Autores: Vicente de Aquino Neto, Fernando R. Scolamieri Pereira, André Silva Oliveira e Elton Gloeden

  1. Introdução.
  2. Abordagem “Triad”.
  3. Plano de Amostragem.
    1. Caracterização das fontes de contaminação primárias.
      1. Existência, localização, dimensões e materiais constituintes.
      2. SQI
      3. Potência
      4. Classificação como ativa ou inativa.
    2. Caracterização das plumas de contaminação e das fontes de contaminação secundárias
      1. Volume de Concentração de Massa (Centro de Massa)
      2. Fase Livre e residual
      3. Fase sorvida
      4. Fase dissolvida
      5. Fase vapor ou gasosa
      6. Comportamento e dinâmica de propagação, capacidade de atenuação e possibilidade de atuarem como fonte de contaminação secundária
    3. Caracterização dos bens a proteger
    4. Caracterização dos compartimentos do meio ambiente
    5. Métodos de investigação
  4. Elaboração do plano de infraestrutura e segurança e de controle de qualidade
  5. Elaboração do cronograma
  6. Referências

1. Introdução

O planejamento da etapa de Investigação Detalhada é similar ao planejamento da etapa de Investigação Confirmatória (ver Seção 6.2), sendo estabelecidas ações semelhantes, mas com objetivos diferentes. Enquanto na etapa de Investigação Confirmatória se busca identificar a presença de fontes de contaminação primárias e de contaminações nos compartimentos do meio ambiente, na Investigação Detalhada o objetivo principal é caracterizar as fontes de contaminação, as plumas de contaminação e os bens a proteger identificados, assim como as características dos compartimentos do meio ambiente, permitindo determinar os caminhos de exposição potenciais ou reais a serem considerados nas etapas seguintes do Gerenciamento de Áreas Contaminadas (GAC).

No trabalho de Elaboração do Plano de Investigação Detalhada devem ser consideradas restrições técnicas e econômicas, os possíveis problemas ambientais que possam ser gerados pela sua execução e as necessidades para o planejamento e execução das medidas de intervenção, que já devem ser vislumbradas após a determinação do comportamento das contaminações mapeadas e da caracterização dos riscos e danos aos bens a proteger.

Dessa forma, o nível de investigação a ser atingido na etapa de Investigação Detalhada deve ser suficiente para entender o comportamento temporal das contaminações e embasar a execução das etapas de Avaliação de Risco (ver Capítulo 8), de Elaboração do Plano de Intervenção (ver Capítulo 9), de Execução do Plano de Intervenção (ver Capítulo 10) e de Monitoramento para Encerramento (ver Capítulo 11). Destaca-se que caso as informações obtidas durante a Investigação Detalhada não sejam suficientes para tais fins, em um segundo momento, deverão ser realizadas investigações adicionais ou complementares, preferencialmente durante a execução dessas etapas posteriores do GAC.

O planejamento das investigações a serem realizadas na etapa de Investigação Detalhada deve ser iniciado, considerando a completitude das informações apresentadas no segundo modelo conceitual da área (MCA 2) e no Plano Preliminar de Amostragem de Investigação Detalhada, ambos elaborados na etapa de Investigação Confirmatória (ver Capítulo 6).

Conforme definido na Seção 7.1, para a construção do Plano de Investigação Detalhada recomenda-se adotar a abordagem “Triad”, o que significa que o terceiro modelo conceitual da área (MCA 3) deve ser continuamente atualizado durante a execução da etapa de Investigação Detalhada, conforme os resultados sejam obtidos e interpretados, permitindo a realização dos ajustes necessários ao que foi planejado inicialmente na etapa de Investigação Confirmatória. Esses ajustes deverão ser feitos até que seja concluído, pelo Responsável Técnico, que os objetivos da Investigação Detalhada foram atingidos, podendo, portanto, ser consolidado, nesse momento, o MCA 3.

Destaca-se que a aplicabilidade e adoção da abordagem TRIAD para as investigações em cada caso é uma decisão do Responsável Técnico, juntamente com a concordância do Responsável Legal.

2.  Abordagem “Triad”

No planejamento da Investigação Detalhada é recomendável a aplicação da abordagem “Triad”, que é calcada em:

  • Desenvolvimento de planejamento sistemático;
  • Uso de estratégias dinâmicas de investigação;
  • Utilização de procedimentos de medição em tempo real.

Maiores detalhes sobre esta abordagem podem ser obtidos no “Web Site” da Agência Ambiental dos Estados Unidos da América (USEPA – Triad Resource Center, em: https://triadcentral.clu-in.org/index.cfm).

Em essência, a abordagem “Triad” requer um planejamento contínuo da investigação, ou seja, sistemático, que pode provocar mudanças das estratégias de investigação ao longo do trabalho de campo, de uma maneira dinâmica, a partir da análise de dados produzidos em tempo real, em alta resolução e interpretados rapidamente.

O uso dessa abordagem tem como justificativa a heterogeneidade espacial dos compartimentos do meio ambiente investigados, os quais representam a principal fonte de incerteza que afeta a tomada de decisão confiável. Assim, a partir do início das investigações, a obtenção de dados em tempo real e em alta resolução permite um melhor entendimento da heterogeneidade, e consequentemente uma redução das incertezas, o que provoca um reajuste das próximas investigações. Esse processo reiterativo prossegue até que os compartimentos do meio ambiente e a contaminação sejam caracterizados adequadamente, atingindo os objetivos da etapa de Investigação Detalhada.

Os dados obtidos em grande quantidade e com alta resolução espacial se utilizam de métodos analíticos quantitativos pouco precisos, semi-quantitativos ou qualitativos, que servem, principalmente, ao propósito de guiar as investigações para locais de maior interesse, onde então, são combinados com métodos de maior precisão, exatidão e acreditados, que assim podem ser melhor posicionados de maneira racionalizada, para que sirvam ao propósito de caracterizar precisamente a contaminação, proporcionando a sua utilização na etapa posterior de Avaliação de Risco e demais etapas do GAC.

Pode-se considerar que a vantagem da abordagem “Triad” está na possibilidade de alteração rápida da estratégia de investigação, durante a mesma mobilização de campo, pois se baseia em dados gerados em tempo real, e tomada de decisão mais assertiva, por conta de se utilizar de uma maior quantidade de dados e em alta resolução.

Cabe ser destacado que o planejamento sistemático sempre foi utilizado no planejamento da Investigação Detalhada, entretanto, recentemente, o desenvolvimento e disponibilidade dos métodos de investigação em tempo real e em alta resolução (ver Capítulo 14) propiciaram as condições necessárias para a utilização da abordagem “Triad”.

A diferença é que o emprego de técnicas tradicionais de investigação, de forma isolada, não permite, na maioria dos casos, uma tomada de decisão rápida e precisa por conta da produção de poucos dados de baixa resolução, que normalmente são insuficientes para a caracterização adequada da contaminação e da heterogeneidade espacial dos compartimentos do meio ambiente.

O planejamento sistemático é um processo rigoroso de planejamento de projetos, cujas atividades propostas são atreladas a uma base cientificamente defensável. Como elementos principais, o planejamento sistemático inclui:

  • Identificação das decisões a serem tomadas
    • Identificar as metas e objetivos do projeto.
    • Definir as decisões a serem tomadas.
    • Revisar o MCA 2.
    • Identificar lacunas de dados no MCA 2 e restrições à coleta de dados.
    • Preparar um plano de trabalho dinâmico para implementar a investigação de campo.
  • Desenvolvimento do MCA 3
    • Estabelecer o tipo, a quantidade e a qualidade dos dados iniciais necessários da investigação de campo.
    • Avaliar e selecionar métodos de campo para a caracterização do local e para a coleta de dados.
    • Elaborar um programa de coleta e análise de dados para abordar como, quando e onde os dados serão coletados.
    • Desenvolver o MCA 3, e revisar este modelo conforme novos dados são obtidos de forma dinâmica, identificando as incertezas que ainda necessitam ser eliminadas.
    • Consolidar o MCA 3, quando atingidos os objetivos das investigações.
  • Planos de apoio
    • Preparar planos de apoio para complementar o plano de trabalho dinâmico, incluindo:
      • Um Plano de Amostragem e Análise;
      • Um Plano de Garantia de Qualidade;
      • Um Plano de Saúde e Segurança do Local;
      • Um Plano de Gerenciamento de Dados;
    • Descrever os métodos para análise, avaliação e interpretação de dados, que considere o uso pretendido dos dados levantados.

No planejamento sistemático, também devem ser considerados outras questões importantes inerentes ao caso específico, como por exemplo, a segurança dos trabalhadores e da vizinhança ou fatores econômicos, de forma equilibrada, sem prejudicar as decisões técnicas necessárias para atender aos objetivos da Investigação Detalhada.

Outras situações como a existência de obstáculos físicos, problemas relativos aos prazos a serem atingidos ou recursos econômicos insuficientes, também podem provocar ajustes no Plano de Amostragem da Investigação Detalhada, sendo necessário apontar as soluções encontradas a esses problemas, com as devidas justificativas.

Observa-se que o desenvolvimento de metas e objetivos não pode ser uma ação subestimada. Muitas vezes durante o planejamento da Investigação Detalhada, atenção insuficiente é direcionada para estabelecer metas e objetivos claros, às vezes levando a investigações improdutivas que não proporcionam a obtenção das informações necessárias. Com objetivos claramente definidos, os recursos disponíveis podem ser usados de forma mais eficiente e eficaz, e com os ajustes necessários. Exemplos de metas e objetivos específicos da Investigação Detalhada estão listados a seguir:

  • Caracterizar tridimensionalmente as fontes de contaminação primária;
  • Definir e caracterizar as fontes de contaminação secundárias que contribuem para as plumas de contaminação em fase dissolvida e vapores;
  • Caracterizar a contaminação em fases livre, retida (residual e sorvida) dissolvida e gasosa/vapores;
  • Caracterizar os compartimentos do meio ambiente e desenvolver um modelo conceitual da geologia e hidrogeologia (ver Seção 1.4) que permita entender a distribuição espacial e dinâmica das plumas de contaminação detectadas.

3. Plano de Amostragem

O Plano de Amostragem da Investigação Detalhada é constituído pelas seguintes partes:

  • caracterização das fontes de contaminação primárias;
  • caracterização das plumas de contaminação e das fontes de contaminação secundárias;
  • caracterização dos bens a proteger;
  • caracterização dos compartimentos do meio ambiente.

3.1. Caracterização das fontes de contaminação primárias

Conforme descrito na Seção 1.2, uma fonte de contaminação potencial é uma utilidade, como por exemplo, uma máquina, um equipamento, um dreno, um tanque, uma tubulação, um poço ou um local utilizado para armazenar ou dispor materiais, que existe ou que existiu dentro de uma Área com Potencial de Contaminação (AP), a partir da qual pode ser liberada quantidade de substâncias para os compartimentos do meio ambiente.

Além dos exemplos de fontes de contaminação pontuais apresentados anteriormente, pode-se citar exemplos de fonte de contaminação difusa, como a aplicação de substâncias no solo em áreas agrícolas (efluentes, resíduos, fertilizantes, defensivos agrícolas).

Uma fonte de contaminação potencial se torna uma fonte de contaminação primária quando durante a sua utilização ou operação, está ocorrendo ou ocorreu a liberação de uma determinada substância química de interesse (SQI) para os compartimentos do meio ambiente, tornando-os contaminados.

Dessa forma, uma fonte de contaminação primária é definida como a utilidade a partir da qual está sendo ou foi gerada uma contaminação, identificada em um ou mais compartimentos do meio ambiente, existentes na própria área em avaliação (fonte de contaminação interna) ou na sua vizinhança (fonte de contaminação externa).

Portanto, o fato suficiente para classificar uma fonte de contaminação como primária é a constatação de contaminação, durante a execução das etapas do GAC, em pelo menos um compartimento do meio ambiente, gerada, comprovadamente, a partir dessa fonte.

Normalmente a identificação das fontes de contaminação primárias internas ou externas é feita durante as etapas iniciais do GAC, de Avaliação Preliminar e de Investigação Confirmatória. Nas situações em que persistem incertezas, após a execução dessas etapas, sobre as características das fontes de contaminação primárias, como por exemplo, incertezas sobre os limites de uma área de deposição de resíduos, haverá a necessidade de se planejar investigações complementares na Investigação Detalhada, visando definir adequadamente esses limites. Dessa forma, é necessário que todas as fontes de contaminação primárias identificadas, consideradas prioritárias no MCA 2 ou durante a construção do MCA 3, sejam adequadamente caracterizadas na Investigação Detalhada.

No desenvolvimento da estratégia dinâmica de trabalho, para realizar a Investigação Detalhada é essencial que sejam desenvolvidas atividades com o objetivo de caracterizar espacialmente as fontes de contaminação primárias localizadas dentro dos limites da área em avaliação, discriminando o nível de incerteza aceitável sobre esta questão.

Da mesma forma, quando houver a possibilidade de a área em avaliação ser atingida por contaminação originada em áreas vizinhas, proveniente de fonte de contaminação primária externa, é necessário planejar as investigações para sua caracterização. Nessa avaliação deve-se atentar para fontes de contaminação externas pontuais, localizadas em áreas onde são ou foram desenvolvidas atividades potencialmente geradoras de áreas contaminadas, fontes de contaminação difusas ou mesmo fontes de contaminação naturais (ver conceitos sobre fontes de contaminação na Seção 1.2).

O Responsável Legal deve comunicar imediatamente o Órgão Ambiental Gerenciador sobre as evidências levantadas de contaminação com origem em fonte de contaminação primária em áreas externas, com o objetivo de orientar o gerenciamento do caso.

Na sequência do planejamento sistemático devem ser propostas e dimensionadas as investigações necessárias para a caracterização das fontes de contaminação primárias internas, assim como as fontes de contaminação primárias externas.

Para caracterizar as fontes de contaminação primárias (internas ou externas) é necessário planejar investigações com o objetivo de obter as seguintes informações:

    • existência;
    • localização;
    • dimensões;
    • materiais constituintes;
    • SQI envolvidas;
    • potência;
    • classificação como ativa ou inativa.

No caso de fonte de contaminação primária externa, essas informações poderão ser estimadas com base nas características das plumas de contaminação identificadas a montante, que atingiram ou que possam atingir a área em avaliação. Outra maneira, consiste em investigar, se possível, a própria área vizinha com o objetivo de atualizar ou complementar o MCA 3 e refinar paulatinamente o Plano de Amostragem da Investigação Detalhada.

3.1.1. Existência, localização, dimensões e materiais constituintes

O passo inicial do planejamento das investigações das fontes de contaminação primárias requer uma estimativa da sua localização e dimensões (volume), assim como dos tipos de materiais constituintes (por exemplo, resíduos industriais ou resíduos da construção civil).

As investigações que buscam determinar a existência e localização de uma fonte de contaminação primária, como por exemplo uma área de deposição de resíduos, geralmente são planejadas ao redor dos locais onde foram identificados indícios da presença de resíduos na etapa de Avaliação Preliminar, ao redor das anomalias identificadas pela aplicação de métodos geofísicos ou no entorno dos pontos de amostragem onde esses resíduos foram detectados na etapa de Investigação Confirmatória, ou mesmo durante a própria execução da Investigação Detalhada.

Para esse trabalho os pontos de amostragem podem ser posicionados, a partir de julgamento profissional, nos sentidos horizontal e vertical, utilizando um design amostral direcionado, com o objetivo de se detectar visualmente a presença de resíduos em testemunhos de sondagens. Quando o objetivo for o de mapear a área de deposição de resíduos, sem informações prévias que indiquem possíveis locais de disposição, o design amostral probabilístico, utilizando uma malha regular de amostragem, se mostra mais aplicável.

Quando, no exemplo citado, o objetivo é a avaliação da viabilidade da técnica de remediação por remoção e destinação final adequada dos resíduos, pode ser necessária a definição mais precisa dos limites horizontais e verticais da fonte de contaminação primária, bem como da concentração média das SQI em todo o seu volume. Isso implicaria na necessidade de execução de um número maior de pontos de amostragem e análises, sendo a escolha de um design amostral probabilístico mais adequada. Esse exemplo evidencia como as intervenções futuras, quando previstas antecipadamente na etapa de Investigação Detalhada, podem influenciar no Plano de Amostragem da Investigação Detalhada, ou em sua complementação ou implementação nas etapas futuras do GAC.

Outro exemplo são as fontes primárias relacionadas a utilidades subterrâneas como tanques, caixas de passagem e tubulações de efluentes. A caracterização dessas fontes, muitas vezes negligenciada, pode ser a principal ação no sentido de obter subsídios para o planejamento das medidas de intervenção a serem adotadas, visando eliminar ou controlar a fonte de contaminação primária.

Inicialmente, esse trabalho pode ser feito por meio da aplicação de métodos indiretos de investigação, ou pela correlação com resultados analíticos indicativos da presença de contaminação nos compartimentos do meio ambiente, visando identificar os locais ou partes da fonte de contaminação primária onde ocorreu o vazamento de substâncias químicas. Os métodos de investigação podem ser, entre outros, a investigação passiva de vapores do solo, investigação ativa ou passiva de vapores no interior de tubulações desativadas, avaliação do pH do solo, medição de VOC com PID em solo ou diretamente nas utilidades.

As investigações da fonte de contaminação primária também podem ser realizadas por meio de filmagem de tubulações, escavação ou abertura de valas que exponha as tubulações, tanques ou caixas. Em determinadas situações a abertura de antigas valas, canaletas ou tubulações pode ser um trabalho relevante em detectar presença de lodos ou mesmo produto puro (NAPL) armazenado em seu interior. Muitas vezes esse tipo de fonte de contaminação primária pode ser caracterizado, em grande parte, visualmente, e complementada a partir da coleta de amostras direcionadas.

Os conceitos sobre design amostral probabilístico e direcionado são apresentados na Seção 6.2.

3.1.2. SQI

Quando não há informações sobre a composição dos materiais constituintes da fonte de contaminação primária no MCA 2, pode ser necessária a realização de coleta de amostras e análises químicas nesses materiais para a identificação das SQI. Utilizando-se de um design amostral probabilístico e de um amplo espectro de parâmetros, por exemplo, as características dos resíduos ou solos contaminados depositados em um aterro de resíduos clandestino e a sua composição química podem ser descritas de forma adequada.

Se houver fonte de contaminação primária externa em área localizada na vizinhança, fora dos limites da área em avaliação, a indicação das SQI poderá ter como base as informações sobre as plumas de contaminação mapeadas ou investigadas a montante.

Em casos que houver permissão de acesso, poderão ser planejadas investigações junto à própria fonte de contaminação primária externa para a identificação das SQI inerentes e se for de interesse, o mapeamento das plumas de contaminação.

3.1.3. Potência

A potência da fonte de contaminação primária é a capacidade que essa possui de provocar a contaminação dos compartimentos do meio ambiente, se propagar por eles e atingir os bens a proteger da área em avaliação ou em sua vizinhança.

A potência pode ser classificada em baixa, média ou alta em função da quantidade de massa liberada e distribuída nos compartimentos do meio ambiente. Por ser um parâmetro relacionado ao transporte e distribuição de substâncias, depende das características das SQI e dos compartimentos do meio ambiente (ver Seção 1.4 e Seção 1.5).

Como regra, as fontes de contaminação primária com potência baixa são aquelas em que as SQI envolvidas, mesmo após alguns anos da sua liberação para os compartimentos do meio ambiente, tendem a permanecer próximas da fonte de contaminação primária, se afastando apenas alguns metros. Normalmente se concentram em fase residual ou adsorvida.

As fontes de contaminação primária com potência média possuem SQI com tendência de se afastar da fonte de contaminação primária algumas dezenas de metros, predominantemente em fase dissolvida, alguns anos depois da ocorrência do vazamento. Podem atingir bens a proteger localizados dentro e fora dos limites da área em avaliação, com tendência de estabilização ou encurtamento das plumas de contaminação em médio prazo (5 anos).

As fontes de contaminação primária com potência alta possuem SQI com tendência de se afastar por dezenas de metros ou mais de cem metros da fonte de contaminação primária, em fase dissolvida, ou mesmo em fase livre e em fase vapor, após alguns anos da ocorrência do vazamento. Podem atingir bens a proteger localizados dentro e fora da área em avaliação ou em grandes profundidades (maiores que 100 metros, em fase dissolvida ou livre), com tendência de expansão das plumas de contaminação em médio prazo (5 anos).

A potência da fonte de contaminação primária pode ser estimada utilizando-se resultados de monitoramento das plumas de contaminação geradas a partir delas, e de modelagem matemática.

3.1.4. Classificação como ativa ou inativa

Quando a fonte de contaminação primária continua liberando substâncias para os compartimentos do meio ambiente, ela é classificada como ativa. Isso pode ser observado diretamente, se houver continuidade do vazamento na fonte de contaminação primária ou, indiretamente, se as plumas de contaminação geradas a partir dessa fonte estão em modo estacionário ou se ampliando.

3.2. Caracterização das plumas de contaminação e das fontes de contaminação secundárias

Conforme Seção 1.2, considera-se pluma de contaminação o espaço nos compartimentos do meio ambiente onde existe massa ou concentração da SQI, que pode provocar riscos acima dos níveis aceitáveis aos bens a proteger da área em avaliação ou na sua vizinhança. Por sua vez, uma fonte de contaminação secundária é um compartimento do meio ambiente contaminado por substância liberada de uma fonte de contaminação primária (parte ou totalidade de uma pluma de contaminação), cujo acúmulo da substância é tal que atua como fonte de contaminação para outro compartimento do meio ambiente, tornando-o também contaminado.

Os conceitos de pluma de contaminação e fonte de contaminação secundária muitas vezes se sobrepõem, por representarem diferentes consequências relativas à ocorrência de alterações significativas da qualidade dos compartimentos do meio ambiente. Por exemplo, uma pluma de contaminação em fase livre, pode atuar como fonte de contaminação secundária ao transferir SQI para as águas subterrâneas, para o ar da zona não saturada ou mesmo para o ar ambiente (ambientes abertos ou fechados).

Uma pluma de contaminação em fase residual pode atuar como fonte de contaminação secundária ao transferir SQI para o ar da zona não saturada ou para o ar ambiente (ambientes abertos ou fechados).

A pluma de contaminação em fase dissolvida, pode atuar como fonte de contaminação secundária ao transferir SQI para o ar da zona não saturada ou para o ar ambiente (ambientes fechados ou abertos).

A pluma de contaminação em fase vapor no ar da zona não saturada, pode atuar como fonte de contaminação secundária ao transferir SQI para o ar ambiente (ambientes fechados ou abertos).

O planejamento das investigações para a caracterização das plumas de contaminação (em fase livre, residual, adsorvida, dissolvida e vapor), assim como das fontes de contaminação secundárias, deve ser ter como referência os volumes estimados de cada uma delas, apresentados no MCA 2 (ver Seção 6.4).

Os volumes estimados das plumas de contaminação são porções tridimensionais dos compartimentos do meio ambiente onde se espera encontrar alteração de qualidade, relacionada a um risco potencial para os bens a proteger.

O posicionamento das investigações e de coleta de amostras nesses volumes não segue o mesmo padrão para todos os tipos de pluma de contaminação, pois irá depender de diversos fatores como as características das fontes de contaminação primárias identificadas, características físico-químicas das SQI envolvidas e seu modo de propagação nos compartimentos do meio ambiente. Assim, o design amostral final, seja ele direcionado ou probabilístico, acaba por ser específico para cada tipo de pluma de contaminação a ser caracterizada, e determinado a partir de julgamento do Responsável Técnico durante o planejamento sistemático da Investigação Detalhada.

Ao final dos trabalhos da caracterização das plumas de contaminação, busca-se delimitar tridimensionalmente o seu volume e massa e, quando necessário, entender sua dinâmica de propagação, além de avaliar a possibilidade dessas estarem funcionando como fontes de contaminação secundárias.

Dessa forma, em resumo, no Plano de Amostragem da Investigação Detalhada devem ser definidos os volumes estimados das plumas de contaminação, os designs amostrais definidos, as técnicas de amostragem e análises selecionadas, o número de amostras e a localização em planta e em seção dos pontos de amostragem, além do processo decisório do planejamento sistemático para avançar ou encerrar as investigações, além das soluções em relação às dificuldades que podem ser encontradas para o posicionamento dos pontos de amostragem.

A seguir são apresentadas diretrizes para caracterização do centro de massa da contaminação, plumas de contaminação em fase livre, fase retida, fase dissolvida e fase vapor e das fontes de contaminação secundárias.

3.2.1. Volume de Concentração de Massa (Centro de Massa)

Na Investigação Detalhada deverá ser realizada a caracterização ou o mapeamento do volume onde ocorre a concentração de massa, chamado em alguns contextos de como centro de massa da contaminação. Esse volume deve estar devidamente delimitado em três dimensões, em todas as direções a partir da fonte de contaminação primária.

O centro de massa da contaminação, independentemente das SQI, envolve o volume dos compartimentos do meio ambiente onde se concentra ao menos 80% da massa das SQI, presentes como fase livre, residual, adsorvida, vapor e dissolvida. Isso significa que ele provavelmente supera o volume da fonte de contaminação secundária (comumente referida como “Zona Fonte” na literatura). Para substâncias líquidas e moderadamente solúveis, o centro de massa da contaminação normalmente é chamado de “Zona Fonte de NAPL” (LNAPL – Light, Non Aqueos Phase Liquids ou DNAPL – Dense, Non Aqueos Phase Liquids).

Compreender as características do centro de massa é fundamental para conduzir efetivamente, tanto a caracterização da área em avaliação, quanto para a implementação de medidas de intervenção, como por exemplo, a implementação de técnicas de remediação. A natureza do ambiente hidrogeológico, a composição e forma de liberação das SQI da fonte de contaminação primária e processos subsequentes de transporte e transformação se combinam para determinar como as SQI são distribuídas dentro do centro de massa.

3.2.2. Fase Livre e residual

Conforme apresentado na Seção 1.5, o NAPL pode estar presente como fase livre ou fase residual. A diferença entre as duas fases é a mobilidade. A fase livre é móvel, podendo migrar para dentro de poços de monitoramento. Isso ocorre quando o volume do NAPL em relação ao volume de poros (saturação de NAPL) é suficiente para existir continuidade do produto nos poros. A fase residual é imóvel, não apresenta continuidade, estando retida por forças capilares. Como comentado anteriormente, tanto o volume de NAPL em fase livre como em fase residual, estão inseridos dentro do que denominamos de centro de massa, volume do compartimento do meio ambiente contaminado de grande importância para ser identificado e mapeado durante a Investigação Detalhada.

Para a caracterização de uma pluma de contaminação em fase livre de líquidos imiscíveis menos densos que a água (LNAPL) o seu mapeamento deve considerar então, a sua mobilidade para que seja diferenciada da fase residual, mas ambas devem constar do mapeamento do centro de massa, cujo volume tem mais relevância prática para o planejamento das medidas intervenção.

O mapeamento do LNAPL em fase livre é importante quando existem ações emergenciais em andamento, ou quando identificou-se a hipótese de ela migrar em direção aos bens a proteger, com risco de provocar uma exposição aguda ou gerar um ambiente com risco de explosão. Descartada a possibilidade de risco emergencial, o mapeamento do LNAPL em fase livre é importante para a quantificação dos riscos potenciais e para o dimensionamento de sistemas de remediação.

A fase livre de LNAPL é caracterizada pela possibilidade de ser extraída hidraulicamente, e para tanto, é necessário conhecer a área que ocupa, assim como a distribuição da sua espessura dentro de seus limites.

Um ponto limite de uma pluma de contaminação em fase livre de LNAPL pode ser estimado na metade da distância entre um poço de monitoramento onde foi identificada a presença de LNAPL e outro onde a sua presença não foi identificada. Quanto menor o espaço entre os poços de monitoramento, maior a exatidão da localização do ponto limite.

Dessa forma, os pontos de amostragem para a delimitação da pluma de contaminação em fase livre de LNAPL devem estar posicionados em todas as direções do ponto onde inicialmente tenha sido detectada a sua presença, de maneira a mapear, de forma precisa, seus limites no centro de massa da contaminação, e posteriormente, a jusante dele, caso necessário, considerando o sentido de fluxo das águas subterrâneas.

Destaca-se que o poço de monitoramento deve possuir características específicas para a detecção de fase livre de LNAPL (por exemplo, o poço de monitoramento não deve ser afogado) e sua constatação e espessura devem ser determinadas utilizando equipamento apropriado, ou seja, um medidor de interface água/LNAPL. Deve ser ressaltado que poços de monitoramento instalados com esta finalidade, não devem ser utilizados para o monitoramento das plumas em fase dissolvida, pois não possuem um suporte de amostragem que permite uma avaliação precisa da distribuição vertical da contaminação em fase dissolvida.

Deve-se observar a importância da variação do nível d’água e da mobilidade do NAPL. quando da interpretação das fases livre ou residual existentes no subsolo.

Em relação à pluma de contaminação em fase livre de líquidos imiscíveis mais densos que a água (DNAPL), o comportamento é semelhante, com o grande diferencial da densidade, conforme pode ser verificado na Seção 1.5. Deve ser ressaltado, porém, que a fase residual de DNAPL também pode estar presente na zona não saturada.

O principal fator que vai controlar a migração de DNAPL é a presença de materiais de menor permeabilidade, que pode interromper ou desviar o fluxo do DNAPL. Dois mecanismos podem causar o acúmulo de DNAPL em camadas de menor permeabilidade. O primeiro é que o DNAPL precisa ter pressão suficiente para superar as forças capilares no material de menor permeabilidade (mecanismo de barreira capilar). O segundo é a maior resistência ao fluxo na camada menos permeável. Em meios fraturados, para que o DNAPL consiga penetrar em uma fratura é necessário existir uma pressão suficiente para vencer a pressão capilar na fratura. Essa pressão depende das propriedades do DNAPL (como densidade e tensão interfacial) e da fratura (como o tamanho da abertura).

Portanto, para o mapeamento da fase livre de DNAPL existe a necessidade de que seja avaliada a sua mobilidade, para que seja diferenciada da fase residual. Uma vez que o centro de massa tenha sido identificado e mapeado de forma adequada, o mapeamento da pluma de fase livre de DNAPL pode ser direcionado por meio da interpretação de análises químicas de solo e águas subterrâneas, considerando as concentrações das SQI observadas. Com base nessas informações, podem ser instalados poços de monitoramento com seção filtrante posicionada no topo de camadas litológicas com menor permeabilidade e maior probabilidade de acumular DNAPL que possa ser móvel (fase livre) e consequentemente, também possível de ser extraído por técnicas de bombeamento e tratamento. Recomenda-se que esses poços possuam câmara de sedimentação na sua base de pequena extensão, mas que permita a captura e acúmulo de DNAPL no seu interior e sejam instalados utilizando métodos que evitem a sua transferência para maiores profundidades.

O mapeamento horizontal desta pluma em fase livre de DNAPL deve considerar em linhas gerais, as mesmas recomendações efetuadas para os LNAPL.

Outra forma de constatar a presença de NAPL é aplicar um corante hidrofóbico (“Sudan IV, Oil Red O”), que tem como propriedade alterar a cor do NAPL, em testemunhos de sondagem. Entretanto, a utilização dessa substância não permite diferenciar fase livre de fase residual.

No caso de substâncias orgânicas imiscíveis em fase residual, como por exemplo, óleos lubrificantes usados, os limites da pluma de contaminação em fase residual podem ser definidos utilizando-se a mesma regra utilizada para fase livre, da metade da distância entre um ponto com a presença do material ou produto em testemunhos de sondagens e outro onde esse não foi constatado.

3.2.3. Fase sorvida

A fase sorvida é a massa de contaminante retido nas partículas sólidas, seja por adsorção, absorção, troca catiônica e sorção química (Fetter, 1999).

Para a caracterização de uma pluma de contaminação em fase sorvida, ver conceitos na Seção 1.5, deve ser definido o seu volume e a distribuição espacial das concentrações das SQI dentro de seus limites.

Um ponto limite de uma pluma de contaminação em fase sorvida é definido no local onde a concentração da SQI na amostra coletada do compartimento do meio ambiente (solo, sedimento, rocha ou material antrópico) é igual ao Valor de Intervenção (VI). A localização desse ponto limite é calculada interpolando-se o valor de concentração da SQI obtida em um ponto de amostragem, cujo resultado mostrou concentração acima do VI e outro ponto, onde foi observada concentração abaixo do VI, considerando-se uma distribuição tridimensional.

Para a determinação da distribuição espacial da SQI dentro dos limites horizontal e vertical da pluma de contaminação em fase sorvida pode-se construir linhas de isoconcentração dessas, realizando-se a interpolação dos valores de concentração obtidos em pontos de amostragem localizados dentro e fora dos limites da pluma de contaminação em fase retida. A mesma abordagem é realizada para um design probabilístico.

No caso do Estado de São Paulo são utilizados os VI estabelecidos pela CETESB. Outros estados podem utilizar os Valores de Investigação (que correspondem aos VI) estabelecidos na Resolução CONAMA 420/2009, caso não tenham desenvolvidos seus próprios VI.

Para as SQI ou meios não contemplados nessas relações, poderão ser utilizados os valores definidos na última atualização dos Regional Screening Levels (RSLs), desenvolvidos pela “United States Environmental Protection Agency” (USEPA), ou utilizadas listas de valores orientadores de intervenção produzidas por outras entidades reconhecidas, ou mesmo, utilizar padrões legais aplicáveis (PLA). Também existe a possibilidade de calcular o valor da concentração a ser considerada no ponto limite, utilizando o procedimento de avaliação de risco à saúde humana ou, se for o caso, de avaliação de risco ecológico.

Na definição do valor a ser adotado como limite das plumas de contaminação em fase sorvida, nos compartimentos do meio ambiente, como os solos, sedimentos, rochas ou materiais antrópicos, deverá ser considerado o cenário de exposição existente ou proposto para a área, a saber, agrícola, residencial ou comercial/industrial, ou mesmo ecológico. Nos casos em que não seja possível a caracterização específica de um único cenário, deverá ser adotado o cenário para o qual os valores sejam mais restritivos dentre aqueles propostos no MCA 2.

Dessa forma, os pontos de amostragem para a delimitação da pluma de contaminação em fase sorvida devem estar posicionados no entorno da fonte de contaminação primária, caso ela tenha sido identificada, ou no Volume de Concentração de Massa, estimado na Investigação Confirmatória, e outros, que sejam identificados no desenvolvimento da Investigação Detalhada, que estejam mais afastados da fonte de contaminação primária ou do centro de massa, visando definir os seus limites.

Para o mapeamento da fase sorvida é recomendável a aplicação de uma malha de amostragem regular, com espaçamento adequado ao volume estimado nas hipóteses estabelecidas inicialmente.

3.2.4. Fase dissolvida

Para a caracterização de uma pluma de contaminação em fase dissolvida deve ser definido o seu volume e a distribuição espacial das concentrações das SQI dentro de seus limites.

Um ponto limite de uma pluma de contaminação em fase dissolvida é definido no local onde a concentração da SQI na água subterrânea é igual ao VI. A localização desse ponto limite é calculada, interpolando-se o valor de concentração da SQI obtida em um ponto de amostragem, cujo resultado mostrou concentração acima do VI, e outro ponto, onde foi observada concentração abaixo do VI.

As orientações para definição dos VI ou das concentrações das SQI a serem consideradas para definição dos limites das plumas de contaminação dissolvidas (pontos limite) são as mesmas relacionadas à fase retida, descritas no item anterior, 3.2.2.

Em relação à caracterização da pluma dissolvida, é importante destacar a necessidade de se levar em consideração as características de fluxo e transporte (geologia, hidrogeologia e características das SQI), assim como as decisões que serão tomadas relacionadas aos riscos inaceitáveis ou danos para os bens a proteger ou receptores identificados, além da definição dos pontos de conformidade.

Para a determinação da distribuição espacial da SQI dentro dos limites horizontal e vertical da pluma de contaminação em fase dissolvida, pode-se construir linhas de isoconcentração, realizando-se a interpolação dos valores de concentração obtidos em pontos de amostragem (poços de monitoramento multinível ou outra ferramenta de alta resolução descritos no Capítulo 14) localizados dentro e fora dos limites da pluma de contaminação em fase dissolvida.

Em alguns casos, quando considerado suficiente para embasar a realização da Avaliação de Risco, Elaboração do Plano de Intervenção ou outras etapas do GAC, que se vislumbre, podem ser utilizados como limites horizontais da pluma de contaminação em fase dissolvida o divisor de águas subterrâneas local ou regional (área de recarga) localizado a montante, ou um corpo d’água superficial (área de descarga) localizado a jusante da área em avaliação.

Em alguns casos podem ser utilizados como limites verticais da pluma de contaminação em fase dissolvida camadas com baixa permeabilidade identificadas ou determinadas profundidades estimadas considerando o fluxo horizontal ou vertical (descendente ou ascendente), determinado na área em avaliação e vizinhança.

3.2.5. Fase vapor ou gasosa

Para a caracterização de uma pluma de contaminação em fase vapor na zona não saturada deve ser definido o seu volume e a distribuição espacial das concentrações das SQI dentro de seus limites.

Um ponto limite de uma pluma de contaminação em fase vapor é definido no local onde a concentração da SQI é igual ao VI. A localização desse ponto limite é calculada, interpolando-se o valor de concentração da SQI obtida em um ponto de amostragem, cujo resultado mostrou concentração acima do VI e outro ponto, onde foi observada concentração abaixo do VI.

Enquanto os VI não tiverem sido definidos pelo Órgão Ambiental Gerenciador, o Responsável Técnico deve propor os valores de concentração a serem utilizados no ponto limite, podendo ser utilizada a Planilha de Avaliação de Risco da CETESB (ver Seção 8.5) ou do “VISL Calculator” da USEPA. O Órgão Ambiental Gerenciador deverá avaliar a aplicabilidade do valor proposto.

Para a determinação da distribuição espacial da SQI dentro dos limites horizontal e vertical da pluma de contaminação em fase vapor, pode-se construir linhas de isoconcentração, realizando-se a interpolação dos valores de concentração obtidos em pontos de amostragem (poços de monitoramento de vapor, preferencialmente multinível) localizados dentro e fora dos limites da pluma de contaminação em fase vapor.

Em alguns casos podem ser utilizados como limites horizontais e verticais da pluma de contaminação em fase vapor a presença de materiais impermeáveis como paredes ou rochas impermeáveis.

Em alguns casos podem ser utilizados como limites verticais da pluma de contaminação em fase vapor a presença do nível d’água subterrânea.

No caso da pluma de metano, seus limites horizontais ou verticais podem ser definidos utilizando-se os limites inferiores de inflamabilidade.

3.2.6. Comportamento e dinâmica de propagação, capacidade de atenuação e possibilidade de atuarem como fonte de contaminação secundária

Além da caracterização das plumas de contaminação, durante a etapa de Investigação Detalhada é necessária a determinação da sua dinâmica de propagação ou do seu comportamento, incluindo a determinação da possibilidade dessas estarem atuando como fontes de contaminação secundária.

A dinâmica das plumas em fase livre pode ser estimada por meio da realização de campanhas de monitoramento, mais aplicadas para plumas de LNAPL, com frequência definida em função das características dos materiais constituintes e dos compartimentos do meio ambiente onde estão se propagando ou podem se propagar.

Sobre a contaminação em fase dissolvida é importante determinar a possibilidade de se atingir bens a proteger a jusante, como por exemplo, um corpo d’água superficial ou poços de abastecimento de água. Nesse trabalho a caracterização do centro de massa da pluma é importante, pois ajuda na determinação da sua potência, a partir da qual pode-se derivar a dinâmica de propagação por meio da realização de campanhas de monitoramento, cuja frequência deve ser definida com base nas características das SQI e nas características hidrogeológicas ou por meio de modelagem matemática.

Para a pluma de contaminação em fase vapor, sua dinâmica pode ser estimada por meio de campanhas de monitoramento, as quais algumas vezes envolvem também a determinação de pressões do ar em diferentes ambientes, visando principalmente obter informações sobre a possibilidade de intrusão de vapores em ambientes fechados.

Além da determinação da dinâmica das plumas de fase livre, dissolvida e vapor por meio da interpretação de resultados de diferentes monitoramentos, projeções futuras, ou mesmo simulações de diferentes condições do modelo conceitual da contaminação, podem ser feitas utilizando-se de modelagem matemática. Nesses casos os monitoramentos existentes são importantes para validar e calibrar o modelo matemático.

Para avaliar se há possibilidade das plumas de contaminação estarem atuando como fontes de contaminação secundária são necessárias investigações visando levantar informações sobre os mecanismos de transferência das SQI entre os compartimentos do meio ambiente, para avaliar, por exemplo, se há possibilidade de uma pluma de contaminação dissolvida atingir um corpo d’água superficial ou se há possibilidade de intrusão de vapores em ambientes fechados a partir de um pluma de contaminação em fase retida localizada na zona não saturada.

A investigação detalhada pode prever uma avaliação de processos bio-geoquímicos atuantes sobre as plumas de contaminação, visando verificar a capacidade que o meio tem de atenuar a massa e migração das SQI. Essa abordagem é utilizada geralmente quando se vislumbra a adoção de técnicas de remediação por atenuação natural ou biorremediação.

3.3. Caracterização dos bens a proteger

Para a caracterização de um bem a proteger na etapa de Investigação Detalhada, deve ser definido inicialmente o seu tipo, por exemplo, trabalhador de obras, poço de abastecimento de água, usuário do poço de abastecimento de água ou parte de um aquífero utilizado para abastecimento de água.

Em seguida devem ser definidas as vias de exposição potenciais ou reais (conceitos explicados na Seção 1.2) relativas a cada bem a proteger identificado e determinar ou estimar as concentrações das SQI nessas vias de exposição, junto aos bens a proteger, visando subsidiar a elaboração da etapa de Avaliação de Risco (Capítulo 8).

No caso do trabalhador de obras (bem a proteger: saúde humana), por exemplo, as vias de exposição que normalmente ocorrem são a inalação de vapores e contato dérmico com o solo contaminado ou inalação de vapores e contato dérmico com a água subterrânea contaminada, que podem ocorrer durante a execução de obras que envolvem escavações.

Dessa forma, para o receptor trabalhador de obras, podem ser coletadas amostras de solo (fase retida), ar ambiente, ar do solo ou águas subterrâneas (fase dissolvida) para determinação das concentrações das SQI nos pontos onde esse receptor tem contato com esses compartimentos do meio ambiente.

Com base nos resultados das análises executadas na etapa de Investigação Detalhada coletadas junto ao receptor, pode-se calcular a taxa de ingresso das SQI por via de exposição no bem a proteger, e, consequentemente, calcular os riscos a esse receptor na etapa de Avaliação de Risco.

No caso do poço de abastecimento de água (bem a proteger: patrimônio privado), deve ser avaliado inicialmente se a pluma de contaminação, pode atingi-lo, considerando o sentido de fluxo das águas subterrâneas e os padrões de potabilidade, se as águas do citado poço forem utilizadas para consumo humano.

Considerado possível o atingimento do poço, com possibilidade de ocorrer alteração da qualidade da água acima dos padrões definidos no futuro, será estabelecido que existem riscos potenciais inaceitáveis a esse bem a proteger. Um dano a esse patrimônio privado poderá ser constatado se os resultados das análises químicas das águas coletadas no referido poço ultrapassarem dos padrões de potabilidade definidos.

No caso do usuário do poço de abastecimento de água (bem a proteger: saúde humana), por exemplo, deve ser avaliado inicialmente se a pluma de contaminação pode atingi-lo, considerando o sentido de fluxo das águas subterrâneas e os padrões de potabilidade, se as águas do citado poço forem utilizadas para consumo humano.

Considerado possível o atingimento do poço no futuro e alteração da qualidade da água acima dos padrões definidos, será considerado que há riscos potenciais inaceitáveis à saúde dos usuários do poço de abastecimento de água. Será considerado que houve risco real inaceitável à saúde desses receptores (usuários do poço) se as análises químicas das águas coletadas no referido poço ultrapassarem dos padrões de potabilidade ou comprovada a exposição real.

No caso de um aquífero utilizado para abastecimento de água para consumo humano (bem a proteger: recurso ambiental, natural ou hídrico), por exemplo, deve ser avaliado se a pluma de contaminação dissolvida pode atingir e se propagar nesse aquífero, considerando o sentido de fluxo das águas subterrâneas e os padrões de potabilidade, e se as águas do citado aquífero são utilizadas para consumo humano.

Considerado possível o atingimento de parte do aquífero pela pluma de contaminação, a ponto de elevar as concentrações acima dos padrões definidos, será considerado que há riscos potenciais inaceitáveis a esse bem a proteger. Observada a ultrapassagem dos padrões definidos em uma parte significativa do aquífero, será considerado que ocorreu dano ao bem a proteger recurso ambiental, natural ou hídrico.

Conforme demonstrado nos exemplos, os pontos de amostragem para a caracterização dos bens a proteger devem estar posicionados imediatamente a montante desses e a jusante da fonte de contaminação primária ou secundária, considerando o sentido de fluxo das águas subterrâneas, podendo ser aplicado um design amostral direcionado.

Dessa forma, no Plano de Amostragem da Investigação Detalhada, em resumo, para a obtenção das informações sobre os bens a proteger devem ser definidos os volumes estimados de cada bem a proteger, os designs amostrais definidos, as técnicas de amostragem selecionadas, o número de amostras e a localização em planta e em seção dos pontos de amostragem, o processo decisório para avançar ou encerrar as investigações e as soluções em relação às dificuldades que podem ser encontradas para o posicionamento dos pontos de amostragem.

3.4. Caracterização dos compartimentos do meio ambiente

De maneira integrada com as características das fontes de contaminação primárias e secundárias, das plumas de contaminação e dos bens a proteger, as características dos compartimentos do meio ambiente influenciam na definição dos seus volumes estimados e, consequentemente, na definição da distribuição espacial dos pontos de amostragem.

Nesse sentido, em continuidade às investigações realizadas durante a etapa de Investigação Confirmatória, as seguintes informações devem ser buscadas no planejamento das investigações da etapa de Investigação Detalhada:

    • os tipos de materiais identificados nas zonas não saturada e saturada, como por exemplo, solo, sedimento, rocha (ígnea, sedimentar ou metamórfica) ou material antrópico (aterro ou partes das edificações como piso, paredes e fundações);
    • as camadas dos materiais identificados nas zonas não saturada e saturada, suas respectivas espessuras e capacidades de transmitir ou reter contaminação, em termos de textura e granulometria, considerando diferentes fluídos (água, ar do solo, outros líquidos/produtos);
    • os tipos de porosidade existentes nos materiais das zonas não saturada e saturada, ou seja, porosidade granular, porosidade de fraturas ou porosidade mista;
    • as características do fluxo das águas subterrâneas na zona saturada (ascendente ou descendente em áreas de recarga/descarga, fluxo horizontal em regiões planas), a posição do nível d’água e estimativa do sentido de fluxo, além das possíveis relações com os corpos d’água superficiais;
    • as características dos materiais presentes nas zonas não saturada e saturada como permeabilidade, granulometria, porosidade total e efetiva;
    • a distribuição espacial dos materiais presentes nas zonas não saturada e saturada e estimativa da existência de isotropia/anisotropia e homogenidade/heterogenidade;
    • as características do fluxo das águas e ar na zona não saturada;
    • Estimativa da resistência à perfuração dos materiais presentes nas zonas não saturada e saturada e posição dos materiais mais resistentes ou que apresentem problemas geotécnicos potenciais, que deverão ser considerados, por exemplo, para verificar a viabilidade de aplicação de determinadas técnicas de remediação.
    • Outras informações em função das características específicas do meio físico e das possíveis intervenções a serem realizadas.

No Plano de Amostragem da Investigação Detalhada, os pontos de amostragem utilizados para a caracterização das fontes de contaminação, das plumas de contaminação e dos bens a proteger, também podem ser utilizados para a coleta de amostras visando a determinação das características dos compartimentos do meio ambiente ou podem ser propostos pontos de amostragem dedicados a obtenção dessas informações, obedecendo o design amostral adequado.

No Plano de Amostragem da Investigação Detalhada, de forma a aproveitar as possíveis mobilizações de campo dessa etapa, podem ser planejadas amostragens e análises que visam adiantar as necessidades futuras das etapas de Avaliação de Risco ou mesmo subsidiar a adoção de medidas de intervenção, já vislumbradas para a etapa de Elaboração do Plano de Intervenção.

Esse planejamento pode ocorrer quando existirem fortes evidências de que será necessária continuidade das etapas do GAC, durante ou após a realização da etapa de Investigação Detalhada, como por exemplo, a observação da necessidade de adoção de medidas de remediação por tratamento ou contenção.

Portanto, nesses casos podem ser previstos pontos de amostragem para complementar a caracterização das fontes de contaminação primárias e secundárias, plumas de contaminação (em fase livre, retida, dissolvida ou em vapor) e bens a proteger, assim como a caracterização dos compartimentos do meio ambiente, no nível necessário para o planejamento de medidas de intervenção já vislumbradas, por exemplo.

Dessa forma, no Plano de Amostragem da Investigação Detalhada, em resumo, para a obtenção das informações sobre os compartimentos do meio ambiente devem ser definidos os designs amostrais selecionados, as técnicas de amostragem selecionadas, o número de amostras e a localização em planta e em seção dos pontos de amostragem, o processo decisório para avançar ou encerrar as investigações e as soluções em relação às dificuldades que podem ser encontradas para o posicionamento dos pontos de amostragem.

3.5. Métodos de investigação

A escolha dos métodos de investigação a serem utilizados na Investigação Detalhada depende das características das fontes de contaminação primárias e secundárias, das plumas de contaminação e dos bens a proteger, assim como, de forma integrada, das características dos compartimentos do meio ambiente, identificadas no MCA 2 e atualizada de forma contínua no MCA 3, além das incertezas levantadas sobre esses aspectos. Por exemplo, informações sobre a resistência dos materiais à perfuração, profundidade a ser atingida pela investigação, profundidade do nível d’água subterrânea, além das características das SQI, são fundamentais na escolha dos métodos de investigação.

A escolha dos métodos analíticos a serem empregados na etapa de Investigação Detalhada também dependem desses fatores, especialmente das características das SQI e dos compartimentos do meio ambiente a serem amostrados, além dos limites de quantificação exigidos, que deverão ser inferiores aos respectivos VI.

A seleção dos métodos de investigação também depende das orientações contidas no Plano de Amostragem de Investigação Detalhada, de seu cronograma e dos custos envolvidos.

No Capítulo 14 são descritos os métodos de investigação, normalmente utilizados durante o desenvolvimento das etapas do GAC.

4. Elaboração do plano de infraestrutura e segurança e de controle de qualidade

No plano de infraestrutura e segurança, devem ser definidas a estrutura física necessária para a implementação dos métodos de investigação selecionados, assim como os procedimentos de segurança dos trabalhadores envolvidos nas investigações, das pessoas existentes na área em avaliação ou na sua vizinhança e do meio ambiente.

Qualquer atividade que envolva a perfuração do solo, desde o rompimento da camada de concreto, deve ser precedida da avaliação quanto à existência de infraestruturas subterrâneas, de forma a garantir a segurança dos trabalhos. Ainda, deve-se ater a existência de outras infraestruturas ao redor dos pontos de investigação que possam ser interceptados por trabalhadores, equipamentos e/ou hastes de perfuração, tais como linhas elétricas, gasodutos e outras.

No plano de infraestrutura e segurança devem ser propostas as instalações e métodos necessários para o gerenciamento dos equipamentos a serem utilizados e das amostras, resíduos e efluentes a serem gerados durante as investigações.

Os controles de qualidade da amostra, como cadeia de custódia, uso de preservantes, amostras de branco, holding time e duplicatas são tratados no Capítulo 14.

Outros trabalhos que trazem confiabilidade aos resultados devem ser previstos no Plano de Investigação Detalhada, como, por exemplo, o levantamento topográfico da área, calibração de equipamentos e descontaminação dos equipamentos de campo reutilizáveis.

Também devem ser definidos os equipamentos de proteção individual (EPI) necessários para proteção dos trabalhadores das investigações e demais instalações para tanto, assim como a definição das instalações e procedimentos necessários para a proteção das pessoas localizadas na vizinhança e dos demais bens a proteger identificados no MCA 2 e MCA 3.

5. Elaboração do cronograma

O cronograma da etapa de Investigação Detalhada deve ser definido em razão do plano de amostragem e do plano de infraestrutura e segurança, além dos interesses do Responsável Legal e dos aspectos administrativos e legais envolvidos.

6. Referências

FETTER, C. W. Contaminant Hydrogeology, 2ª Edição. 1999.