso, há exigências quanto à estrutura e topografia do ambiente para que a espécie desenvolva seus hábitos característicos.
Tudo isso faz com que cada espécie somente se desenvolva em ambiente onde existam composição e estrutura favoráveis, chamado de habitat, de maneira geral. Mas o ambiente ou habitat não é constituído exclusivamente pelo meio físico. Frequentemente, o nicho ecológico, isto é, o alimento, o material para a construção de ninhos ou os meios de proteção, são oferecidos ou disputados por outros seres vivos, seus concorrentes ou predadores.
A integração equilibrada de todos esses fatores (físicos, químicos e biológicos), é que permite e regula a sobrevivência, o desenvolvimento e o equilíbrio populacional de uma determinada espécie biológica. Nesses ciclos ecológicos, há uma reciprocidade na qual a economia da natureza não significa o predomínio desta ou daquela espécie; significa, sim o desenvolvimento harmônico e equilibrado de todos os seres vivos.
Quando o meio ambiente não é capaz de fornecer as condições exigidas para a vida – nutrição, reprodução e proteção – ele se torna impróprio à sobrevivência do ser vivo. O sapo-boi, por exemplo, destrói certos besouros que prejudicam o cultivo da cana-de-açucar.
Entretanto, ele também se alimenta de insetos destruídores de moscas transmissoras de doenças. Como o sapo-boi prolifera com facilidade (vive 40 anos e põe 40 mil ovos por ano), é perigoso colocá-lo em regiões onde não existam outras espécies que possam devorá-lo, pois desta forma o equilíbrio ecológico não será mantido. É, por um outro lado, o sapo-boi que é tão bom para a agricultura, é também o responsável indireto pela proliferação de doenças.
O próprio homem se encarrega de quebrar o ciclo natural da sobrevivência. E em nome do conforto, do bem estar – e mais, do poder – o homem está transformado o seu meio ambiente, trazendo a poluição e provocando tragédias ecológicas.
Isso porque não está sabendo explorar adequadamente os recursos renováveis e não-renováveis da natureza. Até meados do século 19, a atividade do homem não concorria de forma tão acentuada para provocar mudanças drásticas que pudessem alterar a biosfera. A partir de revolução industrial, entretanto, e das grandes guerras mundiais, é que essas transformações começaram a ser sentidas com intensidade. É nessa época que a Inglaterra começa a conhecer os problemas de poluição do ar e da água.
A medida que o homem foi adaptando o meio ambiente às suas exigências progressistas, criando vacinas, meios de transportes, novas habitações, aparelhos sofisticados, novas formas de energia, explorando desordenadamente os recursos naturais, foi causando impactos e poluindo o ambiente.
A explosão demográfica também teve sua influência: tendo necessidade de maior quantidade de alimentos, o homem precisou preservá-los, utilizando irracionalmente os defensivos agrícolas na lavoura e na indústria.
O que aconteceu é que o homem partiu de uma visão puramente naturalista quanto à relação dos seres vivos com seu ambiente, para um pensamento imediatista, de explorar avidamente todos os recursos oferecidos pela natureza.
Antes, ele achava que as florestas, os rios, por exemplo, eram e deviam ser mantidos como verdadeiras obras de arte – levando em consideração apenas o lado estético, sem se preocupar com sua própria atividade, como se não fosse parte integrante da natureza. Mais tarde, só teve preocupação de tirar proveito desses recursos a qualquer custo, aqui e agora, sem pensar nas populações futuras.
Embora esse enfoque ainda persista em certos setores da humanidade, o homem já percebeu (ou está percebendo) que a utilização indiscriminada ou inadequada do meio ambiente poderá levar não ao bem estar das pessoas, mas à destruição da vida no Globo. Percebeu ou está percebendo que a economia da natureza não deve significar o poderio econômico de alguns, mas sim a distribuição ou troca dinâmica e racional da energia produzida, visando a uma reciprocidade ou equilíbrio harmônico para o convívio das espécies vivas.
Dessa forma, um terceiro enfoque da ecologia é o que reconhece a existência dos recursos naturais, a necessidade de sua exploração para que o homem possa sobreviver. E também a necessidade imperiosa do estabelecimento de normas e medidas que racionalizem as atividades humanas e a utilização do ambiente.
Quem utilizou, pela primeira vez, o termo ecologia, em 1866, foi o naturalista alemão Ernest Haeckel, propagador das idéias de Darwin. Ele a definiu como “economia biológica ou economia da natureza”, ou ainda “ciência dos costumes dos organismos, suas necessidades vitais e suas relações com outros organismos” e mais, como “o estudo das relações de um organismo com seu ambiente inorgânico e orgânico”.
Atualmente, a definição de ecologia (do grego oikos – casa) está mais restrita ao estudo das relações entre organismos e o meio, enquanto o termo etologia (que para Haeckel era empregado como sinônimo de ecologia) se reserva ao estudo de costumes.
Quando Lavoisier enunciou o princípio de que “na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, estava falando em ecologia. E é fácil perceber que o cientista estava certo em sua análise do ser vivo e suas atividades básicas.
Segundo os pesquisadores, todo ser vivo é constituído de moléculas orgânicas, isto é, grandes moléculas formadas de extensas cadeias de carbono. Esse tipo de composto apresenta inúmeras vantagens para o organismo, devido ao seu grande tamanho, propriedades coloidais etc. Além disso, é um verdadeiro reservatório de energia.
Quanto mais extensa e complexa é a molécula, maior a quantidade de energia necessária para produzi-la. Por outro lado, maior será a quantidade de energia armazenada e disponível para as atividades vitais.
Nutrição é o processo de obtenção de matéria e energia do meio para a construção do organismo – e, portanto, o crescimento e multiplicação – e realização de suas atividades (movimentos, reações químicas diversas, manutenção de temperatura etc.).
Há duas maneiras básicas de nutrição. Ou os organismos se alimentam de compostos orgânicos já existentes no meio ou sintetizam e produzem esses compostos orgânicos.
Para a produção dos compostos, há necessidade de carbono obtido do gás carbônico e de grandes quantidades de energia. A fim de se alimentarem de compostos orgânicos, as espécies consomem outros seres vivos ou seus produtos, pois na natureza, os compostos orgânicos são produzidos pelos seres vivos.
Pode-se dizer, então, que direta ou indiretamente, toda atividade vital na Terra depende da capacidade de produção de matéria orgânica.
Nem todos os seres vivos têm capacidade de produzir compostos orgânicos a partir de carbono não orgânico. Somente os chamados autótrofos (produtores), em sua maioria, utilizam a luz solar como energia para a síntese (produção). Os outros organismos, denominados heterótrofos (consumidores ou decompositores) dependem basicamente da existência dos primeiros para a sua sobrevivência.
Os seres autótrofos são todos vegetais. Os heterótrofos são os animais e alguns grupos vegetais, como os fungos (cogumelos, mofos, levedos) e muitas bactérias.
Os autótrofos têm um pigmento verde, a clorofila que, exposta à luz do sol, transforma o gás carbônico em alimento (compostos orgânicos), liberando o oxigênio. É o processo da fotossíntese que, para ser realizado, depende também da água.
A vida no nosso planeta depende, assim, da existência da luz, da clorofila e da água. Há exceções: algumas bactérias que sintetizam compostos orgânicos empregando a energia resultante de reações químicas que provocam no meio; mas isso é inexpressivo, em face da fotossíntese.
O animal ou ser humano, ao ingerir compostos orgânicos obtidos direta ou indiretamente dos vegetais verdes, adquire, por este processo, sua reserva de energia disponível, que fica acumulada principalmente sob a forma de gordura ou de açúcares, nas células do corpo.
Para dispor dessa energia, basta que realize a reação contrária, isto é, transforme novamente estes compostos em gás carbônico: a transformação de um composto rico em energia em um outro composto pobre em energia levará, necessariamente, ao desprendimento ou restituição da energia acumulada, segundo o princípio de Lavoisier. Esta transformação é feita pelos animais com a intervenção do oxigênio: trata-se de uma reação de oxidação que recebe o nome de respiração.
Em todo processo de respiração há destruição ou decomposição de compostos orgânicos. Ou melhor: na natureza, a todo processo de composição (produção de alimentos) segue-se outro de decomposição (análise).
Esse equilíbrio é condição fundamental à continuidade da vida, porque se a quantidade de energia solar é praticamente inesgotável, por sua vez, a quantidade de carbono e outros elementos constitutivos das moléculas orgânicas é limitada no ambiente habitado.
Assim, produzir e consumir alimentos são processos vitais em cadeia. Uma árvore produz frutos. Aparecem pássaros que se alimentam deles. A árvore é um ser produtor e os pássaros são seres consumidores primários, porque se alimentam desse produtor. O gavião, que devora o pássaro é um consumidor secundário. A onça, que come o gavião, é consumidor terciário e assim por diante.
Pristley, no século 18 , fez uma experiência interessante. Colocou um rato sob uma campânula de vidro e uma planta sob outra. Ambos os organismos morreram depois de algum tempo. O primeiro por falta de oxigênio, e o segundo por não ter quem consumisse seu oxigênio. Em seguida, o cientista colocou outro ratinho e outra planta sob a mesma campânula e os dois sobreviveram.
Isso ilustra bem que a produção e o consumo de oxigênio é um processo fundamental à continuidade da vida no Planeta.
Os vegetais fotossintetizantes, ao produzirem compostos orgânicos, liberam, com subproduto da reação, oxigênio molecular que enriquece o meio. Eles produzem muito mais oxigênio do que necessitam, permitindo a respiração de todos os consumidores aeróbios (a respiração aeróbia é realizada em mais larga escala na natureza).
Com o consumo de oxigênio na respiração e equivalente ao oxigênio produzido na fotossíntese, assim como ocorre inversamente com o gás carbônico, essas substâncias se equilibram no ambiente atmosférico, mesmo levando-se em conta as taxas de respiração e fotossíntese das plantas nos períodos diurnos e noturnos. Assim, a equivalência das atividades de síntese e de decomposição é responsável, também, pela manutenção do equilíbrio entre esses gases na Terra.
A capacidade de produzir e utilizar compostos orgânicos existentes no meio varia de uma para outra espécie vegetal ou animal. Cada espécie apresenta, assim, exigências particulares ou específicas com relação à composição e estrutura do meio ambiente.
Dessa forma, segundo o professor Samuel Murgel Branco, “o tipo de alimentação de cada espécie é um dos mais importantes fatores ecológicos a determinar a existência, a abundância, a predominância ou o equilíbrio em um determinado ambiente”.
Essas exigências particulares de alimento levam à existência de cadeias alimentares em cada ambiente ecológico. As cadeias se compõem de diferentes espécies de produtores e consumidores, uns sendo o alimento dos outros. Assim, a reprodução de cada um deles tem que ser suficientemente grande para, além de dar continuidade à própria espécie, fornecer o alimento indispensável à espécie que dela depende.
A destruição de um só dos elos dessa cadeia pode ter efeitos catastróficos, causando o desaparecimento total do elo seguinte (dependente do primeiro) e a superpopulação do meio pelo elo anterior. A eliminação de aranhas de uma região, por exemplo, pode causar o desaparecimento total do vespão que delas se alimentam e, consequentemente, a superpopulação de insetos.
O desequilíbrio pode ocorrer também com a introdução de um elemento estranho à cadeia e cuja proliferação se torna muitas vezes incontrolável. Por exemplo: a introdução do coelho na Austrália, para destruir cactos e plantas daninhas, gerou problemas ainda mais sérios que o anterior. O animal passou a dizimar plantações e não havia, na fauna local, outra espécie capaz de destruí-los.
Esses elementos estranhos podem ser também substâncias – fertilizantes, por exemplo – que o homem utiliza para elevar a produção por área. Essas substâncias nutrem excessivamente organismos autótrofos e heterótrofos, quebrando o processo de síntese e decomposição.
Quando se introduz, por exemplo, resíduos sólidos ou líquidos nas águas de um lago, isso pode conduzir a uma superpopulação de bactérias que consomem todo oxigênio, levando à morte peixes e outros seres aeróbios (processo de eutrofização).
Muitas plantas dependem de fatores físicos, como o vento ou a água, para transporte de seus grãos de pólen ou de suas sementes, que garantem sua fecundação e disseminação. Isso prova que o processo de reprodução – indispensável também à continuidade da vida na Terra – está ligado às condições ambientais, que o favorecem ou prejudicam.
Frequentemente a reprodução envolve também relações inter-específicas, por vezes bastante complexas. Certas espécies dependem de outras para a realização de seu processo reprodutivo. Pássaros, morcegos, e outros animais são indispensáveis, por exemplo, ao transporte de sementes, garantindo a disseminação da espécie vegetal.
Algumas sementes possuem substâncias mucilaginosas que as fixam ao bico das aves, obrigando-as a esfregá-los na superfície de outra árvore, sobre a qual a semente germina.
A intervenção do homem na natureza, modificando ou eliminando qualquer um desses fatores ou seres responsáveis pela fecundação ou disseminação, pode originar profundas mudanças ecológicas.
É preciso, pois, assegurar a sobrevivência da espécie e, para isso, dispor de estruturas e processos que as protejam de fenômenos naturais (intempéries) e da agressão de outros seres vivos.
Qualquer animal que não disponha de recursos defensivos eficientes pode ser completamente destruído por seus predadores naturais (há seres vivos que vivem da predação). Os vegetais não correm tanto risco por terem o poder da regeneração de suas partes lesadas ou amputadas e por terem crescimento vegetativo ilimitado. Apenas alguns animais têm essa capacidade de regeneração.
Os sistemas de proteção vão desde a simples camuflagem (o urso branco, por exemplo, confunde-se com a neve; e o tigre, com suas listas, com a vegetação típica do ambiente) até a construção de abrigos para o animal e sua prole (as conchas dos moluscos, as tocas dos roedores etc.).
Espinhos ( como os dos ouriços), couraças (das tartarugas e tatus), são outros tipos de estruturas defensivas. “Mas nem eles nem os abrigos acham-se tão intimamente relacionados com a natureza do meio ambiente quanto a camuflagem”, diz o professor Samuel Murgel Branco.
O camaleão, por exemplo, possui a capacidade de mudar a cor de sua pele, o que lhe possibilita confundir-se com uma grande variedade de locais. As borboletas têm as cores e a forma de pétalas de flores. Algumas gaivotas têm a coloração cinza azulada no dorso, que é confundida com a água do mar, quando vista de cima, e a cor branca na região ventral, que lhe permite não ser percebida pelos peixes, suas vítimas, de encontro à luz.
Quando a fauna natural desaparece, acontece um excessivo e desastroso desenvolvimento de animais nocivos que, por quantidade, acabam se livrando de seus predadores naturais, ficando com campo aberto para agir. Isso é muito comum na abertura da estradas ou grandes obras, quando é frequente o aparecimento de doenças transmitidas principalmente por insetos.
O meio ambiente, o sistema ecológico ou ainda o ecossistema constituem-se num conjunto de elementos e fatores indispensáveis à vida. Qualquer unidade que inclua todos os organismos (a comunidade) de uma determinada área interagindo com o meio físico, constitui um sistema ecológico ou ecossistema, onde há um intercâmbio de matérias vivas e não vivas.
Para Samuel Branco, “no meio ambiente pode não haver vida. Já o ecossistema pressupõe, em si mesmo, a existência de vida”. Ele explica:
– O meio ambiente constitui-se numa noção mais estática. Embora contenha elementos e condições necessárias à vida, pode não haver estrutura que a condicione. Meio ambiente também difere de habitat, que já dá uma conotação geográfica ou espacial. O habitat seria o ambiente nativo. Exemplos de ecossistemas: uma floresta inteira ou uma simples bromélia (família de plantas semelhantes ao abacaxi), um lago, um rio.
Muitos fatores e elementos delimitam a composição de um ecossistema. Existe. por exemplo, a composição física do meio, como a natureza do solo, luminosidade, temperatura etc. A composição química: sais minerais e compostos orgânicos utilizados como nutrientes; acidez ou alcalinidade; oxigênio; gás carbônico. Há a presença de outras espécies: predadores, seres que vivem do mesmo tipo de alimento ou que dependem reciprocamente uma espécie da outra, parasitas, alelopatas, que são vegetais que, através de suas folhas, ramos, frutos ou raízes, produzem substâncias que dificultam o crescimento de outros vegetais.
Há ambientes naturais artificiais. Os naturais são constituídos por componentes dos ecossistemas em geral e que atendem às necessidades básicas de nutrição, reprodução e proteção.
Os seres vivos utilizam-se oportunamente dos elementos da natureza, mas são passivos em relação à estrutura e composição do meio ambiente. Sua participação na composição do ambiente ecológico é puramente circunstancial. Raríssimas espécies provocam alterações direcionais em um ecossistema, como as formigas, abelhas ou os castores que, mesmo assim, têm sua capacidade extremamente limitada por fatores naturais.
As abelhas, por exemplo, constroem habilidosamente suas colônias, mas dependem da existência de flores nas proximidades, como fonte de néctar e pólen para sua sobrevivência.
Os castores, por sua vez, cortam árvores e constroem barragens com os troncos, originando os lagos – ambiente favorável à sua vida e reprodução. Entretanto, na ausência de árvores, não conseguem substitui-las por outro material, como blocos de pedra, por exemplo.
Além disso, em todas as realizações, o animal nunca improvisa. Segue um padrão rígido de construção. Faz tentativas para fugir de uma armadilha, mas é incapaz de realizar experiências no sentido de conquistar um ambiente novo ou de alterar sua habitação natural. Ou ele encontra o ambiente e os materiais necessários ao seu modo de vida ou ele morre.
Na natureza, só o homem é capaz de fugir inteiramente a essas restrições. Sua capacidade de improvisação não tem limites e ele a usa para mudar seu ambiente de modo a torná-lo mais adequado ao seu tipo de vida. Que, por sinal, foi modificado por ele mesmo, perdendo seu sentido natural de satisfação e necessidades fisiológicas básicas.
Começaram a surgir no homem as necessidades ideais, traduzidas em conforto, bem estar, padrões estéticos, poder, satisfação de aptidões intelectuais, resultantes de atividade mental que lhe é peculiar e exclusiva.
O peixe está integrado em um ecossistema na medida em que se alimenta de crustáceos e estes de algas, que captam energia solar. Um leão faz parte de um ecossistema florestal porque se alimenta de pequenos animais, por sua vez, devoram outros menores, consumidores de vegetais, que captam energia solar.
Nem o peixe pode viver na floresta nem o leão no mar, simplesmente por não disporem de condições de obter alimentos (ou energia) nos ambientes trocados.
Um ser vivo está integrado em determinado ecossistema quando é capaz de fazer convergir para si as energias ou partes das energias canalizadas através desse sistema, por intermédio de reações tróficas.
Não basta existir a energia no meio. Para dispor dela, os seres vivos necessitam de aptidões específicas e isso acaba por determinar a fixação da espécie a um único ecossistema, assim como estabelece um processo particular de canalização de energia através de elementos desse ecossistema.
Aqui também aparece o homem como exceção à regra. Ele é o único ser vivo que não é filiado a qualquer tipo de ecossistema. Ele consegue utilizar em seu benefício várias fontes físicas ou químicas de energia, sendo capaz de obter alimentos (energia) em qualquer ecossistema.
Os canais de energia nos ecossistemas é que dão à natureza sua estabilidade, limitando a ação predatória que poderia facilmente acabar com uma espécie ou mesmo com um ecossistema. É fácil imaginar o que aconteceria se qualquer ser vivo pudesse se alimentar de toda espécie de animais ou vegetais que encontrasse pela frente.
É aqui que se pode sentir o perigo resultante de independência ecológica ou energética do ser humano.
Talvez tenha sido quando começou a utilizar o fogo que o homem iniciou as mudanças de seu ambiente ecológico. Ao queimar matas para o plantio e devastar florestas para obter combustível, ele deu origem aos primeiros desertos e aos problemas de erosão. A agricultura intensiva levou, em certas áreas, ao esgotamento dos nutrientes minerais da terra e sua consequente esterilização.
Os conflitos entre o ser humano e o ambiente que ele próprio criou começaram, pois, com a substituição dos processos naturais por métodos artificiais. E, se por um lado o homem não pode abandonar a tecnologia que criou e desenvolveu, por estar adaptado ao meio artificial originado por ela, por outro lado não poderá suportar indefinidamente o excesso de energia e os subprodutos introduzidos em seu meio ambiente natural.
É assim que o homem é obrigado a tentar soluções através do desenvolvimento de uma nova tecnologia de proteção ao meio ambiente.
Nenhum ser vivo é capaz de viver permanentemente em temperatura superiores a 70 ou 80 graus centígrados. Como também não aguentaria permanecer por muito tempo em temperaturas muito baixas. Existem limites em relação às variações do meio.
Esses extremos de tolerância natural dos seres vivos é que constituem as fronteiras que demarcam a biosfera. Não se trata, então, de uma camada geométrica do globo em que é possível a existência de vida. Isso tem um sentido muito mais ideal do que físico: vai até onde o ser vivo pode ir, com vida.
Os limites de tolerância estão também condicionados à velocidade e forma em que acontecem as mudanças no meio ambiente. Se as alterações forem muito rápidas, por exemplo, podem ocasionar o desaparecimento de espécies e até grandes catástrofes. Já as modificações lentas permitem uma adaptação evolutiva (evolução das espécies).
O homem sempre difere dos outro seres pela sua possibilidade de improvisação e criatividade. É dessa forma que escapa à seleção natural pela fome ou escassez de alimentos, tendo mais condições de sobreviver às mudanças e crescer populacionalmente.
Para sobreviver a doenças e intempéries, o homem teve que desenvolver métodos e técnicas, amoldando o meio ambiente a novas condições e necessidades humanas.
Aparecem substâncias contra as pragas da lavoura, que passaram a pertencer ao ambiente. Assim como surgiram métodos e substâncias para a preservação dos alimentos por tempo ilimitado e que se incorporaram ao nosso ecossistema.
Todos esses recursos artificiais utilizados pelo homem foram se tornando indispensáveis. A ele se dá o nome de tecnologia. E, o ambiente inteiramente artificial resultante da tecnologia vem sendo chamado de tecnosfera.
Todos os seres vivos têm a tendência de viver em grupos de estruturas definidas, principalmente quanto à divisão de trabalho. Desde modo, é mais fácil obter alimentos, defender a prole, sem contar que a possibilidade de sobrevivência é muito maior do que com a vida isolada.
Entre os animais nota-se também a existência de castas, que diferem entre si por funções, e também biologicamente, como no caso das abelhas.
As grandes diferenças entre essas comunidades e as humanas são que o homem não difere de outro homem biologicamente: a seleção de trabalho é feita por seleção resultante de hábito ou treinamento, de tendência a aptidões mentais e de pressões sociais.
Outra diferença é que o homem, apesar de viver em comunidade, mantém um alto grau de individualidade – o que não acontece com os outros seres vivos. E da atividade mental do homem surge a originalidade, que também só se aplica ao ser humano, e cuja ausência em outros tipos de sociedade permite maior rigidez de estrutura e automatismo.
Como o homem é um ser individualista e criativo, sua dependência dos demais de sua espécie é apenas casual e questionável. Nessas condições, sua função na sociedade assume aspecto de obrigações.
Dessa forma, começou a existir o senso ético ou padrão de comportamento, única base para uma atividade cooperativa na comunidade humana. Não tendo base biológica, o padrão e o comportamento só podem derivar da compreensão, ou melhor, as obrigações do homem para com a comunidade só são assumidas quando entendidas suas finalidades.
O controle da qualidade do meio ambiente, por exemplo, quando realizado por animais, em benefício da sua comunidade, resulta de um padrão biológico. No caso do homem, a preservação de seu ecossistema somente será conseguida através de um processo de conscientização nesse sentido.
Entretanto, o conflito entre desenvolvimento (produção) e proteção ao meio ambiente dificulta essa conscientização. A ação da tecnologia em relação às condições de sobrevivência do homem é geograficamente desigual. Em algumas áreas, a tecnologia mal aplicada gera grandes problemas para a qualidade da vida.
Há possibilidade de se desenvolver uma tecnologia branda, voltada para o uso de substâncias recicláveis, fontes de energia que não produzam resíduos que comprometam o meio ambiente.
É preciso, também, planejar-se adequadamente as atividades produtivas, visando a sua distribuição racional em relação às disponibilidades de área, de água e de recursos naturais em geral.
É característica da atividade humana provocar desequilíbrios. Da mesma forma como o homem obtém energia e trabalho a partir de desequilíbrios térmicos (nas máquinas a vapor ou de explosão) ou de desequilíbrios mecânicos (energia hidráulica) ou de desequilíbrios químicos (pilhas elétricas) ou ainda desequilíbrios atômicos (energia nuclear), ele procura, através de desequilíbrios ecológicos, obter maior rendimento energético.
Quando alteração ecológica afeta, de maneira nociva, direta ou indiretamente, a vida e o bem estar humano, trata-se de poluição. É a modificação de características de um ambiente de modo a torná-lo impróprio às formas de vida que ele normalmente abriga. Uma pequena redução de teor normal de oxigênio de um curso de água, por exemplo, causado por uma insignificante elevação de sua temperatura, pode provocar o desaparecimento e substituição de um grande número de pequenos seres excepcionalmente ávidos de oxigênio, como as larvas de libélulas. Isso pode se constituir numa séria alteração ecológica em um rio de montanha, de águas muito frias, pois provoca uma sensível mudança qualitativa de sua flora e fauna. Mas se a queda de concentração de oxigênio for insuficiente para afetar a vida de peixes e a fauna original for substituída por organismo que ainda lhe sirvam de alimento, essa alteração ecológica não poderá ser considerada poluição.
A nocividade da poluição tem um caráter passivo e não ativo. Caracteriza-se pela perda das condições propícias à vida de determinadas espécies vegetais e animais. Um incêndio não é um fator ecológico e, assim, não é poluição. O fogo, além disso, não tem valor seletivo, do ponto de vista biológico.
A presença e a permanência de um tóxico na água de um rio pode ter valor seletivo, eliminando parte da poluição biológica e permitindo a sobrevivência e a proliferação da outra parte ou mesmo o aparecimento de nova flora em substituição às primeiras. Mas é um elemento ativo e não passivo. Da mesma forma, o lançamento de uma rede de pesca tem valor seletivo, destruindo apenas certos tipos de organismos (peixes) de acordo com seu tamanho. Mas, sendo um processo ativo, não pode ser considerado elemento ecológico ou poluidor.