“Deus disse. Faça-se a luz! E a luz se fez… e Deus viu que era bom” (Gn 1:3). Esta era a luz divina, talvez o embrião de todas as outras que a ela se seguiram. Em dado momento toda ela esteve confinada em uma partícula minúscula, de massa infinita e temperatura extrema. Seguiu-se uma grande explosão que veio a originar outras fontes de luz de natureza física, hoje chamadas estrelas, e que povoam todo o Universo. Sabemos ser nelas que se formam aqueles corpos atualmente denominados elementos químicos.
Milhões de anos se passaram desde a grande explosão, até que neste nosso minúsculo pedaço de Universo a vida enfim viesse a desabrochar, originando dentre tantas e tão fantásticas, a curiosa e insaciável espécie humana, o Homo sapiens, que teima em querer entender e explicar os mistérios da criação maior.
Aí vieram a Filosofia, as Artes e as Ciências, dentre elas a chamada Química.
Envolta em mistérios e muito misticismo a alquimia surgiu como resultado da busca pelo elixir da longa vida e da pedra filosofal que permitiria transmutar o simples metal em ouro. Não se tratava de uma prática envolta em luz, uma vez que se desenvolvia como uma ciência hermética, de conhecimento não compartilhado e guardado a sete chaves.
E assim se passou desde a antiguidade até o Século XVII quando Robert Boyle (1627-1691) lançou nova luz ao conhecimento científico passando não só a compartilhá-lo como também descrevê-lo minuciosamente na forma que hoje se utiliza.
Em seu livro “The Sceptical Chymist” pela primeira vez o “AL” de alchemist é abandonado para dar lugar àquela que, coerente com a então nova visão de mundo e da natureza, viria se sobrepor à alquimia como uma Ciência definitiva, a Química.
A definição de átomo como a menor partícula que compõe a matéria já vinha desde os filósofos gregos da antiguidade (Leucipo e Demócrito), mas foi Robert Boyle, no seu “The Sceptical Chymyst” quem primeiro desenvolveu o conceito de elemento químico como sendo uma substância que não pode ser decomposta em outras mais simples.
Elementos químicos são “certos corpos primitivos e simples, ou perfeitamente sem mistura, que, não sendo feitos de quaisquer outros corpos, são ingredientes de que são imediatamente compostos todos aqueles corpos chamados perfeitamente misturados, e nos quais estes se decompõem em última análise”.
À época 12 elementos químicos já eram conhecidos, inclusive o chumbo e o enxofre, a partir dos quais se tentava produzir o ouro. Mas havia também a crença de que a pedra filosofal somente poderia ser obtida a partir de substâncias provenientes do organismo animal.
Com essa ideia na cabeça entra em cena Henning Brand (1630-1710) um certo alquimista de Hamburgo, Alemanha, que sem a devida formação também se fazia de médico, decidido a resolver o mistério da pedra filosofal.
Em 1669, Brand coletou 50 baldes de urina humana, que ele acreditava conter o ouro, por sua coloração dourada, a qual submeteu a evaporação até a putrefação. Naturalmente que todo este processo ele executou no “laboratório” ao lado da cozinha de sua casa. Lembre-se, foi a partir das cozinhas medievais que a Química prática se desenvolveu na Europa, tendo inclusive grande participação de anônimas mulheres. Levou em seguida o fétido resíduo resultante à fervura deixando após em fermentação por alguns meses, quando então submeteu o material à destilação numa retorta cujo gargalo mergulhou em um recipiente com água. Como resultado da destilação obteve uma substância pegajosa e transparente que, para espanto e admiração geral, emitia um brilho intenso ao contato com o ar, chegando mesmo a se inflamar e produzir densos gases brancos.
A esta nova substância H. Brand deu o nome de “Phosphorus” (portador de luz). Estava assim descoberto o primeiro elemento químico após a definição de Robert Boyle.
Menos de cem anos depois veio o extraordinário A. Lavoisier (1743-1794) que trouxe para a Química a luz da Ciência Moderna e a seguir D. Mendeleev (1834-1907) com a Classificação Periódica dos Elementos Químicos, cujos 150 anos de criação agora comemoramos.
Muito ainda há para ser contado e esta história mal começou a acontecer. Com ela seguiremos assim como que encantados pela luz radiante da NOSSA QUÍMICA, pois certamente também ela “Deus viu que era bom”.