A CETESB iniciou o monitoramento ambiental de poliovírus em 1979, com sua participação no Programa de Colaboração junto a OPAS de Erradicação da Poliomielite no Brasil. Em 1989, foi registrado o último caso de poliomielite no Brasil, e em 1994, o país recebeu a certificação de área livre da circulação da poliomielite, juntamente com a região das Américas. Por esse motivo, o monitoramento ambiental foi interrompido, sendo retomado em 1999, em decorrência ao surto de poliomielite em Angola e registros de casos importados em diversos países.
Esse monitoramento vem sendo feito sistematicamente no ambiente por meio do exame de amostras da composição fecal humana em esgotos, em pontos selecionados e estratégicos. A opção, em 1999, levava em consideração, por um lado, determinadas características do Estado de São Paulo, tais como a porta de entrada historicamente principal de turistas estrangeiros e o principal destino de populações migrantes ou de refugiados, em busca de emprego ou de acolhimento. Por outro lado, considerava-se a existência de vários países da África, da Ásia e do Oriente Médio que, em 1999, ainda não haviam alcançado a erradicação da doença, os quais se mantinham endêmicos ou epidêmicos, e de onde eram procedentes os vários migrantes para São Paulo.
Em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, quando foi detectada a presença de poliovírus selvagem no Aeroporto de Viracopos, Campinas (https://time.com/2917295/polio-brazil-campinas-who/), e do poliovírus derivado vacinal no Porto de São Sebastião (Cassemiro et al., 2016). Este programa também foi muito importante para acompanhar o processo de substituição da vacina oral da poliomielite, a SABIN trivalente, sorotipos 1, 2 e 3, pela SABIN bivalente, sorotipos 1 e 3 em maio de 2016 (https://polioeradication.org/news/global-synchronisation-and-the-switch/)
A partir de 2017, o monitoramento passou a incluir pontos de amostragem representativos de populações em maior risco para a reintrodução do poliovírus, em decorrência principalmente da baixa cobertura vacinal contra a poliomielite. Foram monitoradas populações em bairros da cidade de São Paulo e algumas cidades como São Carlos, São José dos Campos, Franca, Osasco e Diadema, consideradas em risco elevado ao ressurgimento da poliomielite.
Com o início da pandemia da COVID-19, o monitoramento foi interrompido em abril de 2020 devido às dificuldades de manutenção das atividades de amostragem e laboratoriais. A vigilância foi retomada em janeiro de 2022, abrangendo somente pontos de entrada, como os aeroportos internacionais de Guarulhos e Viracopos, regiões portuárias de São Sebastião e Santos e o terminal rodoviário Tietê.
Devido à situação de reduzida cobertura vacinal no Brasil, agravada principalmente pela pandemia, e consequente aumento do risco de reintrodução e ressurgimento da poliomielite no país, em 2022 a CETESB ampliou a vigilância com a inclusão de pontos de coleta em algumas cidades como Ribeirão Preto, Santo André, São Bernardo do Campo, Campinas e Guarulhos e em diversas áreas da região metropolitana de São Paulo. Nesse mesmo período, o Brasil passou a receber muitos refugiados do Afeganistão, país com circulação endêmica do poliovírus selvagem tipo 1, e por isso intensificou a frequência de monitoramento nesse ponto, passando de quinzenal para semanal. Também foram monitorados alguns locais de acolhimento aos refugiados, como hotéis e abrigos temporários.
Coeficiente de incidência de poliomielite e cobertura vacinal com VOP, em campanhas no Brasil, no período de 1968 a 2024.
Referências
Cassemiro KM, et al. Molecular and Phenotypic Characterization of a Highly Evolved Type 2 Vaccine-Derived Poliovirus Isolated from Seawater in Brazil, 2014. PLoS One. 2016 Mar 28;11(3):e0152251. doi: 10.1371/journal.pone.0152251
Ministério da Saúde. Coeficiente de incidência de Poliomielite e Cobertura Vacinal com a VOP, em Campanhas, Brasil, 1968-2024. 02 setembro 2024. Disponível em https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/poliomielite/situacao-epidemiologica/incidencia-de-poliomielite-e-cobertura-vacinal-em-campanhas.pdf. Acesso em 20 novembro 2024.