A relevância de acidentes envolvendo produtos químicos, seja devido aos impactos ambientais que muitas vezes causam ou pela comoção social gerada, entre outros aspectos, associada à importância de se disponibilizar informações e estatísticas detalhadas sobre essas ocorrências, visando subsidiar programas de gestão dos riscos envolvidos, entre outras ações, fazem do Relatório das Emergências Químicas atendidas pela CETESB em 2010, um documento obrigatório e precioso.
O relatório mostra que o número de 461 ocorrências atendidas pela CETESB no ano passado, em todo o estado de São Paulo, por meio de suas agências ambientais e do seu setor especializado de Atendimento a Emergências, sediado na capital, em conjunto com equipes do Corpo de Bombeiros, prefeituras, Polícia Rodoviária, e órgãos de saúde pública e Defesa Civil, entre outros, esteve um pouco acima da média atendida nos últimos 15 anos, de 451 ocorrências. O balanço aponta que, mais uma vez, o maior número de atendimentos deveu-se às emergências envolvendo o transporte rodoviário e o descarte de resíduos químicos.
O número de ocorrências ao longo do ano de 2010 flutuou em torno de 36 por mês, exceto por janeiro, em que, excepcionalmente, foi atendido um número significativamente maior de emergências (55). Conforme o relatório, o número ampliado do primeiro mês coincidiu com período relatado como de grande crescimento para a economia, o que refletiria maior produção, transporte e armazenamento de produtos químicos, justificando, desta forma, o maior número de acidentes registrados.
Observou-se que o transporte rodoviário, a exemplo dos outros anos, continua sendo a principal atividade geradora de emergências químicas, representando quase 60% dos acionamentos da CETESB, seguido pelo descarte de resíduos químicos e indústrias. O documento destaca que cerca de 70% a 75% das emergências atendidas aconteceram em atividades não licenciáveis no âmbito do Sistema de Meio Ambiente – transporte rodoviário, transporte marítimo, estabelecimentos comerciais em geral e outras – , e em atividades ilícitas – descarte de resíduos químicos e “manchas órfãs” (manchas de óleo que aparecem na superfície do mar ou de outros corpos d´água e cuja origem não foi identificada).
Outra constatação que também vem se repetindo é relativa ao maior percentual de emergências abrangendo líquidos inflamáveis, como os combustíveis automotivos, ou seja, óleo diesel, álcool etílico e gasolina. De acordo com o documento, o número de atendimentos envolvendo estas substâncias é preocupante, “pois esses produtos, em razão da sua periculosidade intrínseca”, podem gerar incêndios e explosões, eventos esses normalmente de elevado impacto ao homem, ao meio ambiente e ao patrimônio”. Dentre os gases, destacaram-se os produtos GLP (gás liquefeito de petróleo), gás natural e amônia anidra. Já entre os líquidos corrosivos, destacaram-se os ácidos sulfúrico e clorídrico, e a soda caustica.
O Interior do estado concentrou o maior número de emergências, com 51%, equivalente a 235 atendimentos. Na região do Litoral, o número subiu de 43, em 2009, para 46, no ano passado, correspondendo a 10%. E a Região Metropolitana de São Paulo foi responsável por 39% das ocorrências. Uma informação importante é que 247 casos (53,6% do total) causaram contaminação do solo, 216 casos (46,8%), do ar, e em 107 casos (23,2%), de recursos hídricos – lembrando aqui que uma única emergência química pode atingir diversos “meios” simultaneamente, incluindo a fauna e a flora. O documento também ressalta que, os meios enumerados foram atingidos nestas situações emergenciais, com ações de mitigação em sua maioria efetivadas de forma rápida, portanto não cabendo correlação entre a contaminação ocasionada por essas ocorrências e a Relação de Áreas Contaminadas no Estado de São Paulo divulgada também periodicamente pela CETESB.
No balanço específico sobre o transporte rodoviário, a campeã entre as atividades envolvidas nas emergências químicas nos últimos anos, detalham-se e comparam-se as ocorrências atendidas em 2008, 2009 e 2010 nas principais vias terrestres, entre os 33 mil quilômetros de rodovias pavimentadas no estado de São Paulo. Especificamente no que se refere a 2010, sobressaem-se os 45 atendimentos realizados em vias de áreas urbanas, as 30 emergências na Régis Bittencourt, 21 na Anhanguera, 16 na Castelo Branco, 15 na Anchieta e igual número na Washington Luiz.
O relatório destaca, ainda, os acidentes de maior relevância em 2010 e detalha a distribuição das emergências químicas por Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos – UGRHIs, em todo o estado, com informações como a atividade geradora do acidente, principal classe de risco envolvida, principal contaminação ambiental gerada e se houve contaminação de recurso hídrico e, também, qual o município inserido na UGRHI apresentou maior número de acidentes. Vale a pena conferir.
Texto:
Mário Senaga