Um empresário em sua pequena gráfica pode achar que não há problemas, por exemplo, em jogar trapos e estopas com restos de solvente no lixo doméstico. Mas a geração diária desse material, multiplicado pelo número de gráficas existentes no Estado de São Paulo, cerca de 6.200, atualmente, leva a um volume considerável de resíduos. Além disso, a estopa suja com solvente pode ir parar em algum aterro não adequado, possibilitando que a água da chuva, percolando através da massa de lixo, arraste os contaminantes presentes na estopa até atingir o solo e as águas subterrâneas.

Esse pequeno exemplo mostra a importância do envolvimento do setor gráfico com as questões ambientais, que foram o tema de um encontro promovido pela Editora Abril, em 04.05, na sede da empresa, em São Paulo. O evento “Diálogo: Sustentabilidade no Setor Gráfico”, que reuniu representantes de gráficas, fornecedores, sindicatos e organizações não governamentais, contou com a participação de Zoraide Senden Carnicel, gerente da Divisão de Coordenação das Câmaras Ambientais da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo – CETESB.

Participando de um painel com representantes da Cia. Suzano, Fundação Getúlio Vargas – FGV e Associação Brasileira da Indústria Gráfica – ABIGRAF, Zoraide introduziu o assunto da sustentabilidade com uma apresentação das Câmaras Ambientais. Após uma breve explanação sobre as novas atribuições da CETESB, ela explicou que as Câmaras são colegiados da Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SMA constituídos no âmbito da CETESB, de caráter propositivo e consultivo e tendo como meta promover a melhoria da qualidade ambiental por meio da interação permanente entre o poder público e os setores produtivos e de infra-estrutura do Estado, no que diz respeito à gestão ambiental, portanto “possuindo um caráter estratégico no caminho do desenvolvimento sustentável”.

Para Zoraide, como resultado dessa interação com o setor produtivo, inúmeros produtos têm sido gerados pelas 15 Câmaras Ambientais em funcionamento, na forma de normas técnicas, procedimentos, eventos e treinamentos, “os quais têm contribuído significativamente para o aperfeiçoamento das ações de licenciamento e controle da poluição”.

A coordenadora das Câmaras Ambientais finalizou sua apresentação falando sobre as ferramentas de gestão, lembrando, entre outros, que, conforme o decreto estadual de nº 47.400, de dezembro de 2002, os empreendimentos ou atividades que, por ocasião da renovação de suas Licenças de Operação, comprovarem a eficiência dos seus sistemas de gestão e auditorias ambientais, poderão ter o prazo de validade da nova licença ampliado, em até um terço. Ela, finalmente, destacou a importância das empresas adotarem a chamada Produção Mais Limpa, P+L, sobre o qual a CETESB produziu vários guias técnicos setoriais, inclusive dois da Indústria Gráfica, disponibilizados na internet, no endereço www.cetesb.sp.gov.br

Cerca de 6.200 gráficas no Estado de São Paulo

O setor gráfico brasileiro, cuja indústria completou 200 anos de existência em 2008, abrange um universo de pelo menos 19 mil empresas, responsáveis por cerca de 220 mil empregos diretos e faturamento girando em torno de R$ 23 bilhões. O setor participa com cerca de 1% do PIB nacional e cerca de 3% do PIB da indústria de transformação. No Estado de São Paulo, existem 6.172 gráficas, que empregam cerca de 90 mil pessoas e faturam R$ 15 bilhões. Entre suas principais matérias-primas, encontram-se as fôrmas, os substratos e os insumos químicos de impressão. As tintas, utilizadas no processo gráfico, contêm em sua composição elementos como resinas, corantes e solventes.

A grande maioria dos resíduos sólidos gerados pela indústria gráfica são as chamadas aparas de produção, ou seja, as sobras de substrato, impresso ou não, geradas durante o processo de impressão ou acabamento. Essas aparas, quer sejam de papel, cartão ou plástico, impressas ou não, são passíveis de reciclagem em basicamente todos os casos, independentemente do tipo de substrato ou do tipo de impressão. Cabe à gráfica segregar e destinar as mesmas para uma empresa que possa reciclá-las de forma ambientalmente correta. Outro tipo de resíduo importante, em termos de volume produzido no setor, é o das embalagens de matérias-primas, como capas de bobinas de papel ou cartão, envoltórios das latas de tinta ou as próprias latas vazias, que quase sempre são recicláveis.

Texto
Mário Senaga
Fotografia
Pedro Calado