A vigilância ambiental vem contribuindo de forma significativa para os programas da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI), aumentando significativamente a sensibilidade da vigilância da poliomielite em diversas regiões do mundo.

A vigilância ambiental detecta a circulação de poliovírus em nível comunitário. Embora não seja possível vincular o poliovírus detectado nos esgotos diretamente aos indivíduos infectados, ela é uma ferramenta complementar à vigilância das paralisias flácidas agudas (PFA) e pode fornecer um indicador de alerta precoce sobre infecções silenciosas de pólio durante um surto. Há vários casos em que a vigilância ambiental detectou a transmissão da poliomielite em áreas onde não foram encontrados casos (Asghar et al. 2013; Klapsa et al., 2022).

Papel da vigilância ambiental

  • Detectar importações de Poliovírus 1 Selvagem e Poliovírus Derivados Vacinais
  • Detectar surgimento de Poliovírus Derivados Vacinais circulantes
  • Acompanhar a transmissão contínua de Poliovírus 1 Selvagem e Poliovírus Derivados Vacinais circulantes
  • Orientar estratégias de vacinação
  • Fornecer evidências para a certificação da eliminação do poliovírus (Sabin, selvagem e derivados)
  • Documentar o poliovírus liberado pelas instalações de fabricação ou laboratórios
  • Monitorar o desaparecimento das cepas de Sabin após retirada da vacina oral com vírus atenuado

Os humanos são o único reservatório do poliovírus, característica fundamental que qualifica a poliomielite para erradicação, assim como ocorreu com a varíola, após a imunização de grande parcela da população. A transmissão do poliovírus ocorre de pessoa a pessoa por via fecal-oral ou oral-oral. Um indivíduo infectado, independentemente da presença de sintomas, apresentará replicação do poliovírus na nasofaringe por alguns dias e no intestino por várias semanas. Os vírus eliminados pelas fezes no ambiente podem então ser detectados por meio da análise de esgoto e de águas residuais. A quantidade de vírus excretada nas fezes depende do indivíduo e do tempo de infecção, variando entre zero até 100 milhões de poliovírus por grama de fezes.

Por meio da vigilância ambiental, é possível obter informações valiosas sobre a circulação do poliovírus em populações-alvo, com maior potencial se tiverem as seguintes características:

Características das populações-alvo

  • Baixa sensibilidade ou ausência de vigilância de PFA (paralisia flácida aguda)
  • Baixa cobertura vacinal (no presente ou no passado)
  • Alta cobertura vacinal com uso de VIP (vacina inativada), já que a proporção de PFA nas infecções será muito baixa
  • Evidência de circulação recente de poliovírus selvagem ou derivado vacinal
  • Localizadas em áreas sujeitas à reintrodução por importação

Os números de casos e surtos de poliomielite no mundo podem ser acompanhados nos sites: https://polioeradication.org/ https://gis.ecdc.europa.eu/portal/apps/dashboards/fc1d8b9f4a8740808935600db9a96057

Dados de vigilância clínica, cobertura vacinal e análise de risco nos países das Américas podem ser visualizados no dashboard da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde):
https://www.paho.org/en/polio-surveillance-dashboard

Informações detalhadas sobre a Vigilância Ambiental de Poliovírus podem ser consultadas nos manuais orientativos publicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde):

Referências

Asghar H. et al. Environmental surveillance for polioviruses in the Global Polio Eradication Initiative. J Infect Dis. 2014 Nov 1;210 Suppl 1(Suppl 1):S294-303. doi: 10.1093/infdis/jiu384.

Klapsa D. et al. Sustained detection of type 2 poliovirus in London sewage between February and July, 2022, by enhanced environmental surveillance. Lancet. 2022 Oct29;400(10362):1531-1538. doi: 10.1016/S0140-6736(22)01804-9.