O cenário é o pior possível, parte dos resíduos já atingiu um córrego que abastece tanques de criação de peixes e, mais à frente, desemboca em um rio próximo à captação de água de uma cidade. Há riscos reais para a saúde da população e para o meio ambiente. Os resíduos químicos, extremamente perigosos, são conhecidos como poluentes orgânicos persistentes – POPs, de difícil degradação e com propriedades cancerígenas.

Esta situação de emergência vai ser enfrentada na próxima quinta-feira, 29.04, das 8h00 às 11h00, por um grupo de 31 técnicos de onze países da América Latina e Caribe, que está participando do Treinamento Internacional “Atendimento a Emergências Químicas Envolvendo POPs da Convenção de Estocolmo”, organizado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB.

O simulado, que faz parte do curso, vai se realizar no porão de um prédio da CETESB, na Avenida Professor Frederico Hermann Jr., 345, Alto dos Pinheiros, em São Paulo. Nesse local, o cenário simula um galpão de fazenda, onde vândalos destruíram embalagens de defensivos agrícolas ateando fogo em seguida.

A água utilizada no combate ao incêndio carreou os produtos químicos para o córrego e os técnicos, em meio à fumaça – na verdade vapores d’água -, precisam tomar decisões rápidas para evitar danos maiores ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, alertar os órgãos de defesa civil, vigilância sanitária, as concessionárias dos serviços de abastecimento de água da região e outros.

Com os nervos à flor da pele, os técnicos precisam, ainda, enfrentar a população que reclama, com os ânimos acirrados, dos riscos que estão correndo. A calma é componente fundamental neste caso, pois a comunidade precisa ser informada adequadamente, de forma a não gerar pânico. A imprensa também já se encontra no local e precisa, igualmente, ser municiada com informações adequadas.

Estas são algumas das situações que os técnicos do Setor de Operações de Emergência da CETESB enfrentam rotineiramente. Um longo aprendizado prático, complementado com cursos no Exterior. Foram 8.059 atendimentos no período de 1978 a 2008. O primeiro foi emblemático: o derramamento de 6.000 toneladas de óleo do petroleiro Brazilian Marina, no Canal de São Sebastião, e que levou à criação do setor.

É essa experiência acumulada ao longo dos anos que está sendo repassada aos técnicos da Bolívia, do Chile, da Colômbia, da Costa Rica, do Equador, do México, do Panamá, do Paraguai, do Peru e do Uruguai, além de órgãos dos governos federal e de Minas Gerais, Pernambuco e Tocantins, que estão participando do treinamento.

O curso faz parte das atividades da CETESB, que foi indicada para ser um dos oito Centros Regionais da Convenção de Estocolmo para POPs, com a atribuição de prestar assistência técnica, fomentar a gestão ambiental adequada de POPs e dar suporte na construção de legislações aos países da América Latina e Caribe. A Convenção de Estocolmo (CE) é um tratado internacional, em vigor desde 2004, com a finalidade de dar proteção à saúde humana e ao meio ambiente contra os efeitos dos POPs.

Esses produtos, além de carcinogênicos, têm outras características como a ampla distribuição geográfica e permanência nos ecossistemas por longos períodos, acumulando-se no tecido adiposo dos seres vivos. Os POPs mais conhecidos são o aldrin, cloridano, DDT, Mirex, PCBs (bifenila policlorada), dioxinas e furanos, que integram uma lista de doze compostos, que deverá, em agosto próximo, ser ampliada com a inclusão de novos produtos.

Texto
Newton Miura