Em 9 de janeiro de 1978, ocorreu o primeiro acidente ambiental que o banco de dados do setor de operações de emergência da CETESB atual EIPE – tem em seus registros. O navio-tanque Brazilian Marina, um petroleiro, colidiu com uma rocha submersa no canal de São Sebastião. Vazaram 6 mil toneladas de petróleo, que atingiu todas as praias do litoral norte, além de algumas do litoral sul do Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, foram acionados, inclusive, a Guarda Costeira Americana e a EPA (agência ambiental americana), a fim de ajudar, orientando o pessoal que atendia a emergência quanto aos procedimentos a serem adotados. A operação durou cerca de quatro meses.

A partir de então, foi criado o Comitê de Defesa do Litoral – CODEL, do qual faziam parte cinco órgãos federais e cinco estaduais, entre eles a CETESB, que agia como órgão executivo, responsável pela ação operacional nos acidentes. Para tanto, foi criado na agência ambiental paulista um setor cuja atribuição era a de se especializar na resposta aos derrames de petróleo, tendo para isso que capacitar funcionários e adquirir recursos materiais para fazer frente às demandas. Foi daí que surgiu o atual Setor de Operações de Emergência.

Os técnicos envolvidos na nova missão fizeram cursos no exterior e foram adquiridos equipamentos, sendo que, por cerca de cinco anos, a CETESB atuou com frequência em episódios de derrames de petróleo e derivados, em acidentes com navios petroleiros e em dutos, entre outros. A experiência nos atendimentos ao longo do tempo o ano de 2000 foi recorde, em torno de 600, ou quase dois acidentes por dia – rendeu à CETESB o reconhecimento nacional e internacional.

Também considerando a efetiva especialização do setor na prevenção e resposta aos casos de acidentes ambientais com produtos químicos, a Organização Panamericana da Saúde OPAS e a Organização Mundial da Saúde OMS designaram a CETESB como o “Centro Colaborador na Preparação de Emergências em casos de Desastres”, para que a experiência adquirida pudesse ser partilhada com outros países e, desta maneira, se cumprisse uma das missões da OPAS e OMS, no que se refere à transferência de tecnologia na área de controle ambiental. Desta forma, desde a sua designação como Centro Colaborador, em 1992, a agência ambiental paulista realiza uma série de atividades, em conjunto com o programa de preparativos para Casos de Desastres (PED) da OPAS/OMS, transmitindo sua experiência a outras instituições da América Latina.

Por outro lado, em agosto de 2001, a Coordenação do Programa de Qualidade da CETESB indicou o Setor de Operações de Emergência para a obtenção da certificação ISO 9001 versão 2000. Em março de 2002, o setor obteve tal certificação, tornando assim a CETESB o primeiro órgão público no Brasil a contar com o reconhecimento dessa norma, que garante os padrões de qualidade de produtos e serviços. É bom lembrar que em maio de 2005, o EIPE obteve a recertificação da ISO 9001 versão 2000.

Muitas estórias para contar

Atualmente, o setor conta com 24 funcionários, mas cerca de 60 técnicos já passaram pela área. O gerente da Divisão de Gerenciamento de Riscos, Edson Haddad, que está na CETESB desde 1983, atuando no setor, enfatiza que desde o início das operações, em 1978, até 2006, foram atendidas mais de 6.700 ocorrências em todo o Estado de São Paulo.

“Somente em 2007, já foram 16 atendimentos (até o dia 16/01), ou seja, uma média de 1 acidente por dia”, ressalta. Edson faz questão de lembrar e comemorar os quase 30 anos de trabalhos prestados pela Emergência: “O dia 9 de janeiro de 1978 é um marco na nossa história e podemos dizer, de alguma forma, que o setor completou neste mês 29 anos de atividades em prevenção, preparação e resposta às emergências químicas”.

“Para que possam atender todas essas ocorrências em campo, os técnicos participam de um treinamento de capacitação específico, com duração de 3 meses e aprovado pela ISO 9001”, afirma o gerente do EIPE, Jorge Luiz Nobre Gouveia, que tem 21 anos de CETESB e gerencia o setor há um ano e meio.

Com tantos anos de atuação, os técnicos lembram alguns casos mais marcantes, como a explosão no Osasco Plaza Shopping, o monitoramento de possíveis gases existentes no solo do presídio Carandiru, a queda de um avião da Transbrasil no aeroporto de Cumbica em 1988, a aventura de entrar nos túneis feitos pelos próprios presos no Centro de Detenção Provisória da Vila Prudente, para monitorar a migração de gases, o atendimento a um incêndio num depósito de pesticidas no Paraguai, em 2003, e outros causos ocorridos no Espírito Santo, Maranhão e Paraná.

Em 2001, por exemplo, o setor atendeu o rompimento de um duto na Rodovia Castelo Branco, no qual vazaram 168 toneladas de GLP, foram 30 horas de período crítico e que rendeu a toda a equipe uma carta do Departamento de Recursos Humanos, em reconhecimento ao trabalho desempenhado pelos técnicos, que contribuiu decisivamente para que não houvesse nenhuma vítima no episódio. Aliás, nestes 29 anos, apenas cinco ocorrências foram registradas – sendo duas graves – , onde dois técnicos sofreram queimaduras de 3° grau.

Para Carlos Ferreira Lopes, o mais marcante da equipe, além de necessário, é a ajuda mútua, a motivação para encarar o trabalho que muitas vezes dura vários dias. Com o que concorda Laércio Francisco Parmagnani: “Há uma solidariedade muito grande entre todos da equipe”. Segundo os técnicos, a fome, o frio e o sono são fatores que dificultam ainda mais o trabalho, justamente pelo fato dos atendimentos durarem cerca de 10, 15 e até 30 horas ininterruptas. Em um descarrilamento de trem, em 2000, o atendimento durou três semanas e a equipe era obrigada a se revezar.

O técnico mais antigo da área é Ednaldo do Prado, que está na Emergência desde 1982 e relata que o setor sofreu muitas mudanças ao longo do tempo, adquiriu equipamentos, se especializou e ganhou espaço. “Em 25 anos de atendimento, o caso que mais me marcou foi o incêndio na Vila Socó, em Cubatão. Além do local ser de difícil acesso, havia muitas vítimas fatais. Aquela imagem me chocou muito”, relata. Por outro lado, Agnaldo Ribeiro de Vasconcelos, que está na Companhia há 33 anos, conta que sempre quis trabalhar na área. “Desde que entrei aqui, sonhava em trabalhar na Emergência, mas só em 2003 vim pra cá”, afirma.

Já Anderson Piolli, que está na CETESB há 15 anos, desde 2001 no EIPE, recorda o caso de um atendimento a um posto de gasolina no centro de São Paulo, onde o reclamante, após responder positivamente ao questionário de avaliação do serviço prestado – requisito obrigatório da ISO 9001 -, pediu a ele um cartão. “Entreguei o meu cartão e nem pensei na razão do pedido. Fiquei muito surpreso quando chegou no setor uma caixa com diversos livros, que tinha como remetente aquele reclamante. Todos aqui ficamos admirados com a atitude dele e nos sentimos muito felizes pelo reconhecimento do nosso trabalho”, declara. Os técnicos contam, ainda, momentos engraçados que passaram, como quando foram confundidos com uma ambulância, que fôra chamada para levar um louco ao manicômio, ou ainda quando foram confundidos com agentes de saúde que distribuiriam vacinas gratuitamente.

Apesar da maioria masculina, há uma mulher entre os técnicos que atendem emergências. Íris Regina Fernandes Poffo é bióloga e começou no setor como estagiária. Hoje, com 20 anos de CETESB, é especialista em atendimentos de acidentes ambientais marinhos, participou de diversos grupos de estudo e atendimento a emergências.

Atualmente, nós trabalhos muito mais com a prevenção do que com a remediação”, conta, citando que nos últimos 5 anos só houve uma ocorrência com volume de óleo vazado superior a 200 metros cúbicos, por ocasião do rompimento de um oleoduto em São Sebastião, em 2004.

Centro de Controle

A união verificada nos atendimentos se estende ao ambiente de trabalho. Antônio Josué Pereira, 30 anos de Companhia e 10 de Emergência, é quem prepara os sucos naturais para todos que trabalham e visitam a área, além de enfeitar, na época do natal, as árvores da sede da CETESB e da Secretaria, em Pinheiros. Aliás, é bom lembrar que além dos técnicos que vão até o local da ocorrência, existe uma equipe no Centro de Controle das emergências que atende aos telefonemas sobre denúncias de acidentes ambientais, sendo de responsabilidade desses técnicos obter as informações básicas da forma mais precisa possível e repassá-la aos técnicos que se direcionam ao campo.

Conforme Edilson Rodrigues Silva, que está na CETESB há apenas 9 meses, quando os técnicos estão em campo, surgem necessidades que nós temos que ajudar a resolver.

Por isso, o Centro de Controle conta com 6 operadores, em turnos de 6 horas, 24 horas por dia. O resultado de tanta dedicação é positivo. “O índice de satisfação em atendimentos do Centro de Controle e da equipe de campo é de 100%”, afirma Jussara Aparecida dos Santos, funcionária desde 1989. Segundo ela, por ano, o Centro registra uma média de 12 mil ligações.

E, óbvio, como o trabalho não fica só na área técnica, as secretárias do setor e da divisão também acabam se envolvendo em cada acidente. Como diz Ana Claudia Massad Martins, 21 anos de CETESB e quase dois na emergência, o serviço é sempre dinâmico: “Aqui tem muito trabalho e é tudo `para ontem´, uma verdadeira loucura, mas é muito bom”.

Para 2007, a agenda do setor prevê, ainda, cursos no Peru, Nicarágua e Guatemala, que farão parte do time de países que já sediaram outros cursos, como Panamá, Equador, El Salvador, Cuba, Costa Rica e Paraguai. O setor também deverá realizar cursos In Company (solicitados por empresas para capacitar seus próprios funcionários). Enfim, apenas recordar que em dezembro de 2003, o EIPE lançou sua página no site da Companhia, tendo hoje uma média de 8 mil acessos por mês, atestando os bons resultados conseguidos ao longo destes 29 anos.

Texto
Valéria Duarte