Entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro, a Cetesb marcou presença no Lase 2025 – Líderes Ambientais no Setor de Energia, evento que reuniu mais de 800 participantes de 21 estados brasileiros no WTC Events Center, em São Paulo. Reconhecido como o principal fórum de discussão socioambiental do setor elétrico, o Lase chega à 16ª edição como um espaço qualificado de troca de conhecimento, articulação institucional e debates estratégicos sobre a transição energética e os desafios do licenciamento ambiental no Brasil.
Com cerca de 100 palestrantes, distribuídos em três palcos temáticos, o evento teve como mote “Três dias para mudar três anos”, em referência ao período decisivo que o setor enfrentará entre 2025 e 2028. Nesse cenário, os temas socioambientais ganham protagonismo, impulsionados por fatores como a realização da COP30 no Brasil, a entrada em vigor do novo marco legal do licenciamento ambiental e o fortalecimento dos critérios ESG por parte de financiadores e investidores.
A Cetesb participou ativamente das discussões com a presença de quatro representantes. O diretor-presidente da Companhia e diretor da Abema – Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente, Thomaz Toledo, integrou o painel de abertura “Energia, Geopolítica e Transição: o Brasil no Centro das Transformações Globais”, que abordou o novo papel estratégico do país frente à intensificação da digitalização, às tensões internacionais e à agenda climática. Em sua fala, ele destacou que o papel do órgão ambiental vai além da regulação.
“É preciso criar condições para viabilizar investimentos que garantam avanços concretos em áreas como saneamento e energia limpa. Sem esses investimentos, vamos continuar com rios poluídos e degradação ambiental. Nosso papel é destravar processos e oferecer segurança regulatória para que os recursos se transformem em obras”
Toledo lembrou que, diferentemente de setores como energia e petróleo, que contam com órgãos de planejamento dedicados, o meio ambiente ainda carece dessa estrutura.
“Hoje, muitas vezes, o licenciamento assume um papel híbrido de regulação e planejamento, o que gera ineficiências e custos adicionais. Mais do que regular, precisamos apoiar a realização dos investimentos que vão concretizar a transformação ambiental e energética”
A diretora de Avaliação de Impacto Ambiental da Cetesb, Mayla Fukushima fez parte do painel “Como o Setor está se Preparando para o Impacto dos Eventos Climáticos Extremos em seus Ativos?”. A discussão contou com experiências práticas sobre prevenção, adaptação e resposta a riscos crescentes, como secas, inundações e incêndios em áreas críticas para a infraestrutura energética. Durante sua participação, ela destacou os principais desafios enfrentados pela instituição e as ações em curso para fortalecer sua atuação.
“A atual gestão busca aumentar a eficiência da Cetesb e, ao mesmo tempo, contribuir para o fortalecimento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, em um cenário marcado por eventos ambientais extremos e crescentes demandas”
Entre os pontos abordados, a diretora ressaltou o esforço da Companhia em aprimorar procedimentos e metodologias, adotando novas formas de pensar para melhorar o desempenho no licenciamento ambiental, especialmente no que se refere às obras de infraestrutura.
“Um dos focos atuais é a incorporação da variável climática nos processos de licenciamento, tema que vem sendo cobrado por órgãos como o Ministério Público. No entanto, esse avanço exige ainda a consolidação de metodologias e a coleta de dados históricos mais robustos”
Ela também alertou para a necessidade de repensar projetos já licenciados e ativos em operação, frente aos impactos das mudanças climáticas, o que pode representar custos adicionais. Por esse motivo, a Cetesb tem intensificado o diálogo com concessionárias e setores como transporte, saneamento e energia, buscando soluções conjuntas.
Por fim, Mayla comentou que a gestão atual tem se dedicado à melhoria da agilidade e da eficiência dos processos de licenciamento, com a adoção de critérios mais claros para priorização de demandas, o que já resultou na redução significativa do estoque de processos em análise.
Mobilidade Sustentável
Outro destaque foi a participação da diretora de Gestão Corporativa e Sustentabilidade da Cetesb, Liv Nakashima, no painel “Lei do Combustível do Futuro e a Transição Energética do Setor de Transportes”. O debate abordou o papel do setor energético na mobilidade sustentável e os desafios para a inclusão de combustíveis de baixo carbono, como biometano e SAF (combustível sustentável de aviação), na matriz nacional.
A partir do tópico “O papel da Cetesb no caminho da descarbonização do Estado”, a diretora reforçou o papel estratégico da Companhia neste processo, com foco especial na transição energética e no fortalecimento de instrumentos de licenciamento ambiental.
Segundo a diretora, ao contrário do cenário nacional, onde as emissões são majoritariamente provenientes de mudanças no uso da terra e florestas, São Paulo tem perfil distinto, com maior participação das emissões oriundas dos setores de energia e transporte.
“Por isso, o Estado tem investido em alternativas como o biometano, considerado um eixo-chave na estratégia da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística para alcançar as metas climáticas”
Nesse contexto, a Cetesb tem atuado de forma ativa para viabilizar o licenciamento ambiental de empreendimentos de biogás e biometano, assegurando a eficiência dos processos sem abrir mão do rigor técnico. “Em parceria com a Secretaria da Agricultura, publicamos uma resolução conjunta com critérios e procedimentos específicos por tipo de insumo — como resíduos da agroindústria, subprodutos animais e vegetais, e resíduos orgânicos urbanos e industriais. O objetivo é garantir previsibilidade e clareza ao empreendedor, facilitando a tramitação e a emissão das licenças”, ressaltou.
Outro ponto relevante, citado por Nakashima, foi a criação, em 2023, do Departamento de Sustentabilidade, voltado à priorização de projetos com ganhos ambientais e à ampliação da transparência. Um exemplo disso é o Relatório Dinâmico de Emissões de Gases de Efeito Estufa, atualizado em 2025, que disponibiliza dados públicos sobre os principais emissores do Estado, apoiando políticas públicas e decisões empresariais.
“A Cetesb deve ser agente facilitador de soluções sustentáveis, mantendo excelência técnica com agilidade nos processos de licenciamento”
Inteligência de dados
Já a contribuição do gerente do departamento de Governança e Inteligência de Dados da Cetesb, Marcelo Brizzotti, foi voltada à transformação digital e ao uso estratégico de dados ambientais.
No painel “Transformação de Dados em Indicadores de Gestão e Dimensionamento de Riscos”, Brizzotti abordou como a inteligência de dados pode aprimorar o monitoramento de riscos, gerar KPIs socioambientais (Indicadores-Chave de Desempenho que medem o impacto e o progresso de uma organização em relação a questões sociais e ambientais) eficazes e aumentar a eficiência no processo decisório em grandes empreendimentos.
Brizzotti apresentou a experiência da Cetesb na gestão e governança de dados, ressaltando o papel estratégico dessas informações para a atuação da Companhia.
“Com uma estrutura que inclui diretorias, laboratórios, agências regionais e setores especializados, a Cetesb trata os dados como ativos fundamentais para ampliar a transparência, apoiar decisões e gerar valor para a sociedade”
Essa iniciativa integra o projeto Cetesb do Futuro, que reforça a modernização da Companhia e sua missão de proteger o meio ambiente com eficiência e responsabilidade.
“A Cetesb precisa comunicar os seus dados, dar transparência, disponibilizar e gerar valor para quem está na ponta, para a sociedade”.
Lase
Com programação distribuída em três grandes eixos – Academias de Gestão Ambiental, Plenárias e Trilhas Técnicas –, o Lase tratou de temas como o novo marco legal do licenciamento ambiental, geotecnologias aplicadas, relacionamento com comunidades tradicionais, riscos climáticos e o papel da biodiversidade nos projetos energéticos. O evento contou com representantes governamentais, do setor privado e da sociedade civil.