Interessada em epidemiologia de águas residuárias, em especial, na identificação do SARS-CoV-2, a pesquisadora buscou a CETESB para ampliar e aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, de forma a repassá-los à academia colombiana.
Em sua estada na Companhia, entre os dias 16 e 27 de maio, acompanhada da gerente do Departamento de Análises Ambientais, Maria Inês Zanoli Sato, encontrou-se com a diretora-presidente Patrícia Iglecias, que a felicitou sobre seu relevante trabalho como também sobre seu incentivo à participação das mulheres na comunidade científica.
“É extremamente gratificante podermos receber em nossa casa a Dra. Yohana, que tem sido um ícone e uma inspiração a tantas outras mulheres. O programa ‘CETESB de Portas Abertas’ incentiva o repasse de conhecimentos, a formação de parcerias, para o desenvolvimento econômico sustentável, e, nesse caso, especialmente, o desenvolvimento da comunidade latino-americana”.
Durante as duas semanas de visita técnica, a doutora Yohana esteve nos Laboratórios de Virologia e Parasitologia, sob a supervisão da bióloga Mikaela Funada Barbosa, gerente da Divisão de Microbiologia e Parasitologia, acompanhando as análises de patógenos em amostras ambientais em companhia dos especialistas Suzi Cristina Garcia, Adalgisa de Melo, Ana Tereza Galvani e Octávio Luiz Ferreira.
Participou também das atividades de amostragem de esgoto e águas superficiais com o gerente da Divisão de Amostragem, Renan Oliveira Silva e a equipe de coleta e teve, ainda, a oportunidade de visitar o Laboratório de Ecotoxicologia onde acompanhou os ensaios de toxicidade aguda e crônica.
“Para o Departamento de Análises Ambientais, é sempre uma grande satisfação partilhar o conhecimento científico construído nos laboratórios da CETESB, principalmente em relação a essa ferramenta de vigilância epidemiológica de esgoto, que tem contribuído de forma expressiva globalmente para auxiliar na avaliação das tendências de casos de COVID”, afirma Maria Inês. “Essa também é sempre uma grande oportunidade de estabelecermos parcerias regionais e fortalecermos a área ambiental na América Latina e Caribe”, complementou.
Gentilmente, a professora Yohana aceitou conversar e falar um pouco mais sobre sua visita. A seguir, os principais pontos da entrevista:
Dra. Yohana, o que a fez escolher a CETESB, no Brasil, para aprofundar seus conhecimentos sobre a SARS-CoV-2?
Sou professora na Universidade de los Llanos e chefio um projeto de fortalecimento de laboratórios. Trabalho com ecotoxicologia e já trabalhei com água. Pesquisava uma forma de usar a água para diagnóstico de agentes infecciosos.
Procurei centros de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos, mas um dia conversando com a professora Gisela Umbuzeiro, que participa do comitê científico do SETAC – Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental, perguntei se ela conhecia algum lugar que trabalha com epidemiologia de águas residuárias, pois eu queria trabalhar com identificação de SARS-CoV. E ela falou “Sim, conheço. Trabalhei lá”. E me apresentou a CETESB. Essa foi a maneira que conheci a CETESB. O laboratório é muito bom e estou feliz por ter vindo aqui.
Em sua área, como a senhora vê as semelhanças e as diferenças entre Brasil, especificamente referente ao trabalho da CETESB, e o que é feito na Colômbia?
Na Colômbia, nós temos também um Ministério de Meio Ambiente. Temos algumas corporações ambientais em cada Departamento de Estado, mas elas não têm a capacidade científica como aqui.
Elas monitoram, mas geralmente terceirizam com empresas especializadas. No serviço público não há muito força como aqui nesse aspecto.
As universidades, alguns centros ambientais, centros de toxicologia que fazem monitoramentos não têm as provas acreditadas, são muito poucos que podem cumprir os requisitos. E é muito difícil acreditar uma prova.
Acho que minha estadia é uma excelente oportunidade para nós podermos aplicar em nosso local o que pessoal daqui faz, de podermos implementar algo semelhante. Que a CETESB também possa ir à Colômbia e que o pessoal de lá possa vir para cá.
Nesse sentido, a senhora acredita em possíveis parcerias?
Sim. Estava falando com a Maria Inês que nosso grupo trabalha muito os efeitos contaminantes em peixes e microalgas, assim, acho possível aplicar o que se faz aqui com peixes nativos com espécies que temos lá. Fazer parceria de estudos seria uma oportunidade muito grande de buscar a acreditação de nossos processos.
A senhora faz parte de grupos, como a Red Colombiana de Mujeres Científicas e OWSD-Colombia, que incentivam mulheres e meninas a participarem da ciência e da tecnologia. Como a senhora vê hoje o papel da mulher nas ciências?
Ainda há muita iniquidade. Nós temos uma brecha de gêneros muito grande. Em nível mundial aproximadamente 37 % dos pesquisadores são mulheres.
Um dos problemas à participação da mulher na ciência se dá porque a mulher continua sendo o centro da família – ela tem que cuidar de seus filhos, de sua casa, às vezes, de seus pais. A maioria dos homens, por exemplo, na América Latina, continuam com esse papel de lado.
Para a mulher científica é muito difícil – muitas têm que decidir: ou a família ou a ciência.
Nossos países precisam de uma política clara de equidade de gênero.
Na Colômbia, a Red Colombiana de Mujeres Científicas e a OWSD trabalham muito para isso, para que as instituições possam ver as diferenças – homens e mulheres têm os mesmos direitos, mas são diferentes. O Estado tem que olhar isso porque não é justo que a mulher continue tendo que decidir: estudo e ciência ou filhos e família.
Como mulheres pesquisadoras temos que estimular os meninos para que participem da ciência, mas estimular também as meninas para que elas vejam a ciência como oportunidades de vida. É difícil, mas é possível.
Texto: Cris Leite
Colaboração: Maria Inês Zanoli Sato
Fotos: Pedro Calado
Saiba mais
Profa. Dra. Yohana María Velasco-Santamaría
Professora Titular da Escola de Ciências Animais da Faculdade de Ciências Agropecuárias e Recursos Naturais da Universidade de los Llanos, Colômbia.
Professora e líder do Grupo de Investigação em Biotecnologia e Toxicologia Aquática e Ambiental – BioTox.
Única mulher colombiana no Comitê Científico de SETAC para a América Latina.
Graduada em Medicina Veterinária, pela Universidade Nacional da Colômbia.
Mestre em Biologia aplicada em peixes com ênfase em toxicologia aquática, com distinção, pela Universidade de Plymouth, Inglaterra.
PhD em Biologia, área de Toxicologia pela Universidade do Sul da Dinamarca.
Pós-Doutorado, área de toxicologia pela Universidade da Flórida.
Casada, dois filhos.
Red Colombiana de Mujeres Científicas
Associação de pessoas e instituições interessadas em promover, estimular e visibilizar a participação da mulher em ciência e tecnologia em âmbitos-chave para o desenvolvimento do país.
https://www.redcolombianamujerescientificas.org/
SETAC (Society of Environmental Toxicology and Chemistry)
A SETAC é uma organização profissional mundial sem fins lucrativos composta por cerca de 5 mil indivíduos e instituições em mais de 90 países dedicada ao estudo, análise e solução de problemas ambientais, gestão e regulação de recursos naturais, pesquisa e desenvolvimento e educação ambiental. Além disso, a sociedade tem mais de 20 mil seguidores em todo o mundo.
A SETAC Latin America é uma unidade geográfica da SETAC, criada em 1999 para promover e realizar atividades da sociedade na América Latina.
SARS-CoV-2
VIGILÂNCIA AMBIENTAL DE SARS-CoV-2 EM ESGOTOS E ÁGUAS SUPERFICIAIS
Considerando sua longa experiência em vigilância de patógenos, a CETESB iniciou o monitoramento ambiental de SARS-CoV-2 em 06 de abril de 2020, com o objetivo principal de acompanhar o comportamento de disseminação do vírus ao longo da pandemia e avaliar tendências de sua circulação nas populações pela correlação com o número de casos de COVID-19.
https://cetesb.sp.gov.br/sars-cov-2/